O mistério da ascensão do Senhor coloca Cristo Jesus na sua glória, à direita do Pai. Na liturgia eucarística, nós professamos esta verdade de fé. Nós somos chamados à vida eterna. Após quarenta dias da ressurreição dentre os mortos, Cristo Jesus voltou ao Pai, Ele que viera do Pai para se encarnar e dar a salvação a nós e ao mundo. Vejamos alguns dados deste mistério em São Leão Magno, que foi Papa (440-461), muito forte nos seus sermões e doutrinas cristãs.
São Leão Magno falou de quarenta dias santificados em vista de nossa instrução a contar com a gloriosa ressurreição de Jesus Cristo, quando o poder divino de Deus Pai reergueu no terceiro dia, o verdadeiro templo de Deus, o Senhor, eliminado pelos judeus. O Cristo Jesus prolongou a sua presença corporal em meio aos seus, para estabelecer normas à fé na sua ressurreição. A sua morte encheu de tristeza os discípulos, por causa do suplício da cruz, do último suspiro e do sepultamento. Soou como uma espécie de delírio, a noticia dita pelas mulheres, que anunciaram que a pedra, segundo os relatos evangélicos tinha sido removida, o sepulcro era vazio e os anjos testemunharam que o Cristo estava vivo. Os discípulos ficaram desconfiados diante destas coisas (Mc 16, 1-14). Assim, segundo Leão Magno, o Espírito de verdade não permitiu que a vacilação, proveniente da fraqueza humana, penetrasse nos discípulos, para dar fundamento à nossa fé, de modo que ouvindo-o e vendo-o, eles nos ensinaram e confirmaram a ressurreição, passando da dúvida à adesão ao Cristo Ressuscitado.
Para o Papa foram essenciais os dias que decorreram entre a ressurreição e ascensão do Senhor, onde foram revelados profundos mistérios, eliminou-se o medo da morte cruel e manifestou-se a imortalidade não só da alma, mas também do corpo. Ao apóstolo Pedro, depois de ser-lhe entregue as chaves do reino, foi confirmado o cuidado das ovelhas do Senhor (Jo 21, 15-19). Aos dois discípulos que voltavam tristes para a sua casa, Ele iluminou os seus corações pela chama da fé e tornaram-se ardentes pelo Senhor, quando Ele lhes explicou as Escrituras e os seus olhos se abriram na fração do pão (Lc 24,13-35).
São Leão Magno colocou também o significado do dom da paz que o Ressuscitado transmitiu aos discípulos, para animá-los na caminhada. Apresentou-lhes as cicatrizes, as provas da crucificação nas mãos e nos pés, convidando-os a tocá-las de uma forma cuidadosa (Lc 24, 36-40). O intuito era a cura das feridas daqueles corações descrentes, conservando os sinais dos cravos e da lança, para que acreditassem não pela dúvida, mas com firme conhecimento, que Ele haveria de partilhar o trono de Deus Pai, a natureza que estava no sepulcro.
Foram importantes os dias entre a ressurreição e a ascensão do Senhor para o reconhecimento de que Jesus Cristo verdadeiramente ressuscitou dos mortos, como havia nascido, sofrido e morrido. Assim o Senhor Jesus quis dar aos apóstolos, mesmo com o temor da morte da cruz e com a fé oscilante na ressurreição, o fortalecimento pela sua subida aos céus, que superada a tristeza, os seus corações se encheram de grande alegria (Lc 24,52). Porém o inefável júbilo era elevar-se na presença da santa multidão, uma natureza humana acima de todas as criaturas celestes, angélicas e subir mais alto que os arcanjos de modo que a ascensão de Cristo Jesus foi atingida quando se assentou junto ao eterno Pai, associando ao trono de glória, a natureza unida ao Filho.
Para São Leão Magno, a ascensão do Senhor, é a nossa exaltação e de modo que onde precedeu a glória da cabeça, é atraída também a esperança do corpo, que somos todos nós. Exultemos alegres, e piedosa ação de graças, de modo que o mistério da ascensão do Senhor confirma a nossa vida como possuidores do paraíso, de vida eterna, penetramos com Cristo no mais alto dos céus, obtendo pela graça de Cristo, muito mais que perdêramos por inveja do diabo no inicio da criação, pois pela expulsão da felicidade da habitação primitiva, o Filho de Deus incorporou a si mesmo, doando-nos os bens dele, estando à direita do Pai para sempre e à glória do Deus Uno e Trino.
Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA