Marabá, 25 de abril de 2024

A valorização da CFE 2021 e Ações pela Unidade Eclesiológica.

23 de março de 2021   .   

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

A Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) 2021 nos convida a lançar as redes em águas mais profundas(cfr. Lc 5,5), por ser um sinal de fraternidade entre as pessoas e comunidades de fé, que acreditam em Jesus Cristo, em vista da unidade do pastoreio do Senhor Jesus Cristo.

 Desde o ano 2000, a Campanha da Fraternidade vem sendo realizada a cada cinco anos com temas voltados ao ecumenismo, objetivando a unidade sonhada e querida pelo Mestre Jesus Cristo, o que a torna um desafio permanente para todas as comunidades eclesiais, as quais, por meio de orações fervorosas e ações comprometidas com a unidade na diversidade, buscam superar as polarizações, as divisões que tanto marcaram a história do cristianismo e ainda marcam a realidade eclesial atual.

A CFE 2021.

A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 enfatiza o diálogo como compromisso de amor. “Cristo é a nossa Paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a). A comunidade de Efésios enfrentou a divisão entre judeus cristãos e pagãos cristãos e São Paulo os exortou para a unidade, superando as polarizações, porque Cristo derrubou o muro que separava os povos e Ele fez uma unidade, homens e mulheres para se tornarem novos em Cristo Jesus e, para tanto, é fundamental o diálogo para reforçar a vida comunitária de seguidores do Senhor Jesus Cristo. O diálogo ajuda a viver o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.

Esta caminhada da Campanha da Fraternidade Ecumênica possui uma história que é essencial e que deve ser aprofundada. Desde os anos de 1980, havia um projeto de uma campanha ecumênica, que se concretizou no ano de 2000, com o lançamento da Primeira CFE, com o tema e lema “Dignidade humana e paz e por um novo milênio sem exclusões”. Essa experiência tinha por fundamento a compreensão de que a evangelização e a missão apontaram para fé em Jesus Cristo; crer em sua palavra, acolher seus mandamentos e trabalhar para a superação das desigualdades, das violências e do exclusivismo das identidades confessionais.

Em 2005, houve a segunda CFE, que tratou sobre a solidariedade e paz: “Felizes os que promovem a paz” (Mt 5,9). É preciso assumir um compromisso com a paz. A CFE contribuiu em muito para a promoção do desarmamento. As Igrejas recolheram, na época, armas para serem destruídas.

A terceira CFE foi em 2010. “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24), esse foi o lema bíblico que a inspirou e o tema foi “Economia e Vida”. A CFE denunciou a idolatria do dinheiro, mensagem presente no Mestre Jesus Cristo.

Em 2016, realizou-se a quarta CFE, que cruzou fronteiras por ter sido realizada em unidade com a Misereor da Alemanha e de outras igrejas que participaram ou ainda participam do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), como a Aliança Batistas do Brasil e a Visão Mundial, cujo tema fora: “Casa comum, nossa responsabilidade” e com o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). A Campanha contribuiu para denunciar a ausência de saneamento básico em nosso País, pois inexistente nos bairros periféricos das grandes cidades e das pequenas comunidades. Essa história mereceu o devido louvor da presença da Igreja católica e de outras igrejas no Conselho de Igrejas Cristãs, visando à caminhada da unidade em Cristo na sua diversidade.

A Unidade na Igreja antiga e as divisões surgidas.

A Igreja antiga primou pela unidade dos seguidores de Jesus Cristo. A Palavra de Deus dizia que as pessoas formavam um só coração e uma só alma (cfr. At 4,32). Pela ação do Espírito Santo, os apóstolos anunciavam pelo mundo judaico e pagão a ressurreição de Cristo na paz e no amor. Muitas eram as adesões à nova comunidade de cristãos, seguidores e seguidoras do Senhor Ressuscitado.

No decorrer dos séculos, na Igreja antiga, surgiram questões relacionadas à unidade da Igreja, e pela vida decorrente no rebanho do Senhor. A primeira questão dizia respeito ao gnosticismo, que era uma visão deturpadora do cristianismo no sentido de que a salvação era particular, não tendo muita relação com o próximo, e onde se pregava o pouco envolvimento com a realidade do mundo, uma vez que a pessoa já era eleita para a salvação e a maioria das pessoas não teriam a salvação.

