Marabá, 04 de outubro de 2024

A superação da violência contra a pessoa idosa

18 de junho de 2021   .   

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Em 15 de junho é celebrado o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa, com o objetivo de despertar reflexões e ações para combater a violência e os maus tratos praticados em desfavor dos idosos, para que juntos possamos vencer essa chaga social, oferecendo carinho e amor para esses irmãos. Desde 2006, a data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), juntamente com a Rede Internacional de Prevenção à violência a pessoa idosa[1]. As ações são as mais diversas, a exemplo de eventos online (lives) no âmbito da Igreja, onde essa problemática é debatida, principalmente no que se refere à dignidade da pessoa como imagem e semelhança de Deus (cfr. Gn 1,26), pois qualquer tipo de violência é inaceitável, especialmente contra a pessoa idosa. A seguir, apresentamos alguns aspectos relacionados à superação da violência contra os idosos.

A cor violeta.

A cor violeta foi escolhida como símbolo do movimento porque remete à temperança, à lucidez. No âmbito litúrgico, a cor violeta representa a necessidade da penitência e da reconciliação entre as pessoas e com Deus. Para a sociedade civil, o “Junho Violeta” busca sensibilizar a todos para a superação da violência, promovendo a dignidade e os direitos da pessoa idosa. Na Igreja, durante o mês de junho, celebram-se as festividades do Sagrado Coração de Jesus e de santos populares como Santo Antônio, São João Batista, São Pedro e São Paulo, todos eles sinônimos de afabilidade, bondade, mansidão e acolhimento. Este período estimula a reflexão sobre as diversas formas de violações contra os idosos e também incentiva as pessoas a denunciar qualquer ato de maus tratos ou violência.

A importância da pessoa idosa.

O jovem de hoje será a pessoa idosa de amanhã. Com o avanço da idade, chega à maturidade, uma etapa da vida a ser mais tranqüila após longos anos de serviço, de trabalho, de doação aos irmãos e a Deus. É uma fase que exige cuidado porque o organismo da pessoa idosa se encontra fragilizado, havendo uma progressiva decadência do organismo[2], cabendo, sobretudo aos filhos e filhas prestar assistência aos seus pais, que merecem amor, carinho, apoio, e jamais violência ou abandono.

A pessoa idosa é merecedora de todo respeito assim como as demais em todas as etapas da vida. No mundo atual, marcado pela competição, a pessoa que não mais se mostra produtiva ou não oferta resultados, não é valorizada, sendo por vezes excluída. O Papa Francisco alerta sobre a cultura do descartável, onde as pessoas são simplesmente esquecidas, abandonadas pela sociedade[3]. Dentro desta realidade, devemos trabalhar pela inclusão dos idosos na família, na comunidade e na sociedade.

O fator social: a pandemia.

Com a explosão da pandemia em 2019, a violência contra os idosos aumentou exponencialmente em todo o país, sobretudo pela exigência de maior permanência das pessoas em suas casas. Segundo estudos e opiniões de analistas, a pessoa idosa foi ainda mais exposta às violências com agressões verbais e físicas, as quais são praticadas principalmente pelos familiares e pessoas próximas. A reversão ou a amenização dessa situação requer a participação de toda a sociedade, especialmente dos poderes públicos, com a adoção de políticas que visem à proteção da pessoa idosa.

A violência econômica.

Segundo o Conselho da Pessoa Idosa, uma das violações mais comum contra o idoso é a violência econômica, a qual é praticada principalmente por familiares que se apropriam em benefício pessoal de parte do dinheiro da pensão ou aposentadoria, utilizando-se do cartão do idoso ou da idosa. Na maioria das vezes, o benefício da pensão ou aposentadoria é de apenas 01 (um) salário mínimo, o qual não fica à inteira disponibilidade da pessoa idosa, tornando mais difícil a sua subsistência com dignidade.

Conseqüências da violência ligada à economia.

