Marabá, 10 de dezembro de 2024

A importância da medicina em tempos de pandemia segundo os padres da Igreja

01 de fevereiro de 2021   .   

A importância da medicina em tempos de pandemia segundo os padres da Igreja

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA

            Nós estamos num tempo de pandemia que atinge milhões de pessoas, seja pelo vírus covid 19, seja pelas mortes. Nós não podemos ser negacionistas, mas nós somos chamados a seguir as normas sanitárias para assim evitar o contágio do próprio vírus. Nós devemos ser solidários com as regiões mais carentes com os meios para superar a pandemia e estimular as pessoas para que recebam a vacina ou as vacinas porque essas estão chegando aos poucos de modo que nós damos graças a Deus e à ciência, para sermos vacinados e assim ajudar na convivência social com maior tranqüilidade. Veremos a seguir a visão da medicina em alguns padres da Igreja, escritores, teólogos dos primeiros séculos do cristianismo, sendo ela material e espiritual.

  1. O médico, Senhor Deus.

Teófilo, de Antioquia, Bispo no século II afirmou que o Senhor é o verdadeiro médico. Ele afirmou que a pessoa que não quer o conhecimento de Deus, tem a cegueira da mente e a dureza do coração. Se, no entanto a pessoa deseja ser curada, deve confiar ao médico, que Ele fará a cirurgia dos olhos da mente da pessoa e do coração. Este médico é Deus, que por meio do Verbo sara e vivifica[1].

  1. A saúde.

Tertuliano, norte da África, padre dos séculos II e III afirmou o significado da saúde das pessoas, onde essas deveriam procurar nas Igrejas apostólicas onde os fieis se encontram para rezar e louvar a Deus. É lá que se lêem as cartas autênticas escritas pelos apóstolos, onde se encontram o eco de suas vozes e a vida de cada um dos apóstolos. A Igreja de Roma é a bem-aventurada, porque foram os apóstolos a derramar nela com o seu sangue, a doutrina fundamental para conduzir outras igrejas. Foi a Igreja de Pedro e de Paulo que derramaram o seu sangue pelo Senhor. Naquela Igreja se professa o credo apostólico na fé de Deus Uno e Trino, onde se batiza em nome da Santíssima trindade e é nutrida pela eucaristia[2].

  1. A utilidade da medicina.

Orígenes falou da utilidade da medicina, necessária ao gênero humano em vista das terapias. Neste sentido à ciência médica, são varias as escolas entre os gregos e também entre os povos, aqueles que se dedicaram à esta ciência[3]. É preciso valorizar a medicina em vista da cura das doenças nas pessoas e nos povos, como graça de Deus e como responsabilidade humana.

  1. A utilidade e os limites da medicina.

São Basílio, o grande, bispo de Cesaréia, século IV, falou a respeito da medicina como um serviço importante dado ao ser humano. Todos os serviços e as atividades foram dados por Deus, para preencher as lacunas da natureza. Quando o nosso corpo está doente, aflito das doenças, seja por diversos motivos sofre por causa de uma falta no corpo, Deus Criador da nossa existência, nos concedeu como demonstração daquela sua medicina a curar as almas, a ciência médica, graças a qual se redimensiona o supérfluo e o acrescentado, ou aquilo que está em medida muito reduzida. Se o ser humano estivesse no paraíso talvez não houvesse a necessidade da imunização das doenças, mas quando o ser humano pecou, ouviu do Senhor que era com o suor do seu rosto que deveria procurar o pão (cfr. Gn 3,19), tendo empregado muito cansaço para cultivar a terra, Deus mesmo favoreceu em nós a inteligência e a aprendizagem daquela arte. Como a morte entrou por causa do pecado humano, foi-nos ofertada com a ajuda de Deus a medicina, para que em certa medida, os doentes pudessem sarar. Não é por nada que germinaram da terra as ervas destinadas a curar as doenças, que certamente foram suscitadas pela vontade do Criador e acalmassem as nossas doenças. O ser humano deve servir-se da medicina quando há a necessidade para assim praticar o uso dos meios que essa oferece com o fim de declarar a glória de Deus, propor um exemplo de como cura-se a alma[4].

            Ainda em São Basílio, colocou que Deus é origem do bem, do amor, e não da doença. Deus elimina o mal, a doença pela medicina, pelos meios que o ser humano usa para o bem das pessoas[5].

  1. A medicina da fé.

 São João Crisóstomo, Bispo de Constantinopla, séculos IV e V, afirmou a necessidade de confiar na medicina da fé, a mais eficaz medicina para as almas. O que se obterá, através da fé? O Bispo respondeu que nós ao recebermos os benefícios de Deus, nos tornamos melhores, de modo que não duvidemos de mais nada e encontraremos a paz e o amor. Como são as coisas de Deus, devemos ter respeito e acreditar nelas[6].

            São João Crisóstomo colocou a situação da alegria e da dor como medicina da alma. Deus governa o universo inteiro com a força, com a graça, com a misericórdia, com amor. Como as estações se sucedem, o dia à noite, ora somos na dor, ora na alegria, ora somos doentes, ora sãos. Não devemos nos surpreender se as vezes caímos na dor, na doença, e é claro na saúde, porque isto faz parte da natureza humana. Não é possível que alguém fique sempre na dor, na doença, porque a natureza não poderia resistir. É preciso viver bem seja na dor, seja na alegria correspondendo sempre ao mandamento do Senhor, pois Ele sempre nos consola em todas as nossas aflições (cfr. 2 Cor 1,4)[7].     Nós buscamos a vida sobre a morte. O Senhor concedeu os meios para a superação dos males que atingem à natureza humana. A ciência, a medicina, a vacina nos ajudem para viver melhor no amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.

[1] Cfr. Teofilo d´Antioquia, Ad Autolico, 1, 5-7. In: La teologia dei padri, v. 1. Città Nuova Editrice, Roma, 1982,  pg. 68.

[2] Cfr. Tertulliano, La prescrizione contro gli eretici, 36. In: dem, v. IV,  pg. 44.

[3] Cfr. Origene, Contro Celso, 3,12-13. Idem, pg. 44.

[4] Cfr. Basilio Il Grande, Regole lunghe, 55,1-5. V. 1, pgs. 273-274.

[5] Cfr. Idem, Omelia ‘Dio non è l´autore del male’, 2-3, 5. In: Idem, pg. 343.

[6] Cfr. Giovanni Crisostomo, Omelie sulla prima lettera a Timoteo, 1,2-3. In: Idem, v. 2, pg. 178.

[7] Cfr. Idem, Commento al Vangelo di san Matteo, 53, 3-4, In: Idem, v. 1, pgs. 266-267.

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