Na exortação apostólica, fala o Papa Francisco de uma integração de todos os habitantes da Amazônia para assim consolidar o bem viver, que é a vida dada em primeiro lugar diante dos interesses econômicos e políticos que desfrutam na Amazônia. Deus criou este jardim tão bonito que merece a nossa atenção e louvor. Ora a floresta não poderá ser destruída, mas preservada pelos povos que nela vivem e pelo bem na casa comum. Desta forma impõe-se um grito profético e um árduo trabalho em favor dos mais pobres e de todos os que vivem na floresta. Nesta realidade uma abordagem ecológica torna-se uma abordagem social no sentido de que o clamor da terra é também o clamor dos pobres. Não poderá haver um reducionismo no sentido de quem se preocupa só com o bioma da Amazônia, mas ignore os povos amazônicos.
O Papa Francisco tem presentes que há um clamor que brada aos céus pelos cortes de madeiras, a indústria mineraria nas quais expulsam e vão encurralando os povos indígenas, ribeirinhos e outras famílias priorizando o interesse econômico sobre a vida humana desses povos. A questão é que as madeireiras têm os seus parlamentares e a Amazônia não tem ninguém quem a defenda de modo que os pássaros não tem onde ir, as castanheiras, as plantas estão sendo derrubadas e a vida não é mais a mesma sem a floresta. O Papa Francisco coloca isso porque vê que os indígenas estão saindo de suas florestas que às vezes são derrubadas, para a periferia das cidades, existindo um movimento migratório nas cidades de indígenas. Este é uma realidade está se tornando bem típica em nossa região, pela existência de muitos povos indígenas nas periferias das cidades. Além da desigualdade social em que vivem muitos indígenas nesses lugares, muitas vezes ocorrem a hostilidade para com essas pessoas, a exploração sexual e o tráfico de pessoas, males denunciados de uma forma bastante ampla pelo Papa e pelas nossas conferências episcopais. O clamor social da Amazônia brota das florestas, mas também do interior de suas cidades, nas quais deveremos trabalhar e fomentar a integração social.
O Sínodo falou muito dos desmandos que os povos indígenas estão sofrendo por causa do avanço das madeireiras, dos criadores de gado e outros fatores sociais, econômicos e políticos. Na sua exortação apostólica, o Papa teve presente um dos gritos do sínodo neste sentido de que os territórios dos indígenas estão sendo explorados, as suas águas estão sendo contaminadas, os seus rios poluídos, sabendo que os povos indígenas cuidam da floresta para os seus filhos, dispondo da carne, da pesca, remédios vegetais e árvores frutíferas para eles e para muitas pessoas. Os seus territórios não podem ser roubados, porque há lugar para todas as pessoas e Deus deu a terra e a floresta para todos, não somente para alguns usufruírem. Se no passado havia uma falsa mística amazônica de que o território era um enorme vazio a ser preenchido, como uma riqueza em estado bruto que deveria se aprimorar, uma vastidão selvagem a ser domada, essas visões favoreceram a invasão das pessoas não reconhecendo os direitos dos povos nativos, indígenas ou simplesmente foram ignorados. O fato é que a terra onde esses povos habitam, pertence a eles de modo que os povos indígenas não podem aparecer como povos intrusos. A realidade é que muitos desses povos tiveram os seus ambientes naturais destruídos, não tendo mais o alimento para sobreviver, o estilo de vida e uma cultura que lhes dê a identidade tendo como conseqüência as correntes migratórias para as periferias das cidades.
O Papa Francisco segue neste sentido São Paulo VI que dizia que os povos pobres ficam cada vez mais pobres e os ricos tornam-se cada vez mais ricos (PP, 285). Como Igreja devemos acompanhar essas violações de muitos dos povos indígenas e outros povos para que não haja a expulsão de suas terras, territórios, florestas, rios, mas haja a integração social de todos os povos, vida sobre a morte, como o Senhor Deus deu esta terra para todos. Assim a integração da Igreja é fundamental para que o evangelho de Cristo Jesus atinja a todas as pessoas em vista da conversão pastoral e ecológica.