Marabá, 16 de abril de 2024

As colunas da Igreja de Cristo: São Pedro e São Paulo

02 de julho de 2021   .   

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA

Estamos na semana celebrativa dos apóstolos São Pedro e São Paulo, considerados duas colunas da Igreja de Jesus Cristo. Eles foram chamados pelo Senhor para viver a paz e o amor na Igreja e no mundo. Ambos viveram o dom da conversão em suas vidas quando iniciaram o caminho de seguimento a Jesus Cristo. Instruídos pelo Espírito Santo e iluminados pelo Pai, foram ardentes na missão e, por diferentes caminhos, entregaram suas vidas por Cristo Jesus. Veremos, a seguir, a importância desses apóstolos na vida da Igreja primitiva, segundo os santos padres,e a sua influência para a realidade eclesial vigente.

            O culto de São Pedro e de São Paulo.

            As antigas fontes do cristianismo apresentavam esses dois apóstolos juntos, pois eram venerados desta forma, sobretudo nos os primeiros séculos da era cristã. Na Depositio martyrum, documento importante referente à data de 29 de junho, ressalta-se que a partir do ano 258(DC), o culto romano a Pedro era celebrado na catacumba de São Sebastião, e o de Paulo,na mesma data, na via Óstia. Tratava-se, pois, do culto em honra aos dois apóstolos. Alguns historiadores, em seus relatos, afirmam que por ocasião da perseguição aos cristãos promovida pelo Imperador Valeriano, em 258, os seus corpos foram transladados para as catacumbas. Posteriormente, sob o governo do Imperador Constantino, foram edificadas basílicas em dedicação aos dois apóstolos, onde os corpos foram sepultados. Outro dado a partir do Imperador Constantino, foram as representações dos apóstolos que assumiram peculiaridades novas, difundindo-se nas pinturas e mosaicos e na promoção do culto aos dois mártires[1].

Os bispos de Roma, os Papas.

Os bispos de Roma e depois com o título de Papas sempre ressaltaram as suas autoridades e solicitudes como sucessores do apóstolo Pedro e também como doutores das nações, a exemplo do apóstolo Paulo. Os dois títulos eram dados em referência a Cristo, pois eles testemunharam o Senhor, sendo-lhes devida igual veneração em todas as partes do mundo. Pedro foi o primeiro a confessar Cristo como o Messias, o Filho de Deus e Dele recebeu o primado, o encargo de pastor universal, o que é passado em sucessão aos bispos de Roma, os Papas. Paulo simboliza a unidade da Igreja Romana junto aos povos na missão de Cristo pela evangelização universal[2].

            São Pedro e São Paulo perseguidos por causa do Senhor.

            São Clemente, bispo de Roma no final do século I, afirmou que as colunas mais altas e justas, Pedro e Paulo, foram perseguidas pela causa do Senhor, lutando até a morte. Pedro, pela inveja, suportou muitas fadigas e, depois de ter prestado testemunho, foi para o lugar glorioso que lhe era devido. Paulo, pela inveja e discórdia, suportou o preço reservado à perseverança. Tornando-se arauto no Oriente e no Ocidente, ele alcançou a nobre fama de sua fé. Ele deu testemunho diante das autoridades, deixou o mundo e se foi para o lugar santo junto do Senhor, tornando-se o modelo maior de perseverança[3].

            Pedro e Paulo, apóstolos.

            Santo Inácio, bispo de Antioquia do final do século I, asseverou que Pedro e Paulo eram apóstolos, instruindo os fiéis e dando testemunho da Ressurreição do Senhor. Paulo considerava que todos eram livres, porém ele mesmo era um escravo, um condenado, mas manifestava a esperança de que após os sofrimentos, seria liberto por Jesus, ressurgindo Nele como pessoa livre[4].

            Pedro, testemunha da Ressurreição do Senhor.

            Ireneu de Lião bispo do século III, afirmou que Pedro foi testemunha da Ressurreição do Senhor e de Sua Ascensão. Logo após esses acontecimentos, ocorreu a escolha de uma outra pessoa para o lugar de Judas Escariotes, porque traiu o Senhor Jesus Cristo. Pedro completou o número dos apóstolos, baseando-se no que Davi dissera (cfr. Sl 69,26; 109,8). Pedro falou no dia de Pentecostes que Deus enviou realmente o Espírito Santo que prometera sobre o gênero humano, cumprindo desta forma a promessa divina em relação à realidade humana[5]. Ainda em relação a São Pedro, Ireneu, seguindo os Atos dos Apóstolos,afirmou ao povo, no dia de Pentecostes, que Deus ressuscitou dos mortos a Jesus e daquele fato todos eles eram testemunhas. Desta forma, Ele foi exaltado à direita de Deus, recebendo do Pai o Espírito Santo prometido, derramando sobre o povo que O viu e ouviu (cfr. At 2,36)[6].

            A voz da Igreja.

