Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
A visita ad limina apostolorum teve o ponto importante, o encontro dos bispos com o Papa Francisco. Foi o primeiro compromisso da visita dos bispos dos regionais Norte 2 e Norte 3, realizado em Roma, de 27 de Junho a 01 de Julho. O encontro foi muito bonito, onde os bispos estiveram com ele, pelo fato de que todos ficaram admirados pelo diálogo, pela fraternidade do Papa para com todos nós.
O Papa está muito bem, na qual ele passou uma energia muito positiva para cada um dos bispos, e ele estimulou-nos na missão por uma vida marcada pela doação a Jesus Cristo e à Igreja, o amor aos povos indígenas e por todas as pessoas do campo e da cidade, sobretudo, as mais necessitados que requerem a atenção por parte dos pastores da Igreja na Amazônia. O Papa Francisco ama a Amazônia e pede o cuidado com todos os povos. Ele é sem dúvida, um homem de Deus e um homem do povo. Veremos alguns itens importantes, no encontro realizado com o sumo pontífice.
A cordialidade do Papa.
A cordialidade do Papa Francisco foi um ponto a ser ressaltado nesta visita. Ele reservou um tempo especial para ouvir os bispos nos seus desafios, agradecimentos, pedidos e considerações. Ele tratou a todos com alegria e com amor. Ele cordialmente foi ouvindo os bispos dos regionais, para nos dar uma palavra de ânimo, de exortação, de amabilidade como pastor da Igreja Universal. Ele também se colocou num caminho sinodal, de ouvir as pessoas, aludir uma mensagem de esperança e de caridade e pediu que nós também nos coloquemos num caminho sinodal.
O pastoreio.
O Papa Francisco muito ressaltou a necessidade do pastoreio dos bispos, para que estes sejam bons pastores como foi Jesus, sendo ele, o nosso modelo de pastor, de modo que todos dêem a vida assim como o Senhor a deu para cada pessoa na humanidade.
O pastor seja bem encarnado na realidade, ressaltando que ele esteja na frente do rebanho, para conduzi-lo às boas pastagens e o leve para o Senhor, esteja no meio, para que sinta o odor das ovelhas, como batizado, crismado, e ele viva em comunhão com todas as pessoas, e esteja atrás para que ninguém se perca ao longo do caminho, incentivando as ovelhas a irem para frente, unidas em Cristo e com a Igreja.
A formação de leigos e de leigas.
O Papa Francisco insistiu muito junto aos bispos, sobre a formação de leigos e de leigas na Amazônia legal, sendo os protagonistas da missão evangelizadora, por serem eles e elas na frente dos compromissos familiares, comunitários e sociais. Eles e Elas são chamados a coordenar as comunidades, as pastorais, os movimentos, os serviços em vista de uma evangelização que leve as pessoas ao amor a Cristo e à Igreja.
A formação de leigos e de leigas diz também respeito à política melhor que é a arte de amar, da caridade, como disse o Papa Francisco, dentro da visão da Doutrina Social da Igreja. Ele também colocou a importância dos leigos e leigas no mundo através da pastoral da educação, sendo esta também a arte de levar as pessoas à verdade das coisas, em vista de um humanismo humano e solidário. Pela educação as pessoas assumam o pacto educativo global e o compromisso de zelar pela casa comum.
A formação sacerdotal.
Um dos pontos importantes que o papa Francisco chamou a atenção foi o empenho de todos os bispos sobre a formação sacerdotal dos futuros presbíteros em vista da cordialidade e do bom pastoreio na Amazônia, para que cada vez mais ela tenha um rosto amazônico.
Em primeiro lugar ressaltou ele a formação humana, intelectual. É preciso formar pastores que estejam encarnados na realidade atual, vivendo na paz e no amor. Por isso é importante que os jovens chamados à vida sacerdotal sejam humanos, pessoas que tratam bem o povo de Deus, saibam escutá-lo nas suas necessidades, que vivam em comunhão com todas as pessoas, homens e mulheres, mas, sobretudo amem os simples, sejam solidários com os pobres, os mais abandonados. A formação seja também intelectual em vista do serviço e não em vista do poder pelo saber, para dominar os outros, mas para servir e amar a todas as pessoas.
Outro ponto que ele insistiu em relação à formação, esta seja espiritual, que leve as pessoas até Deus e traga Deus para a humanidade. O futuro presbítero e o presbítero atual sejam pessoas de oração, de encontro com Jesus e com os outros. É preciso rezar pelos futuros sacerdotes e pela perseverança dos atuais presbíteros. Ainda que muitas sejam as atividades pastorais e sociais, é fundamental que o futuro presbítero e o atual reservem um tempo de oração, de espiritualidade para estar com Jesus, o fundamento do ministério sacerdotal e assim o ministro sinta-se feliz pelo seu chamado, pela boa atividade que exerce junto às pessoas e pela sua missão.
Outro ponto que o Papa disse foi a formação comunitária. É preciso que o futuro e o atual presbítero vivam em comunhão com o Senhor, com o bispo, os presbíteros da Diocese e com todo o povo de Deus. Todo o presbítero é ordenado para a vida comunitária, pois o cristianismo é comunidade com Jesus e com irmãos e irmãs. O sacerdote assuma atitudes comunitárias, caritativas, evitando a chamada de atenção de alguma pessoa diante dos outros, mas ele o faça, se houver necessidade, em uma forma particular. O fato é que a comunidade é fundamental na vida do presbítero, as suas relações que ele estabelece com todos na comunidade, procurando sempre a inclusão e nunca a exclusão. O presbítero é chamado à comunhão presbiteral, vivendo a missão junto com os outros presbíteros, com o seu bispo e com todo o povo de Deus. A comunhão é sinal de amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.
