Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
São Tomé, um dos discípulos de Jesus teve a graça da aparição do Senhor Ressuscitado dentre os mortos em sua vida. São João (Jo 20, 24-29) colocou este fato para a vida dos apóstolos e também para as gerações posteriores no sentido da fé em Jesus Cristo que ressuscitou dos mortos e à evangelização dos povos. É importante uma análise que São Cirilo de Alexandria, bispo do século V fez em relação a esse apóstolo do Senhor, a graça recebida, sua fé no Ressuscitado.
Tomé não admitiu o testemunho dos apóstolos.
Este apóstolo exigiu provas da ressurreição de Jesus, porque ele não admitiu o testemunho dos apóstolos que lhe disseram que tinham visto o Senhor Ressuscitado (cf. Jo 20,24-25). Talvez, segundo São Cirilo ele teria pensado que estaria privado da aparição de Jesus em sua vida[1]. Sem dúvida ele tinha consciência que o Senhor é vida por natureza, capaz de vencer o pecado e a morte através de sua morte e ressurreição[2]. Mas Tomé não se tornou um incrédulo, mas uma pessoa desejosa de ver o Senhor ressuscitado dentre os mortos tendo presente as palavras de Jesus: “Um pouco de tempo e não me vereis; e outra vez um pouco de tempo e me vereis, e o vosso coração se alegrará” (Jo 16,16-17,22)[3].
Providência divina.
Para São Cirilo, a incredulidade de Tomé foi momentânea, sendo também um singular desígnio da providencia de Deus, para que todas as gerações posteriores, acreditassem em Jesus baseando-se sobre o seu testemunho de fé que também vinha dos apóstolos, pois aquele corpo que permaneceu junto à cruz, passou pela morte e ele ressuscitou pelo poder do Pai[4]. Assim a ressurreição do Filho veio pelo Pai.
O bispo de Alexandria afirmou que a incredulidade passageira de Tomé ensinou aos seguidores do Senhor que o mistério da ressurreição de Jesus cumpriu-se no corpo humano e em Cristo, como primícia do gênero humano, não se tratando de um fantasma ou de uma sombra, ou de um corpo espiritual diferente da carne humana[5]. Tomé exigiu provas com o fim de acreditar na ressurreição de Jesus nas impressões dos pregos, isto é das feridas feitas na carne, para que com os outros apóstolos percebesse que o Senhor ressuscitou segundo a carne[6].
A aparição para o apóstolo Tomé.
Jesus apareceu, após oitos dias de improviso junto aos apóstolos apresentado-se da maneira particular ao apóstolo Tomé, assim como tinha ocorrido na semana anterior. No entanto era preciso dar um remédio para curar a incredulidade, segundo São Cirilo para quem tinha necessidade e se encontrava com uma fé mais débil. Ele desejou para todos a paz que vem dele próprio, o Senhor. Oito dias depois possuiu o significado da reunião dos discípulos, estando unidos ao redor do Senhor e das pessoas, porque Cristo ressuscitado dentre os mortos manifestou-se no tempo da assembléia, após oito dias que já era o domingo[7]. O fato era que a comunidade primitiva reunia-se no oitavo dia, para a celebração da ressurreição de Jesus, aparecendo de um modo invisível como Deus e em modo visível com o corpo[8] As pessoas se aproximavam da eucaristia porque elas acreditavam em Jesus que ressuscitou dos mortos, e ao receber o corpo do Senhor era uma atestação da sua ressurreição, cumprindo-se nele o mistério da redenção[9]. O Ressuscitado, segundo São Cirilo mostrou a Tomé as impressões dos pregos, para que as pessoas de todos os tempos acreditassem que Ele cumpriu o mistério da ressurreição, não de um corpo de um homem qualquer, mas do seu corpo que sofreu a morte e por isso ele ressuscitou dos mortos[10].
A resposta de Tomé: Meu Senhor e meu Deus (Jo 202,28).
