Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
Santo Ambrósio, bispo de Milão, no século IV fez comentários importantes em
relação ao evangelho de São Lucas, onde ele teve presente a apresentação do menino
Jesus no Templo de Jerusalém. Maria e José, os pais adotivos de Jesus levaram-no ao
templo para ser ofertado ao Senhor (cfr. Lc 2,21). Jesus foi a oferta verdadeira, sublime
que dá sentido a todas as ofertas realizadas pelo ser humano. Pela sua vida, morte de
cruz e ressurreição, Ele nos ensinou a oferecer tudo o que somos para nos tornar
também oferendas agradáveis a Deus e à humanidade.
Simeão, o justo, piedoso, o ancião.
Em Jerusalém havia um homem justo, piedoso, esperava a consolação de Israel e
o Espírito Santo lhe havia revelado que não morreria sem ver o Ungido do Senhor (cf.
Lc 2, 25-26). Para Santo Ambrósio a geração do Senhor recebeu um testemunho muito
importante não apenas dos anjos, dos profetas, dos pastores e dos pais, mas também da
parte dos anciãos e dos justos que esperaram a vinda do Salvador 1 .
Toda a idade falou do Senhor.
Para Santo Ambrósio toda a idade anterior falou da vinda do Messias. Os
prodígios que sucederam, foram fundamentais para sustentar a fé; a Virgem gerou, uma
estéril deu à luz, um mudo falou: Isabel profetizou, os magos adoraram, o útero fechado
exultou, a viúva confessou, o justo esperou. Foram muitas as coisas em vista da vinda
do Salvador. O justo, o Simeão que não procurava a graça para si, mas para o povo de
Israel à humanidade, na medida em que ele próprio almejava a libertação dos vínculos
da fragilidade corpórea, esperava com alegria e com amor, ver o Prometido, o Messias.
Ele se tornou bem-aventurado porque viu o Salvador 2 .
Ele o tomou em seus braços (cfr. Lc 2,28).
São Lucas disse que Simeão tomou o menino Jesus em seus braços e disse:
“Agora, deixa ir o teu servo em paz”(cf. Lc 2,29), possui um significado importante
porque na verdade a expressão “ver tudo”, era de fato o Salvador esperado, o Messias
anunciado, mesmo porque ele o tomou em seus braços, sendo não somente esta grande
graça neste mundo, a alegria plena em sua vida de ser humano, mas também viu o
desejo de desprendimento das coisas da realidade para começar a estar para sempre com
Cristo, aludindo, pelo bem realizado, a recompensa da vida eterna 3 .
A despedida.
1 Cfr. Santo Ambrósio. Comentário ao Evangelho de São Lucas. Tradução: Luciano Rouanet Bastos. São
Paulo: Paulus, 2022, pg. 119.
2 Cfr. Idem, pg. 119.
3 Cfr. Ibidem, pg. 119.
O desejo do ancião Simeão, segundo Santo Ambrósio, também era um pedido ao
Senhor da história para a despedida. Movido pelo Espírito, ele veio à Jerusalém, veio ao
templo, esperar o Cristo do Senhor, receber nas mãos o Verbo de Deus, e o abraçou
como uma pessoa que manifestou fé e amor a Cristo e a seu povo. Será então Simeão
despedido para quem viu a vida, não veja a morte 4 .
A profecia dada aos justos.
O bispo de Milão falou de uma profecia dada aos justos através do ancião
Simeão que esperava a vinda do Salvador ao mundo. Uma generosa graça espalhou-se
sobre todas as pessoas, realizada pela geração do Senhor, que se a profecia foi negada
aos incrédulos, no entanto ela não a foi negada para as pessoas justas 5 . Simeão era
considerado uma pessoa justa, profundamente ligada ao Senhor da história. O fato
colocou também o ancião Simeão como profeta de modo que ele profetizou ter visto o
Senhor e ter vindo o Salvador Jesus para a ruína e o soerguimento de muitas pessoas em
Israel (cfr. Lc 2,34), para discernir os merecimentos de justos, de iníquos e assim
perceber o Messias como enviado do Pai, como Juiz verdadeiro, justo a dar a devida
recompensa para os fieis nos suplícios ou prêmios conforme a qualidade das ações
realizadas sobretudo para a vida dos irmãos e das irmãs 6 .
A espada traspassada em Maria.
Ao dirigir-se para a mãe do Filho de Deus, Simeão profetizou que uma espada
traspassará a sua alma (cfr. Lc 2,35). Na verdade, Maria teve uma morte natural, de
modo que foi na alma que esta espada transpassaria a sua vida. Para Santo Ambrósio a
afirmação de Simeão para Maria mostrou que a palavra dirigida a ela, não era em
absoluto ignorante do mistério celeste, porque como diz a Palavra de Deus é viva e
eficaz, mais penetrante que toda espada bem afiada, atingindo também até as divisões
da alma e do espírito, das juntas e das medulas, perscrutando os pensamentos do
coração e os segredos das mentes (cfr. Hb 4,12). Maria sofreria o mistério da dor e da
paixão, morte de seu Filho, Jesus.
O profetismo se realizou em Simeão e depois em Ana.
O ancião Simeão profetizou sobre o menino Jesus em vista da salvação que ele
como Salvador trouxe à humanidade pecadora: Ele também profetizou sobre Maria e
também Ana, que tinha oitenta e quatro anos, viúva, indicando a sua idade um número
importante, sagrado, mas ela era tão respaldada pelos anos de viuvez e pelos costumes
que considerou digna de anunciar que viera o Redentor de toda a humanidade (cfr. Lc
2,36-38) 7 .
4 Cfr. Ibidem, pgs. 119-120.
5 Cfr. Ibidem, pg. 120.
6 Cfr. Ibidem, pg. 120.
7 Cfr. Ibidem, pgs. 120-121.
A apresentação do menino Jesus revelou a divindade e a humanidade de Jesus
porque ele foi acolhido pelo ancião Simeão, a sua profecia, a sua alegria imensa de ver o
Messias e também por Ana, que louvou ao Senhor ao perceber a vinda de Jesus no
Templo. Nós somos chamados a oferecer a nossa vida ao Senhor para que tudo se torne
vida e salvação como o foi a vida de Jesus para nós e para a humanidade.