A outra questão dizia respeito ao pelagianismo, que anunciava a autonomia do ser humano em relação a Deus, não tendo a necessidade da graça do Senhor. A Igreja condenou tanto o gnosticismo como também o pelagianismo, pois não possibilitavam vida de comunhão nas comunidades com o Senhor.

Ao longo dos séculos, surgiram diversos outros movimentos que atentaram à unidade do rebanho do Senhor, mas também outras ações em favor da unidade, pois todos são chamados ao diálogo, compromisso de amor. Por isso, foi e é importante a oração e a ação em favor da unidade dos fiéis em Cristo Jesus.

O Concílio Vaticano II e o ecumenismo.

O Concílio Vaticano II tratou tanto do ecumenismo que elaborou um decreto Unitatis Redintegratio (UR) como fator fundamental de todas as comunidades cristãs. Ele nos diz que em muitas partes do mundo, pelo sopro da graça do Espírito Santo, pela oração, pela palavra e pela ação, se fazem muitas tentativas de se chegar à plenitude da unidade que Jesus Cristo quis. Este Santo Sínodo exorta todos os fiéis católicos a que, reconhecendo os sinais dos tempos, participem solicitamente do trabalho ecumênico (UR, 4).

Pelo movimento ecumênico entendem-se as atividades e iniciativas que se suscitam em favor das necessidades da Igreja e as oportunidades para fomentar a unidade dos Cristãos. Seriam todos os esforços para eliminar palavras, ações que, segundo a equidade e a verdade, não correspondem à condição dos irmãos separados. Tendo como ponto central o diálogo entre competentes nos encontros de Cristãos de diversas Igrejas e Comunidades, organizados em espírito religioso (UR, 4).

O caminho da unidade.

Seguindo o Concílio Vaticano II, um longo caminho pela unidade foi percorrido para a superação das questões doutrinárias, em vista da unidade dos fiéis no Senhor. Percebemos dados importantes desta unidade porque os últimos Papas muito fizeram em vista da unidade eclesiológica, a exemplo: em 07.12.1965, o Papa Paulo VI, canonizado, São Paulo VI, e o Patriarca Atenágoras de Constantinopla suspenderam a excomunhão mútua que estava em vigor desde o ano de 1054. Este gesto marcou uma nova era no ecumenismo entre Oriente e Ocidente, então, podemos afirmar que o ecumenismo ganhou muito pelas ações dos Papas posteriores como São João Paulo II e Bento XVI.

O Papa Francisco também tem contribuído em muito para o caminho da unidade entre católicos e luteranos,embora com os luteranos os temas de Igreja, Ministério e Eucaristia sejam áreas de desacordo e separação, porém muitas ações foram realizadas em vista do caminho da unidade no Senhor.

Com outras religiões não cristãs, a Igreja tem o diálogo religioso, ponto importante a partir do Concílio Vaticano II. Na sua visita ao Iraque, com a religião Islâmica, o Papa Francisco, manteve um encontro histórico com o Líder Xiita, o Aiatolá Ali al-Sisbani, onde naquele País o cristianismo está correndo sério risco de extinção. Sabemos bem que o Iraque, desde o início do cristianismo, foi um celeiro de fiéis cristãos, no entanto, devido ao surgimento do Estado Islâmico (EI), o cristianismo sofreu grandes perseguições, onde inúmeros cristãos formam martirizados. Nós acreditamos que aquele encontro ajudará na paz entre muçulmanos e cristãos católicos.

Unidos na oração pela superação da Pandemia.

A unidade das comunidades de fé em Cristo faz-se importante neste momento de pandemia, especialmente diante do crescente número de mortes pela COVID19, visto que somente na semana passada, foram registradas no Brasil mais de 15 mil pessoas que perderam a vida, além dos milhares de infectados. Portanto, é necessário e urgente o fornecimento das vacinas para que alcance às camadas prioritárias da sociedade e, depois, para toda a população brasileira.

Como forma de rogar ao Senhor sua misericórdia, fizemos uma oração diante dos hospitais para que Deus abençoe as casas que acolhem os doentes, os médicos, os enfermeiros e enfermeiras, funcionários e todos os pacientes, em sinal de solidariedade e pedido de graça pela saúde, ao mesmo tempo em que rogamos, em oração, pelos infectados e milhares de óbitos decorrentes da Covid19. O Senhor nos mantenha unidos.

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