Marabá, 18 de abril de 2024

A importância da oração em Tertuliano

27 de agosto de 2021   .   

Foto: freepik

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Tertuliano, padre da Igreja, teólogo dos séculos II e III, procedente do Norte da África, elaborou uma obra importante, intitulada: De Oratione, composta nos anos 198-200 e ele endereçou-a aos catecúmenos[1]. Foi um dos primeiros padres que fez um comentário a respeito do Pai nosso. Ele pôs em destaque a absoluta novidade da oração cristã, diante de outras orações, porque, foi ensinada por Jesus Cristo, sendo a oferenda da nova aliança que faz de nós os perfeitos adoradores e os verdadeiros sacerdotes do Senhor Deus Uno e Trino[2]. É importante fazer uma análise desta obra que muito influenciou os padres da Igreja, nas suas elaborações posteriores sobre a oração do Pai nosso.

            A nova relação com o Pai.

            Tertuliano afirmou que Jesus Cristo, iluminado pelo Espírito de Deus revelou aos discípulos, no Novo Testamento, uma nova forma de pôr-se em relação com o Pai. É preciso dizer que nesta espécie o vinho novo fosse armazenado em odres novos e que o tecido novo fosse costurado ao vestido novo (cfr. Mt 9, 16-17)[3].

            A graça de Deus pela difusão da boa noticia renovou as pessoas humanas e as coisas, contidas nas palavras do Senhor Jesus no Evangelho através da oração, visando à eliminação na raiz de todo sinal de pecado, de divisão. Na iluminação do Espírito Santo e na Palavra de Deus, o Nosso Senhor Jesus estabeleceu uma oração importante a qual é percebida em três partes: em espírito, pois só Ele é todo poderoso; na palavra expressa e na razão com a qual se alegra ao louvar a Deus pela oração dita por Jesus[4].

            A oração de João Batista em vista do Messias.

            Tertuliano teve presente na sua obra, a oração ensinada por São João Batista, o precursor do Messias, Jesus Cristo. Ele também ensinava aos seus discípulos maneiras para voltar-se para Deus, em oração. No entanto, a ação de João era aludida em vista do Salvador Jesus Cristo, para que ele crescesse e ele diminuísse (cfr. Jo 3,30), de modo que toda a obra do precursor passasse com o mesmo espírito ao Senhor Jesus. Desta forma não permaneceu algum traço das palavras com as quais João ensinou a rezar porque a importância era a oração do Messias, do Salvador para toda a humanidade[5].

            Compêndio do Evangelho.

            O padre africano afirmou que a oração do Pai nosso ensinada por Jesus Cristo é o compêndio de todo o Evangelho, espécie de resumo, de programa de vida para toda a pessoa que segue e ama Jesus Cristo e à sua Igreja. Através da oração, Jesus colocou a importância à pessoa humana, o crescimento da fé, da esperança e da caridade para Aquele que escuta e vê em toda a parte as ações das mesmas. Ele também ensinou que a aproximação de Deus é dada pela modéstia, humildade, amor, com uma profissão de palavras, para adorar a Deus e seja dado o respeito ao ser humano, e, este assuma o compromisso da conversão de vida[6].

            Pai que estás nos céus (cfr. Mt 6,9; Lc 11,2)

            Tertuliano afirmou que o ser humano invoca a Deus e o faz pela oração. O Senhor Jesus revelou por diversas vezes o Pai como Deus, na qual ele também prescreveu que não se chamasse ninguém na terra de pai, a não ser Aquele que está nos céus (cfr. Mt 22,9). O fato é que com a nomeação de Pai, nomeamos também Deus que é uma imploração de piedade e de poder[7].

            Na invocação do Pai, invoca-se também o Filho porque ele disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). Tertuliano afirmou que também a Mãe Igreja é reconhecida no Pai e no Filho, porque quando ela se encontra para rezar o Pai nosso, está em comunhão com o Pai e com o Filho[8].

            Revelação de Deus Pai.

            Jesus Cristo, pela oração revelou a todos o nome de Deus Pai, porque até então não tinha sido revelado a ninguém. Com Moisés revelou-se outro nome de Deus: “Eu sou Aquele que sou” (Ex 3,13). No entanto com a vinda do Filho ao mundo foi revelado o nome de Deus Pai a toda a humanidade, na qual Jesus falou: “Pai, glorifica o teu nome” e de uma forma aberta foi dito: “Eu o manifestei o teu nome aos homens” (Jo 5, 43; 12,28; 17,6)[9].

