Foto: istockphoto.com
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA
O Papa Francisco convocou a todo o mundo cristão, católico e pessoas de boa vontade, para uma jornada de oração pela paz, fazendo uma consagração ao Imaculado Coração de Maria, na celebração penitencial realizada na Basílica de São Pedro, dia 25 de março de 2022, festa da Anunciação do Senhor. Ressoa ainda em nossos ouvidos a expressiva oração feita pelo Papa Francisco diante de uma imagem de Nossa Senhora, e também para que nós a rezássemos nas missas nas catedrais, ou mesmo nas comunidades eclesiais missionárias. É fundamental fazer uma análise para perceber a importância da oração que brota do ser humano a Deus Uno e Trino, por intermédio do Imaculado Coração de Maria.
A recorrência a Maria.
A oração inicia invocando à Maria, Mãe de Deus num ato de recorrência a ela porque a humanidade está passando um tempo de tribulação. A tribulação vem do latim tribulare, cujo significado é oprimir, marcado por sofrimentos[1]. É um tempo de tormentos físicos, morais porque nós vemos o povo ucraniano sendo massacrado, com armas, mísseis, e milhões de pessoas fogem da guerra para se abrigar em outros países. A oração coloca a importância de que Maria conhece os seus fiéis de modo que nada lhes é oculto. Ela nos guia para Jesus, o Príncipe da Paz.
A perda da paz.
O caminho da paz está sendo perdido, pela parte humana. A oração faz uma lembrança das tragédias do século passado, onde ocorreu o sacrifício de milhões de mortos nas duas grandes guerras mundiais e é claro outras guerras ocorridas pelo mundo afora. Após as guerras, ou ao longo das mesmas houve sempre tratativas de paz, de reconstrução da vida humana. A oração diz que nós descuidamos dos compromissos assumidos pelos povos em detrimento das esperanças dos jovens. Os seres humanos fecharam-se em interesses nacionalistas, a indiferença reinou entre as pessoas e os povos.
Ignorar Deus.
As guerras trouxeram como ponto aterrador da ignorância a Deus. Ele, sendo Criador de tudo, no entanto, as pessoas recorreram a uma vida independente do Senhor. Por isso a convivência com a falsidade foi um dado vivo entre os povos, as agressividades foram alimentadas, as vidas foram suprimidas, as armas foram acumuladas. Será preciso retomar novamente o caminho que leva a Deus e à paz na humanidade de modo que tudo é possível por Maria, a Mãe do Filho de Deus.
Guardiões do próximo e da casa comum.
A oração coloca também que esquecemos que cada ser humano é guardião do próximo. E quem é o meu próximo? ‘É todo aquele que de mim precisar’, diz o canto. O próximo é a pessoa que está ao nosso lado e necessita de ajuda, de consolo. O samaritano ajudou a pessoa necessitada (Lc 10, 29-37). O ser humano é também guardião da casa comum. O Papa Francisco disse que o ser humano é o guarda da criação, de modo que nenhuma criatura, seguindo os bispos do Canadá, fica fora da manifestação de Deus, tratando-se duma continua revelação do divino[2]. O Papa Francisco também fala da Eucaristia que une o céu e a terra, abraçando e penetrando a criação. Assim a eucaristia é também fonte de luz, na visão do Papa Francisco e motivação para as preocupações humanas pelo meio ambiente e leva as pessoas a ser guardiões da criação inteira[3]. Com a guerra, o ser humano feriu com o pecado, o coração de Deus Pai, que deseja a todos uma vida de irmãos e de irmãs.
Um pedido pela conversão.
A recorrência ao Imaculado Coração de Maria é dada em vista da conversão. O tempo de Quaresma aponta à conversão de vida, para voltar a Deus, ao próximo como a si mesmo. O fato é que Maria não se cansa de fazer visitas ao seu povo. Nesse momento de prova recorre-se a Maria de modo que ela não despreze as súplicas dos fiéis e ela venha no auxílio humano. Uma alusão é feita a Maria dada em Caná da Galileia quando ela apressou a hora da intervenção de Jesus, introduzindo no mundo o seu primeiro sinal ou milagre. Ela disse claramente a Jesus, que eles não tinham mais vinho (Jo 2,3). Da mesma forma no momento atual o povo pede para que ela repita mais uma vez a Deus, porque hoje é esgotado o vinho da esperança, a alegria é desvanida, a fraternidade é diluída. Como o ser humano tornou-se capaz de toda a violência e destruição, há a necessidade urgente da intervenção materna de Maria junto ao seu Filho e a toda a humanidade.
A súplica feita.
A pessoa humana pede que Maria acolha a súplica que vem do coração humano. Ela é estrela do mar, para que a vida não naufrague na tempestade da guerra. Ela sendo arca da nova aliança, inspira projetos e caminhos que possibilitem a reconciliação. Ela sendo a terra do céu, traga de volta ao mundo a concórdia de Deus. O pedido dirigido a ela é que apague o ódio, acalma-se a vingança, haja o ensino do perdão. A humanidade esteja livre da guerra, e o mundo seja preservado da ameaça nuclear. Ela como rainha da paz, alcance a paz para o mundo inteiro, junto ao seu Filho Jesus Cristo.
Consagração ao Imaculado Coração.
Na parte final da oração tão bonita recorre-se a Maria Mãe de Deus em vista da consagração ao Imaculado Coração, para cada pessoa humana, a Igreja, e a humanidade inteira, de uma forma especial a Rússia e a Ucrânia. É um ato realizado com confiança e amor, para que cesse a guerra e se providencie ao mundo a paz. Ela disse sim ao plano de salvação do Senhor, de modo que ela abriu as portas ao Príncipe da Paz, Jesus Cristo para vir a este mundo. Desta forma é dada a confiança em Maria, por meio do seu Imaculado Coração, e assim venha à paz.
A oração que o Papa Francisco colocou à humanidade, sobretudo os cristãos, o mundo católico é a consagração dos dois países do Leste Europeu, Rússia e Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria em vista da paz e do amor entre estes dois povos. As comunidades e as pessoas rezaram com fé e com amor diante de uma imagem de nossa Senhora em vista da paz. O povo rezou ao Senhor por intermédio do Imaculado Coração de Maria, a paz entre nós e no mundo inteiro.
[1][1][1] Cfr. Tribolare. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 1819.
[2] Cfr. Conferencia Episcopal do Canadá – Comissão para a Pastoral Social, You Love all that exists… All things are yours, God, Lover of LIfe (4 de Outubro de 2003), 1. In: Carta Encíclica Laudato Si` do Santo Padre Francisco sobre o Cuidado da Casa Comum, n. 85.
[3] Cfr. Carta Encíclica Laudato Si` do Santo Padre Francisco sobre o Cuidado da Casa Comum, n. 236.