O idoso, por vezes, não dispõe dos recursos financeiros necessários à aquisição dos medicamentos que deveria tomar para viver bem, ficando mais suscetível às mais diversas enfermidades. A pessoa idosa que não dispõe de recursos financeiros também não se alimenta adequadamente, podendo chegar à fome ou à desnutrição. Outro desdobramento da questão econômica é a violência física, quando familiares ou pessoas próximas, alcançados pela insuficiência de recursos financeiros, chegam a agredir a pessoa idosa. Ocorre ainda o abandono dos idosos em hospitais ou casas de repouso. Todas essas violações representam a falta de amor por parte daqueles que deveriam cuidar dos seus familiares idosos.

A dor presente nas diversas etapas da vida.

É importante conhecer a visão da Igreja antiga sobre as pessoas idosas, a qual lhes dava o devido valor e consideração, pois elas merecem carinho e amor, notadamente porque, muitas vezes, passam por sofrimentos físicos e morais.

São João Crisóstomo, bispo dos séculos IV e V, afirmava a existência de dores em qualquer idade e essas estariam presentes em todos os seres humanos. As dores aparecerão com o avanço da idade, de maneira que as pessoas idosas as enfrentarão com serenidade e com amor. A superação de todas as dores é a vivência da virtude, sobretudo da caridade, manifestada aos que mais sofrem, pois a conquista de tal virtude é dada também pelo sofrimento não inútil, pois carrega lucro e vantagem[4].

Os filhos honram os seus pais.

Ainda em São João Crisóstomo, manifesta-se o desejo de Deus no sentido de que os pais sejam honrados pelos seus filhos. Ele tinha presente dois textos bíblicos importantes. O primeiro alude àqueles que não consideram os seus pais: “quem amaldiçoar o pai ou a mãe será punido de morte” (Ex 21,17). O segundo aponta para quem respeita os seus pais: “honra teu pai e tua mãe, para que vivas longos anos na terra” (Ex 20,12). O bispo de Constantinopla ressaltou que a ancianidade feliz e uma vida longa foram estabelecidas por Deus como prêmio para aqueles que honram os seus próprios pais. No entanto, aparece como mal supremo, uma morte precoce, foi colocada como castigo para aqueles que desprezam os seus pais. Se de um lado, há benevolência para com os seus pais, prometendo-lhes a glória, de outro lado, existe a punição para aqueles que não amarem os seus pais. Porém, segundo São João, Deus quer que todos os filhos e filhas cuidem de seus pais, sobretudo na idade avançada[5].

Os idosos são importantes na evangelização.

O Papa Francisco transmitiu uma importante mensagem em relação às pessoas idosas, no Primeiro Congresso Internacional da Pastoral dos Idosos, com o tema: “A riqueza dos anos”, segundo o qual, os idosos são indispensáveis na educação das crianças e dos jovens na fé. Ele afirmou a importância de promover a inclusão dos idosos nos horizontes pastorais e considerá-los como um dos componentes vitais de nossas comunidades. A idade avançada não deve ser vista como doença, mas sim um privilégio. Os idosos podem ser protagonistas de uma pastoral evangelizadora. A riqueza dos anos é a riqueza das pessoas. É o tesouro precioso que toma forma no percurso da vida. A vida é um dom, e quando é longa, é um privilégio para si e para os outros[6].

A Igreja, como seguidora de Jesus Cristo, empenha-se em favorecer a vida da pessoa idosa contra qualquer tipo de violência. É preciso que os cristãos participem dos Conselhos da Pessoa Idosa e exijam sempre mais políticas públicas em favor dos mesmos. O mês de junho, com a cor violeta, exalta à conscientização para o fim da violência contra a pessoa idosa, que não condiz com o plano de Deus, de uma vida digna, longa e feliz para todas as pessoas neste mundo e um dia na eternidade.

[1] Cfr. https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2018/junho/15-de-junho-e-o-dia-mundial-de-conscientizacao-da-violencia-contra-a-pessoa-idosa#:

[2] Cfr. Vecchiàia. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 1871.

[3]Cfr. Francisco, Exortação apostólica Evangelii Gaudium, (24 de novembro de 2013), 53. AAS 105 (2013).

[4] Cfr. Giovanni Crisostomo. Omelie sulla seconda lettera a Timoteo, 1,2-3. In: La teologia dei padri, v. 3. Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pg. 68.

[5] Cfr. Giovanni Crisostomo, Predica quaresimale, 4. In: Idem, pg. 394.

[6] Cfr. https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-01/papa-francisco…

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