            Para Ireneu, a palavra de São Pedro é a voz da Igreja na sua missão evangelizadora contra os gnósticos, os quais se consideravam como sendo a voz que veio diretamente do Senhor, não passando pela Igreja. Segundo o bispo de Lião, a verdadeira voz, a de Pedro, deu origem a todas as igrejas que eram vozes dos cidadãos da nova aliança. Como eram as vozes dos apóstolos, eram as vozes dos discípulos do Senhor Jesus que O conheceram e O seguiram.Eles eram verdadeiramente perfeitos por terem sido tornados perfeitos pelo Espírito, após a Ascensão do Senhor, invocando a Deus, que fez o céu, a terra e o mar, anunciado pelos profetas e o seu Filho Jesus, que Deus ungiu[7].

            São Paulo, evangelizador do Senhor.

            Ireneu afirmou que São Paulo, após o encontro com o Senhor, começou a anunciar que o Cristo é o Filho de Deus (cfr. Ef 3,3). São Paulo foi considerado também testemunha da Ressurreição do Senhor e, em Atenas, anunciou Deus, Criador e Redentor, o qual enviou o seu Filho ao mundo e que, após a morte, O ressuscitou (cfr. At 17, 24-31)[8].

            A importância das Escrituras.

            Ainda sobre São Paulo, Ireneu ressaltou a doutrina do Apóstolo, criticando os gnósticos, pois eles se consideravam como os herdeiros da doutrina apostólica. Todas as suas cartas concordam com as suas pregações, as quais ressaltam Jesus, o Reino de Deus, a sua paixão, morte e ressurreição. Santo Ireneu se dedicou a estudar as Escrituras para delas abstrair e fundamentar a comprovação do que lá se dizia, ao mesmo tempo em que ele também convidou os seus fiéis a dedicar-se com paciência sobre as mesmas, afirmando que as provas da verdade são encontradas no contexto das próprias Escrituras[9].

            Pedro, como coordenador da Igreja.

            Santo Agostinho, bispo de Hipona dos séculos IV e V, ressaltou que Pedro foi apóstolo do Senhor Jesus Cristo. O Senhor lhe confiou o primado, no sentido de servir ao povo de Deus. Desta forma, ele coordenou a comunidade eclesial, a Igreja. Ele personifica a Igreja Católica, a quem foram dadas as chaves do reino dos céus, conforme concedida à Pedro por Cristo (cfr. Mt 16,19). O Senhor lhe solicitou um amor todo particular para assim apascentar o Seu rebanho (cfr. Jo 21, 15). Para o bispo de Hipona, a Igreja Católica deve perdoar os seus filhos, uma vez convertidos, confirmá-los na piedade. O próprio Pedro recebeu o perdão por ter negado o Senhor por três vezes (cfr. Mt 26, 70-74)[10]

Paulo, de perseguidor a apóstolo.

Santo Agostinho teve presente que Paulo era perseguidor dos santos (cfr. At 8,3; 9,1) e maltratou muito os cristãos (cfr. At 9,3s; 13,1s). No entanto, transformado em homem de fé e apóstolo, foi enviado a pregar o Evangelho aos pagãos e suportou em favor do nome de Cristo, sofrimentos maiores do que os tinha causado contra o nome de Jesus. Ele foi um grande fundador de comunidades entre todos os gentios onde semeava o Evangelho e pediu que eles fizessem coletas em favor dos pobres de Jerusalém e da Judéia que tinham acreditado em Cristo. Ele fez brotar entre gentios e judeus a presença do Senhor como pedra angular (cfr. Mt 21,42), na qual ambos seriam unidos pela caridade fraterna derrubando as paredes entre as duas partes (cfr. Ef2,14).

            Celebremos as duas colunas da Igreja de Cristo, São Pedro e São Paulo. Sigamos os passos do Senhor Jesus, por meio desses dois apóstolos e hoje na pessoa do Papa Francisco e de toda a Igreja, povo de Deus. Somos chamados a viver a unidade da Igreja de Cristo na sua diversidade. Vivamos o nosso batismo, os nossos compromissos cristãos em unidade com o povo de Deus, para um dia viver o amor de Cristo na eternidade.

[1]Cfr. D. Mazzoleni, Paolo apostolo, IV. Iconografia. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, diretto da Angelo Di Berardino.Marietti, Genova-Milano, 2008, pg. 3844.

[2] Cfr. V. Saxer, Pietro apostolo. In: Idem, pgs. 4068-4072.

[3] Cfr. Clemente aos Coríntios, 5,4-7. In: Padres Apostólicos. Paulus, SP, 1995, pg. 27.

[4] Cfr. Inácio aos Romanos, 4,2-3. In: Idem, pg. 105.

[5] Cfr. Ireneu de Lião, III,12,1. Paulus, SP, 1995, pgs. 286-287.

[6] Cfr. Idem, III, 12,2, pg. 289.

[7]Cfr. Idem, III, 12,5, pg. 291.

[8]Cfr. Idem, III, 12,9, pgs. 296-297.

[9]Cfr. Ibidem, III, 12,9, pg. 298.

[10] Cfr. Il Combattimento cristiano, 30,32. In:Opere di Sant`Agostino. Morale e Ascetismo cristiano. Nuova Biblioteca agostiniana. Città Nuova Editrice, Roma, 2001, pg 121.

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