            Convém que Deus seja bendito em todo o lugar e tempo para a memória devida perseverante de seus benefícios da parte de todo o ser humano, e também porque este necessita de bênçãos. Como não pode ser santo e santificado por si mesmo o nome de Deus, do momento que torna santos os outros seres humanos pelo seu poder vivificador?![10].

            Seja santificado o seu nome

            O ser humano faz esta súplica e pedimos que seja santificado em nós, uma vez que nós devemos estar nele e nos outros de modo que a graça de Deus espera a nossa adesão, porque  rezando para todos, e, também pelos nossos inimigos, obedeçamos a este preceito, que o nome de Deus seja santificado[11].

            Seja feita a sua vontade nos céus e sobre a terra.

            O ser humano pede pela oração para que em todos se faça a sua vontade. Todos são chamados a fazer a vontade de Deus. Faça-se a vontade de Deus na terra da mesma forma que se faça nos céus. Deus quer que cada ser humano caminhe secundo a sua vontade[12]. A verdade é que segundo Tertuliano, a realização da vontade de Deus é a salvação daqueles que ele adotou. O próprio Filho disse antes de sua partida, para que não se fizesse a sua vontade, mas a vontade do Pai (cfr. Jo 6,38). Esta posição significou que todas as ações do Filho eram em unidade com o Pai e nelas cumpriam-se a vontade do Pai[13]. Desta forma, as ações que o ser humano faz e todos nós somos chamados a realizar, visa-se a vontade de Deus.

            A escolha do bem.

            Tertuliano era convicto que quando dizemos seja feita a sua vontade escolhemos o bem para nós, porque não existe nenhum mal na vontade de Deus, porque é a vontade de Deus que reina sobre todas as vontades humanas no bem, e no seu amor. Diante dos sofrimentos que o Senhor deveria enfrentar, ele afirmou que a vontade do Pai deveria ser feita e não a sua (cfr. Lc 22,42). O fato era que Jesus mesmo era à vontade e o poder do Pai e desta forma se entregou de uma forma livre à vontade do Pai diante do sofrimento para a salvação de toda a humanidade[14].

            Venha o seu Reino.

            Na oração que é feita a Deus coloca-se o dado que seja feita a sua vontade, realizando-se, isto é em nós[15]. Ora se Deus não reina em nós e no mundo como é possível uma vida digna? Desta forma o reino do Senhor é sobre a vontade de Deus e a nossa disposição. Assim nós rezamos que venha do Senhor, o seu reino, atuação dos cristãos, alegria imensa dos anjos, pelo fato de que se passamos por dificuldades, nós nunca deixamos de rezar com fé e com amor a oração do Pai Nosso[16].

            A oração é fundamental em nossa vida, porque nós nos elevamos a Deus agradecendo as suas maravilhas, os seus dons. Nós dizemos que Deus é Pai, que seja santificado o seu nome, venha o seu Reino e que seja feita a sua vontade tanto na terra como no céu. Tertuliano colocou bem alguns pontos que iluminam à nossa vida de seguidores e seguidoras na oração do Pai nosso. Nós somos chamados a vivenciar a oração do Pai nosso, tida como um compêndio do evangelho, segundo Tertuliano.

[1] Johannes Quasten. Patrologia, I primi due secoli (II-III). Marietti, S. Maria degli Angeli – Assisi (PG), 1992. Pg. 536.

[2] Cfr. A. Hamman. Preghiera. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, P-Z, diretto da Angelo Di Berardino.Marietti, Genova-Milano, 2008, pg. 4301.

[3] Cfr. Quinto Settimio Florente Tertulliano. La Preghiera (De Oratione). Traduzione e note di Aldo Intagliata, Prima Traduzione. Gribaudo Editore, Cavallermaggiore, 1992, pg. 9.

[4] Cfr. Idem, I,2, pg. 11.

[5] Cfr. Ibidem, I,3, pg. 11.

[6] Cfr. Ibidem, I, 5-6, pgs. 11-13.

[7] Cfr. Ibidem, II, 4, pg. 13.

[8] Cfr. Ibidem, II, 5-6, pg. 13.

[9] Cfr. Ibidem, III, 1, pg. 15.

[10] Cfr. Ibidem, III, 3, pg. 15.

[11] Cfr. Ibidem, III, 4, pg. 15.

[12] Cfr. Ibidem, IV, 2, pg. 17.

[13] Cfr. Ibidem, IV, 3-5, pgs. 17-19.

[14] Cfr. Ibidem, IV, 5, pg. 19.

[15] Cfr. Ibidem, V,1, pg. 19.

[16] Cfr. Ibidem, V, 1-4, pgs. 19-21.

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