Um quarto ponto da formação presbiteral é a dimensão apostólica. O futuro e o atual presbítero são chamados a viverem a apostolicidade, tendo a consciência que o Senhor os chamou para uma missão, de evangelizar e de ser evangelizado, de ir a busca da ovelha perdida. O apóstolo de hoje segue a Cristo, sabendo que a missão é dada na Igreja Particular, na Diocese e também em outras partes do país e do mundo. É o próprio Senhor quem enviou os seus discípulos a pregar a evangelho, a palavra da vida e da libertação. A missão exige o desprendimento, a ida para as outras pessoas e povos para anunciar o Reino de Deus, a pessoa de Jesus Cristo, sob a iluminação do Espírito Santo e na unidade com o Pai.
A vivência da Palavra de Deus.
O Papa Francisco também disse aos bispos sobre a importância da palavra de Deus para a vida dos pastores e dos povos da Amazônia legal. A palavra de Deus com a eucaristia, norteou as comunidades eclesiais no passado, também no presente e ela exige a vivência da mesma, levando à conversão de vida para os pastores e para todas as pessoas. Ela é uma luz que dissipa as trevas do erro, da mentira, do autoritarismo, do clericalismo, e faz a todos os irmãos e irmãs em Jesus Cristo, porque ele é o verdadeiro mestre, conduzindo a todos às fontes de águas que jorram para a vida eterna (Jo 4,14). O povo de Deus está sedento por ouvir a palavra de Deus, e na homília, ele quer ouvir uma palavra de esperança e de amor, por receber o Senhor na eucaristia, seja corporalmente ou de uma forma espiritual. Ele insistiu muito junto aos pastores pelo bom testemunho ao evangelho, à palavra de Cristo Jesus na vida cotidiana. Num tempo de polarizações, de radicalismos, a palavra de Deus é luz divina, para que todos vivam bem na realidade onde o pastor está inserido, mas também são muitas as esperanças para que o mundo seja mais humano, solidário pela vivência da palavra de Deus.
Ser audacioso.
O papa Francisco insistiu num ponto fundamental de os bispos serem audaciosos, de fazer sempre mais e melhor, no enfrentamento das dificuldades, nas perseguições, cruzes que os pastores passam, assim como o foi em Jesus Cristo. Ele pediu aos bispos para que todos busquem a ovelha perdida, para a sua inclusão, sendo esta, um jovem, um ancião, uma mulher, uma pessoa necessitada, um pobre, de modo que todos na comunidade sejam pessoas de paz e de amor. Os bispos sejam audaciosos em praticar o bem, aspirem aos altos valores humanos e cristãos que façam o mundo melhor com o bom testemunho de suas vidas para todos.
Ministério petrino e mariano.
Ele colocou a necessidade da integração do ministério petrino, de Pedro, pela ordem, a organização eclesial e também o ministério mariano, de Maria, de que é preciso ser pessoas que servem o povo de Deus, acolhem a todos, vivendo o mandamento da lei do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. É preciso o equilíbrio nem sempre fácil do ministério petrino pela vida ministerial na sua organização e também pelo ministério mariano, pelo carisma, dom do Espírito Santo. É preciso valorizar sempre mais os dons das pessoas na vida comunitária, pela presença da mulher na vida eclesial. Como Maria, o povo de Deus é levado a crescer na fé, na esperança, na caridade para que todas as pessoas sejam bem acolhidas e amadas como o Senhor Jesus Cristo pediu de seus seguidores e seguidoras. Ele reconheceu que é preciso aprofundar mais estes ministérios sobretudo o mariano, de Maria como servidora, seguidora de Jesus e do povo de Deus. A idéia veio do teólogo suíço, o sacerdote Hans Urs von Balthasar, morto em 1988. O papa também pediu para os bispos na missão de trabalharem pela unidade da Igreja em Cristo, para que se superem as divisões, e todos os fieis vivam o momento da graça por uma Igreja sinodal, de vivência como irmãos e irmãs em Jesus Cristo na comunidade, a partir dos sacramentos, sobretudo do batismo, da crisma e da eucaristia, sacramentos da iniciação à vida cristã.
Estes pontos colocaram a importância da visita ad limina apostolorum dos bispos no sentido de buscar a comunhão e a unidade com os apóstolos, São Pedro e São Paulo na atuação em suas dioceses e com o povo de Deus. Os bispos estiveram nas quatro basílicas, São Pedro, São Paulo, São João do Latrão e Santa Maria Maior num espírito de peregrinação dada pela celebração da eucaristia, a profissão de fé no creio apostólico e oração do pai nosso, ave-maria e glória pelo papa e pelo povo de Deus. Os bispos dos regionais Norte 2 e Norte 3 passaram por diversos dicastérios, comissões pontifícias e no sábado, dia 02 muitos bispos estiveram em Assis, para uma peregrinação de paz, de amor, onde ocorreu a celebração da eucaristia na basílica de Santa Maria dos Anjos, e eles fizeram um compromisso com a Igreja da Amazônia, aos pés do túmulo de São Francisco de Assis, na Basílica e na presença do Senhor.
A visita ad limina apostolorum fortaleceu a missão de pastores junto ao Papa Francisco, que é o sucessor de Pedro e junto às Dioceses que o Senhor confiou aos bispos, nós como servos e como pastores do Senhor. Foi muito bonita e expressiva a visita ad limina apostolorum para a grande maioria dos bispos, por ser esta a primeira visita realizada. Ela deu um novo ânimo, uma vontade de trabalhar mais ainda pelo Reino de Deus e pelo povo confiado a nós como pastores. Todos são chamados a viver a Palavra de Deus e a testemunhar o amor do Senhor em nossas vidas, na vida do mundo e um dia na eternidade.