Marabá, 27 de abril de 2024

A oração sacerdotal de Jesus em São Cirilo de Alexandria

21 de março de 2024   .   

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

            Estando próximo à semana santa, sendo também o discurso fundamental do Senhor Jesus realizado na última ceia com os seus discípulos, o início do capítulo dezessete do Evangelista São João, apóstolo do Senhor Jesus, mereceu um destaque muito importante na doutrina de São Cirilo de Alexandria, bispo, no século V. São Cirilo viveu em um contexto de disputas cristológicas sobretudo a pessoa de Jesus, homem e Deus com Nestório que era bispo de Constantinopla, no século V. Esse  capitulo refere-se a vida de Jesus com o Pai no seu ser humano e divino de modo que será importante uma análise, pois fala da partida de Jesus ao Pai.

            A hora estava chegando.

            São Cirilo colocou que o Senhor após ter dado o seu corpo como comida e o seu sangue como bebida, ele mudou o discurso com os seus discípulos na ultima ceia num modo de oração, oferecendo-se novamente a si mesmo como modelo de vida maravilhosa a Deus Pai à humanidade[1]. A sua hora estava chegando de passar deste mundo à casa do Pai (cf. Jo 17,1), de modo que Jesus fez a última ceia e a sua oração sacerdotal, assim chamada, por Ele ser o verdadeiro Intercessor entre Deus e a Humanidade e a Humanidade com Deus, sabendo que a hora era a sua doação total pela salvação da humanidade, passando pelo sofrimento, cruz e Ele chegasse a ressurreição.

            O itinerário da oração.

            Jesus iniciou a sua oração em vista da sua glória, aquela do Pai e por todos os seus seguidores e seguidoras. Ele ensinou a arte verdadeira de rezar, em unidade com a gloria de Deus Pai[2]. Ele disse aos seus discípulos que era necessário que brilhe a luz deles diante dos seres humanos para que vejam as suas obras boas e glorifiquem o Pai deles que está nos céus (cf. Mt 5,16). São Cirilo colocou a importância da oração de Jesus na última ceia, sendo Ele o verdadeiro guia, o mestre, o modelo de oração dirigida ao Pai e à humanidade[3].

            O Filho pede ao Pai a sua glorificação

            A hora de Jesus estava chegando de modo que Ele pediu ao Pai para que o glorificasse para que também o Filho glorificasse ao Pai (cf. Jo 17, 1). O fato era que o Filho não estava privado de glória. Mas Jesus, veio ao mundo pela glória do Pai. Seria uma loucura, segundo São Cirilo a afirmação de que o Filho não tivesse a glória que lhe é devida de Filho de Deus. Jesus mesmo dirá em seguida que Ele pediu ao Pai a glória que Ele tinha como Unigênito antes que o mundo fosse realidade (cf. Jo 17,5)[4].

            As suas naturezas divina e humana.

            São Cirilo de Alexandria, colocando-se contra a doutrina ariana afirmou a sua natureza divina do Filho igual a do Pai, pois a sua glória era também divina, de modo que ao vir neste mundo, ele não considerou uma usurpação sendo pessoa igual a Deus, mas se abaixou até a nossa miséria e revestiu-se do corpo humano, submetendo-se por amor em ser semelhante à fragilidade humana (cf. Fl 2,6-8), de modo que passando pelos sofrimentos e morte, e após cumprido o mistério da salvação, recebesse de novo, pela sua ressurreição, aquela substancial veste de glória, tendo salvado a humanidade e ter assegurado a vida e o conhecimento de Deus, de modo que o Filho devia retornar à dignidade da sua natureza[5].

            Dizendo que a hora dele estava chegando para passar deste mundo ao Pai, Ele voltou após ter cumprido também com a carne, a realidade humana as obras divinas, fazendo as coisas como Sabedoria e Poder de Deus Pai (cf. 1 Cor 1,24). Tudo provinha do Pai, mas não sem o Filho. O Pai agiu no Filho e o Filho também agiu no Pai, de modo que tudo foi digno por parte do Filho, porque Ele estava em unidade com o Pai.

            A consubstancialidade

            A consubstancialidade foi uma noção que entrou no Credo Niceno Constantinopolitano, feito pelo Concílio de Constantinopla, em 381. São Cirilo aderiu também a esta noção contra arianismo de modo que ele disse que tudo é do Pai, por meio do Filho no Espírito Santo. Ao vencer na cruz o poder do mal, demonstrava Jesus que Ele era verdadeiramente Deus por natureza, de modo a dizer que era para o Pai glorificá-lo, para que também o Filho glorificasse o Pai (cf. Jo 17,1)[6]. Esta consubstancialidade no sentido que o Filho vem do Pai, de sua mesma substância, não foi pedido por nenhum ser humano porque o Filho pediu a glorificação ao Pai, partiu do Salvador para indicar que ao Pai a sua glória era necessária, porque fosse reconhecido como igual a Ele, o Filho com o Pai[7].

            A glorificação do Filho e do Pai.

            São Cirilo de Alexandria interpretou a frase do evangelista João que o Pai é glorificado na glória do Filho, dando a Ele a glória proveniente do Pai da qual Ele foi gerado desde sempre como Unigênito, trazendo-o de volta à mesma glória pelo fato que Ele era Filho verdadeiramente do Pai. O esplendor substancial e natural da glória passará do Pai no Filho e o Filho no Pai[8].

            A oração sacerdotal pelo seu inicio, não é um pedido do Filho à gloria do Pai, por ser inferior a Ele, à sua natureza divina, mas por ser o Filho igual a Ele, ao Pai, consubstancial a Ele, proveniente da mesma substância, afirmando por sua vez também o Pai seria glorificado, pelo Filho e o Filho no Pai[9].

            A oração sacerdotal de Jesus indica a unidade de Jesus com o Pai e o Pai com Jesus, momentos antes de sua partida, feita do amor do Filho para com o Pai, sabendo que o seu plano de salvação à humanidade estava se realizando na sua integridade. Jesus ensina-nos a rezar ao Pai pelo Filho no Espírito Santo tendo presente o mundo, a Igreja, as pessoas que estão ao nosso lado, sobretudo as pessoas necessitadas e pobres.

[1] Cfr. Cirillo di Alessandria. Commento al Vangelo di Giovanni/3. (Libri IX-XII)). Traduzione e Indici di Luigi Leone. Roma: Città nuova editrice, 1994, pg. 299. 

[2] Cfr. Idem, pg. 300.

[3] Cfr, Ibidem, pg. 300.

[4] Cfr, Ibidem, pg. 301.

[5] Cfr. Ibidem, pg. 301.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 302.

[7] Cfr. Ibidem, pg. 302.

[8] Cfr. Ibidem, pg. 302.

[9] Cfr. Ibidem, pg. 303.

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