São Cirilo disse que Tomé respondeu de uma forma veloz à confissão da aparição do Jesus ressuscitado, ele que antes foi lento em acreditar nas verdades divinas e humanas da ressurreição de Jesus, passando-se oito dias pelos quais o Senhor superou nele os obstáculos da incredulidade, mostrando-lhes as marcar dos pregos e do seu lado. Ainda que para os apóstolos, o Senhor ressuscitado dentre os mortos era-lhes perceptível, no entanto, pairava nas suas mentes dúvidas sobre a ressurreição de Jesus. Por isso o Senhor Jesus Cristo mostrou a Tomé o seu lado e fez ver as feridas infringidas na carne, dando a todos uma prova certa de sua morte e de sua ressurreição[11].
Diante das marcas apresentadas pelo Cristo ressuscitado, Tomé fez a sua confissão de fé, dizendo: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28)[12]. Deus é por natureza Senhor do Universo e é também Deus, por natureza, porque ele governa o universo e resplandece a glória do seu domínio[13] . Ele disse que aquela confissão afirmou que Jesus é o Salvador e assim ele acreditou que Ele era Senhor e Deus, mas pela encarnação, Ele se fez ser humano[14]. Ele confessou pela sua fé o único, o mesmo Deus e Senhor com a carne, o Emanuel, Deus conosco (cf. Mt 1,23), pois Ele é único como Senhor Jesus Cristo, segundo as Escrituras[15].
Bem-aventurados os que crerem sem ter visto (Jo 20,29).
Segundo São Cirilo o Senhor desejou através da resposta dada a Tomé, levar as pessoas humanas à salvação. O Senhor quis das pessoas atitudes de fé para que acreditassem na ressurreição da carne pelo seu corpo glorioso, superando assim todo o pretexto da incredulidade[16]. Mas Jesus desejou através da afirmação das pessoas que acreditariam nele sem ter visto, assegurar-lhe o mistério da ressurreição da carne, para que houvesse a superação de incredulidade pelos argumentos do apóstolo Tomé. Assim foram todas as gerações até o momento presente felizes por acreditarem no Senhor ressuscitado, mesmo sem tê-lo visto. Todos nós somos dignos de admiração por parte do Senhor Jesus Ressuscitado dos mortos[17]. Se tudo é perceptível pelos olhos, no entanto quem aceita a verdade do Senhor ressuscitado sem ter visto e acredita na veracidade das palavras que ele disse o Mestre Jesus, honra com maior fé Aquele que as disse[18]. Desta forma chama credíveis as palavras dos santos apóstolos, os quais foram testemunhas oculares da Palavra, Jesus Cristo e a eles obedeçamos para obter a vida divina e um dia habitar nas demoras superiores, eternas[19] .
O Apóstolo São Tomé exigiu provas para acreditar em Jesus Ressuscitado dos mortos. Estas provas lhes foram dadas por Jesus. No entanto as gerações posteriores não viram o Ressuscitado de modo que são felizes por acreditarem em Jesus pela sua Palavra de salvação, e pelas obras de caridade em favor das pessoas mais necessitadas, pobres. Nós somos chamados a viver a ressurreição de Jesus pela fé e pelas obras caritativas.
[1] Cfr. Cirillo di Alessandria. Commento al Vangelo di Giovanni/3. (Libri IX-XII)). Traduzione e Indici di Luigi Leone. Roma: Città nuova editrice, 1994, pg. 495.
[2] Cfr. Idem, pg. 495.
[3] Cfr. Ibidem, pg. 495.
[4] Cfr. Ibidem, pg. 495
[5] Cfr. Ibidem, pg. 496.
[6] Cfr. Ibidem, pg. 496.
[7] Cfr. Ibidem, 497.
[8] Cfr. Ibidem, pg. 497.
[9] Cfr. Ibidem, pg. 498.
[10] Cfr. Ibidem, pg. 501.
[11] Cfr. Ibidem, pg. 502.
[12] Cfr. Ibidem, pg. 503.
[13] Cfr. Ibidem, pgs. 503-504.
[14] Cfr. Ibidem, pg. 504.
[15] Cfr. Ibidem, pg. 504.
[16] Cfr. Ibidem, pg. 505.
[17] Cfr. Ibidem, pg. 505.
[18] Cfr. Ibidem, pgs. 505-506.
[19] Cfr. Ibidem, pg. 506.
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