Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
A liturgia do quinto domingo do tempo comum apresenta a pesca milagrosa depois que o Senhor disse aos discípulos de lançarem as redes para águas mais profundas. Nós podemos entender essas palavras de Jesus no sentido de sermos discípulos missionários em saída. É preciso partir para a ousadia, fazer bem e melhor a missão que o Senhor nos confiou na família, na comunidade e na sociedade. Os resultados serão melhores, porque tudo é feito em unidade com o Senhor. Jesus é o missionário do Pai, por excelência, pois ele revelou a importância do amor de Deus e do amor fraterno.
Jesus estava junto ao lago de Genesaré e a multidão ia ao seu encontro para ouvir a Palavra de Deus, a boa nova da evangelização. Jesus era o verdadeiro Mestre de modo que ele ensinava as multidões de forma diferente dos mestres da Lei. Simão Pedro e seus companheiros não pescaram nada naquela noite, de modo que Jesus disse a eles avançarem para águas mais profundas. Eles apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. Como Pedro e outros companheiros sentiram-se espantados, Jesus disse que os faria pescadores de homens, de pessoas humanas (Lc 5,10). É o Reino de Deus que toma o rumo certo em Jesus e com os seus discípulos[1].
O Papa Francisco coloca a importância a todos os fieis para serem discípulos missionários em saída. A atitude de avançar para águas mais profundas especifica a nossa missão de ir à busca de outros mares, outros lugares ou mesmo em nossas comunidades e paróquias, de modo que sejamos uma Igreja em saída. Vejamos em seguida, como os padres da Igreja vivenciaram a dimensão da missão na vida cristã, na qual Cristo ensinou aos seus discípulos e hoje esta é dada a todos nós.
A Igreja forma o corpo de Cristo.
Santo Agostinho, bispo do século IV, em Hipona, no Norte africano, dizia que a Igreja por graça de Deus, estende-se em todas as partes do mundo. Ela é o único corpo de uma só e mesma cabeça, que é o Salvador mesmo, como disse o Apóstolo Paulo (cf. Ef 5,23; Cl 1,18). A palavra do profeta referia que o Senhor seja exaltado acima dos céus (Sl 56,12). Após a sua exaltação, a Igreja se espalhou em diversos lugares e marca presença, em toda a terra, trazendo abundantes frutos. O bispo de Hipona exortou a todos os fieis a buscarem a unidade em vista da missão[2].
A obra missionária.
São Gregório Magno, papa, séculos VI e VII falou da obra missionária que estava ocorrendo na Britânia, hoje é a Inglaterra. Ele enviou um monge que depois se tornou bispo, Agostinho, ao anunciar o evangelho de Jesus Cristo aos Anglos. Ele recomendou a ele para a construção de templos e altares ao Senhor Deus para que assim a obra missionária fosse acolhida por aquele povo[3].
A importância da tradição cristã.
Tertuliano, padre de Cartago, séculos II e III, afirmou a importância da difusão do evangelho de Jesus ajudado pela tradição cristã. Ele colocou o valor do batismo por ordem do Senhor na qual o fiel renuncia ao demônio e as suas seduções, e depois as pessoas cristãs eram imersas por três vezes dando algumas respostas que o Senhor prescreveu a elas a partir do evangelho do Senhor. Havia também a recepção da unção. As pessoas também recebiam a eucaristia que o Senhor deu para os seus discípulos e a todas as pessoas que crerem nele. Os fiéis tinham presentes as ofertas para as pessoas necessitadas[4]. A missão era feita na comunidade.
A estrutura imperial.
Orígenes, padre alexandrino, séculos II e III afirmou que o Senhor preparou as nações na colhida do seu ensinamento evangélico, submetendo-as todas ao único soberano, o Imperador de Roma e impedindo que o isolamento das mesmas por causa da pluralidade dos reinos, não tornasse mais difícil aos apóstolos assumir a ordem de Cristo de ir e de fazer discípulos seus todos os povos (Mt 28,19). Desta forma a estrutura imperial ajudou na divulgação do evangelho de Jesus Cristo às nações[5].
A fé em Cristo Jesus dos povos e a presença do Espírito Santo.
São Leão Magno, papa, século V, afirmou que a fé em Cristo, reforçada pelo dom do Espírito Santo não fez temer as pessoas, as cadeias, as prisões, o exílio, a fome e também os suplícios dos cruéis perseguidores do evangelho. Por esta fé e decisão de muitas fiéis não somente homens, mas também mulheres não só moços, mas também moças fizeram com que combatessem até a efusão de seu sangue, a vivência do evangelho de Jesus Cristo nas suas realidades. Eles e Elas viveram muitas vezes, a paixão do Senhor, na esperança da feliz ressurreição junto com o Senhor Jesus que está sentado à direita do Pai[6].
O anúncio dos dons de Deus ao mundo.
Santo Ambrósio, bispo de Milão, século IV disse que o anúncio dos dons de Deus aos povos do mundo tornou-os melhores na vida cotidiana. As virtudes, como a moderação, em unidade com a misericórdia do Senhor, propagada pela Igreja, fruto do sangue de Cristo, imitando os dons celestes; está em unidade com a redenção de todos os seres humanos, na certeza de prosseguir este fim salutar com tanta descrição que o coração das pessoas sustenta a mente e dá grande força à alma[7].
O Senhor Jesus Cristo nos envia para a missão na realidade atual. Assim como ele pediu para os discípulos avançarem para águas mais profundas, faz hoje o mesmo convite para que nós saiamos de uma vida cômoda, para irmos ao mundo anunciar o evangelho de Jesus Cristo, o amor à Igreja, os sacramentos, a vida comunitária. A missão é dada pela construção da Igreja templo, e pela Igreja povo de Deus. A pesca milagrosa ocorrerá em nosso meio, pela presença de Deus Uno e Trino e pelo povo de Deus a nós confiado.
[1] Cfr. La Bibbia. Edizione Piemme, Borgaro Torinese (TO), 1995, pg. 2442.
[2]Cfr. Agostino. Le Lettere, II, 142,1-2 (A Saturnino ed Eufrate). In: La teologia dei padri, v. 4. Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pg. 20..
[3] Cfr. Gregorio Magno. Lettera all´abate Melitone in Francia. In: Idem, pg. 43.
[4] Cfr. Tertulliano. La Corona, 3-4. In: Idem, pg. 41.
[5] Cfr. Origene. Contro Celso, 2,30. In: Idem, vol. 2, pg. 84.
[6] Cfr. Leone Magno. Sermoni, 74,1-5. In: Idem, pg. 138.
[7] Cfr. Ambrogio. La penitenza, 1,1-2. In: Idem, pg. 221.