Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
Cristo aponta para a Amazônia, dizia São Paulo VI. A Amazônia é a atenção do Brasil e de muitas nações no mundo, devido as suas riquezas, as águas, os povos, as florestas. As suas dimensões são enormes de modo a atrair a vista de milhares de pessoas. É uma região rica de biodiversidade e de suas culturas; ela é de uma vida plena e íntegra, que canta a vida e também ao seu Criador[1]. No entanto, a vida na Amazônia recebe ameaças pela destruição, exploração ambiental, violação dos direitos humanos elementares[2] e, sobretudo alguns povos do campo, das cidades e das florestas sofrem a realidade da fome. Jesus nos ensina para dar de comer a quem passa por necessidade de comida (Mt 14,16).
Os Estados da região amazônica.
São ricos de povos, pessoas, minérios, de alumínio, cobre, entre outros produtos minerais, sendo estes objetos de importação interna e exportação, para outros países. A Igreja está presente com o trabalho da evangelização das pessoas, dos povos originais, levando a Palavra de Deus, formando comunidades e a realização dos sacramentos. Para o enfrentamento da fome têm um trabalho importante junto às periferias com as cestas básicas, outras ações caritativas e reivindicando políticas públicas.
Em relação à questão social é preciso que as empresas invistam mais nos povos da Amazônia. Não se podem negar iniciativas por parte das empresas com as comunidades locais, mas o fato é que as riquezas naturais são tiradas, e estas não se repõem pela vida natural de modo que é preciso valorizar mais as populações, com indústrias, empregos, sobretudo para os jovens. Os jovens são chamados a permanecer na realidade do campo, se houver também uma valorização da agricultura. Desta forma a questão da fome seria mais amenizada quando o lucro, e o dinheiro não falassem mais alto que a valorização do ser humano. Muitas pessoas vêm de outros estados em busca de emprego na região dos Estados do Norte, e muitas vezes não o encontram tornando-se difícil a situação de vida para estas pessoas. A comunidade eclesial é chamada a acolher as pessoas para integrá-las nas pastorais, nos movimentos e nos serviços e na vida comunitária.
A fome presente.
A realidade da fome está presente nos povos do campo e das cidades. As famílias não conseguem os seus sustentos, e não tendo subsídios ou mesmo são convidadas a saírem de suas terras de modo que elas vão para o meio urbano, formando cidades com bairros grandes. Muitas destas famílias são obrigadas a morar perto de rios que no período das chuvas inundam as suas casas. É preciso a existência de políticas públicas para as famílias que moram perto dos rios, estão nas periferias das cidades para que a fome seja superada pela partilha, como nos fala a palavra de Deus na multiplicação dos pães. Jesus multiplicou os pães, salvando a situação daquela multidão faminta e não a mandando ir para as localidades, vilarejos a procurar comida (Mt 14,13-19).
O reconhecimento de uma política pública.
Em nossa região, o sul do Pará, mas também na Amazônia, percebe-se a importância da agricultura familiar como forma de ajudar as pessoas a superar a fome e ela está ligada às escolas. O texto-base tem presente uma política pública colocando o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) como um exemplo de políticas públicas exitosas no combate à fome e à insegurança alimentar no Brasil. O programa garante o direito à merenda escolar, condições nutricionais e de saúde para cerca de quarenta milhões de estudantes em todo o País. Outro dado importante desta política pública é que a grande maioria de gêneros alimentícios é adquirida da agricultura familiar, assentamentos da reforma agrária e comunidades tradicionais, possibilitando desta forma uma alimentação saudável com os produtos provenientes do agro ecologia para as escolas do campo e da cidade. A agricultura familiar está bem presente na região amazônica, de modo que ela ajuda a combater a fome neste imenso universo da vida dos povos amazônicos.
A migração na Amazônia e a realidade da fome.
A Palavra de Jesus pede a todos nós que sejamos pessoas acolhedoras dos migrantes para que a realidade da fome seja superada. O fato é que a Amazônia é uma das regiões com maior mobilidade interna e internacional na América Latina. Diversas são as causas sociopolíticas, de perseguição atraídos por projetos políticos, mega-projetos que atraem trabalhadores, mas que expulsam os habitantes dos territórios afetados. Fica claro também que a questão da migração não é bem assistida devido à falta de serviços básicos dos quais os migrantes necessitam. As pessoas perambulam sem comida e sem alojamentos nos centros urbanos[3]. Muitas vezes a Igreja e mesmo o poder municipal assistem aos migrantes com casas de acolhida, dando comida e assistência médica. Este fenômeno da migração atinge também as famílias porque quando o pai necessita partir para lugares distantes em busca de trabalho e de condições de vida, deixa a mulher e as crianças crescerem sem a figura paterna. A Igreja e a sociedade são convidadas a acolher os migrantes que vem de longe em busca de vida digna de modo que amenize a problemática da fome.
Os povos indígenas, guardiões da floresta da Amazônia.
Os povos indígenas são os guardiões da floresta amazônica. Graças ao Criador, à consciência sempre mais consistente à ecologia integral e aos povos originais, a floresta continua de pé. O Papa Francisco insiste na defesa dos povos indígenas para que os seus direitos sejam respeitados. Ele afirmou em uma de suas mensagens que o fogo que vai devastando a Amazônia não é do Evangelho. Ele disse que o fogo de Deus é o calor que atrai e congrega na unidade. Ele se alimenta com a partilha e não com os lucros[4]
O fato é que as suas terras são cobiçadas por interesses econômicos, políticos devido as suas florestas, árvores, nascentes, minérios, o que faz com que as suas lideranças tenham as suas vidas expostas, ameaçadas e mortas, por defenderem os seus povos e as florestas. Muitos destes povos têm a sua sobrevivência saudável, com mandioca, milho, arroz, castanhas, e outros alimentos. Mas também existem povos indígenas que passam necessidades alimentares. No tempo da pandemia alguns dos povos indígenas receberam ajudas provenientes de diversos segmentos da sociedade. A Igreja Católica, o CIMI, a FUNAI e outras entidades sociais ajudaram e ainda ajudam com alimentos devido à fome de muitas pessoas. É muito importante a defesa dos povos indígenas, e estimulá-los as suas vidas nas florestas com a plantação de sementes básicas para uma vida digna deles em suas florestas, rios, moradias e bem estar.
A Campanha da Fraternidade impulsiona as comunidades para uma vida de fraternidade neste tempo da Quaresma para que as pessoas que passam fome sejam assistidas, ajudadas com os alimentos e com políticas públicas. O Papa Francisco falou que o sonho das pessoas é de uma Amazônia que integre e promova os seus habitantes em vista do bem-viver[5]. O Senhor nos ajude nesta missão bonita de integrarmo-nos à realidade amazônica, vivendo uma Igreja amazônica para que assim os povos sejam protagonistas da evangelização e da vivência da palavra de Deus, do Mestre em relação à fome: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).
[1] Cfr. Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia Integral. Instrumentum Laboris, 11. Città Del Vaticano, Libreria Editrice Vaticana, 2019.
[2] Cfr. Idem, 14.
[3] Cfr. Idem, n. 66.
[4] Cfr. https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/10/07/Papa Francisco pede respeito aos povos indígenas da Amazônia | Natureza | G1 (globo.com).
[5] Cfr.https://www.vatican.va/“Querida Amazonia”: Exortação Apostólica pós-sinodal ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade (2 de fevereiro de 2020) | Francisco (vatican.va), n. 08.