Marabá, 22 de novembro de 2024

Jesus Cristo, o cumpridor das Escrituras

19 de setembro de 2022   .   

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

            Jesus, o enviado do Pai, é o cumpridor das Escrituras. Tudo nele se realizou, o Salvador da humanidade. Para os seus discípulos, como Ressuscitado disse que era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito sobre Ele na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos (cfr. Lc 24, 44). São Lucas também colocou como Verbo Encarnado a ida de Jesus para a sinagoga de Nazaré do qual as pessoas deram o livro do profeta Isaias onde disse que o Espírito do Senhor estava sobre ele, o ungiu para anunciar o evangelho aos pobres, para proclamar a liberdade aos presos, dar a vista aos cegos, para pôr a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor. Ele fechou o livro, deu ao ajudante e sentou-se. Em seguida Jesus disse que naquele dia cumpriu-se aquela palavra das Escrituras que eles tinham acabado de ouvir (cfr. Lc 4, 18-21). O hoje de Deus é dado em Jesus, o cumpridor das Escrituras. Jesus é o realizador das promessas do Antigo Testamento (AT), dando-lhe vida e vigor novos, dos quais exigem de nossa parte, conversão de vida e compromisso de amor. A seguir, dar-se-á, uma visão de como que os padres da Igreja colocaram Jesus Cristo, como o cumpridor das Sagradas Escrituras, o Antigo Testamento, que se cumpriu no Novo Testamento (NT).

            O cumprimento do Antigo Testamento em Jesus Cristo.

            Santo Agostinho, bispo de Hipona, nos séculos IV e V, afirmou a presença do Salvador da humanidade no AT, no ser humano que foi feito à imagem de Deus (cfr. Gn 1,26-27). Deus enviou o seu único Filho (cfr. 1 Jo 4,19) que se fez homem, para a redenção de todos. Em Cristo Jesus se manifestou o Novo Testamento proveniente do Antigo Testamento, sendo nele renovado, pela graça, o ser humano em vista da vida eterna. Ele assumiu a carne humana, fez-se pobre, aquele a quem tudo pertence e por meio de quem tudo foi criado (cfr. Cl 1,16), sofreu a morte na cruz (cfr. Mt 27,50), mas também ele ressuscitou para nunca mais morrer (cfr. Rm 6,9)[1].

            O Verbo de Deus no AT.

            São Justino, padre da Igreja de Roma, século II disse que as palavras de Jesus ao afirmar quem o ouve, ouve aquele que o enviou (cfr. Mt 10,40; cfr. Lc 10,16) apareceram nas palavras do anjo do Senhor ao falar com Moisés da chama de fogo na sarça que ele é aquele que é, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, o Deus de seus pais, que ele era para ele descer e tirar o seu povo da escravidão do Egito (cfr. Ex 3,2; 3,6). As palavras citadas demonstraram que Jesus Cristo era o Filho de Deus, e antes era Verbo que apareceu em formas de fogo, outras em imagens incorpóreas, e, na encarnação foi feito homem por vontade de Deus, por causa do gênero humano, criado pelo Senhor Deus[2].

            O Antigo Testamento se cumpriu no Novo Testamento.

            São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, nos séculos IV e V, afirmou que Cristo deu valor à lei antiga, porque nele se cumpriu as promessas do Antigo Testamento. Ele demonstrou que são da mesma descendência, que tem a mesma origem. A Lei não salva mais após a vinda de Cristo, porque é só em Cristo que há a salvação. No entanto todos aquelas pessoas que viveram fieis à lei, antes de Cristo, se salvarão em unidade com Cristo. Pela presença do Espírito Santo, a nova lei colocou promessas bem mais altas que a antiga lei, de modo que Deus deu a todos os seus seguidores, bens maiores. Ele, em Cristo, prometeu o céu, os bens do alto, a dignidade de serem filhos adotivos do Pai, irmãos e irmãs do Filho Unigênito, participantes da sua glória e do seu reino de modo que o Antigo Testamento se cumpriu no Novo Testamento pela presença de Jesus Cristo, o Filho de Deus na carne e na glória[3].

            Jesus Cristo, a verdade em sua plenitude.

            Santo Ireneu, padre da Igreja de Lião, século III teve presente a tradição apostólica na qual perdurava nos seus tempos. Os apóstolos expuseram a doutrina sobre Deus, demonstrando que nosso Senhor Jesus Cristo é a Verdade em sua plenitude (cfr. Jo 14,6). Santo Irineu afirmou que foi Davi quem predissesse o nascimento do Senhor de uma Virgem (cfr. Is 7, 14) e de sua ressurreição dos mortos. Os apóstolos foram discípulos da Verdade, que é Jesus Cristo a respeito das Sagradas Escrituras[4].

            A realização das profecias.

            Santo Irineu ainda disse que o Verbo é de Deus, e é também verdadeiro homem, Conselheiro maravilhoso, Deus-forte (cfr. Is 9,5), pois ele chamou com a sua ressurreição[5], o ser humano à comunhão divina, para participar da imortalidade e da incorruptibilidade com Deus[6]. Ele foi anunciado por Moisés e pelos profetas, do Deus altíssimo e onipotente, Pai do universo, origem de tudo, que veio à Judéia, gerado por Maria, Jesus, o Ungido de Deus, que revelou a si mesmo como o que foi predito pelos profetas[7].

            A antiguidade do nome de cristãos.

            Eusébio de Cesaréia, bispo na Palestina, no século IV, afirmou que o nome de cristãos era uma prova da antiguidade do cristianismo. Como de fato era dado o nome dos seguidores do Senhor, comprovou que o gênero e o comportamento de vida, segundo os ensinamentos da piedade não eram recentemente inventados por eles. O povo dos hebreus foi responsável pela sua antiguidade e era conhecido, por pessoas eminentes pela piedade onde o Senhor preparou um povo para a vinda do Messias. O bispo da Palestina disse que o próprio Cristo de Deus, foi visto por Abraão (cfr. Gn 18,1), profetizado por Isaac (cfr. Gn 26,2), falou a Israel, Jacó (cfr. Gn 35,1), conversou com Moisés e os posteriores profetas. A religião dos amigos de Deus foi proclamada pela presença de Cristo Jesus juntamente com os seus discípulos na divulgação de sua doutrina e ação pelo mundo afora[8].

            A salvação vem de Cristo pelos justos do AT.

            São Gregório de Nazianzo, bispo de Constantinopla, no século IV, falou que a salvação dos justos do Antigo Testamento derivou de Cristo Jesus. Houve o exemplo dos macabeus que sofreram o martírio antes da paixão de Cristo, por causa da lei dos pais. Para São Gregório de Nazianzo era clara a realidade que nenhuma das pessoas justas alcançou a perfeição antes da vinda do Messias, pois só a alcançaram pela fé em Cristo Jesus. O Logos, Cristo, foi abertamente anunciado e também no seu tempo; mas foi conhecido pelas almas puras, como é claro por muitos que antes foram honrados. Eles deviam ser louvados porque eles viveram conforme a cruz de Cristo dos quais deram a vida[9].

            Jesus é por excelência, a Palavra de Deus revelada a nós e à humanidade. Ele é cumpridor das promessas do AT e assumidas na sua Pessoa pelo NT. Sigamos a Jesus, caminho, verdade e vida (cfr. Jo 14,6) na vida familiar, comunitária, social e um dia na eternidade.

 

[1] Cfr. Santo Agostinho. Primeira Catequese aos não cristãos, XXII, 39-40. Paulus, SP 2013, pgs. 124-128.

[2] Cfr. Justino de Roma. I Apologia, 63, 5-10. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 79.

[3] Cfr. Giovanni Crisostomo, Commento al Vangelo di san Matteo, 16,4-5. In: La teologia dei padri, v. 4, Roma, Città Nuova Editrice, 1982, pgs. 190-191.

[4] Cfr. Irineu de Lião, III, 5,1, São Paulo, Paulus, 1995, pgs. 254-255.

[5] Cfr. Idem, Demonstração da pregação apostólica, 40. São Paulo, Paulus, 2014, pg. 100.

[6] Cfr. Idem, V, 13,3, pg. 551.

[7] Cfr. Idem, Demonstração da pregação apostólica, 40, pg. 100.

[8] Cfr. Eusébio de Cesaréia. História Eclesiástica, I, 4, 4-15. Paulus, SP, 2000, pgs. 44-47.

[9] Cfr. Gregorio di Nazianzo. Discorso in lode dei Macabei, 15,1-2. In: La teologia dei padri, pg. 197.

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