Marabá, 04 de outubro de 2024

Atitudes no tempo do advento para a pessoa cristã: vigiar e orar

30 de novembro de 2022   .   

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

            O tempo do advento aponta para o santo Natal, o nascimento de Jesus Cristo na realidade humana. É um tempo especial, espécie de vento novo, que traz a novidade da vida sobre a morte, da alegria sobre a tristeza, pois o Senhor Jesus quer nascer nos corações das pessoas e do mundo. Advento é uma palavra latina: adventus-us, cujo significado é chegar, vinda, período de paz, preparação ao natal[1]. Seguidora do Senhor, a Igreja ouve a palavra de Cristo em referência ao vigiar e orar (cfr. Mt 26,41) para que este tempo seja cheio de graça, de paz e de amor para a chegada do Senhor nos corações humanos, na vida familiar, comunitária e social.

Os padres da Igreja elaboraram reflexões sobre o tempo do advento, de modo que é fundamental aprofundar-se em alguns pontos de suas doutrinas em vista da realidade atual. Eles seguiram as palavras do Senhor sobre a necessidade de vigiar e de orar, para que assim o nascimento do Senhor encontrasse os seus discípulos com ações que glorificassem a Deus e também preparassem as suas comunidades, ao encontro definitivo com Ele.

A espera pela vinda de Cristo.

Santo Efrém, padre da Igreja, século IV, da Síria, afirmou que os justos e os profetas esperaram a vinda de Cristo, porque eles acreditavam que Ele revelar-se-ia nos seus dias, assim também no atual momento cada fiel deseja recebê-lo, cada um no seu próprio tempo, do momento que ele não manifestou o dia da sua vinda. Ele fez isso, porque as pessoas não se detivessem somente ao fato e à hora, sendo ele poderoso nos tempos e nos momentos. Ele deu importância aos seus sinais, às suas palavras de vigiar e de orar para que assim todas as gerações e todos os tempos acreditassem que a sua vinda viria no seu tempo tendo uma espera frutuosa de obras boas para a sua chegada[2].

A revelação dada aos seres humanos.

A Carta a Diogneto, escrito do séculos II, afirmou que nenhuma pessoa viu, nem conheceu a Deus, mas ele próprio se revelou aos seres humanos (Jo 1,18). Deus e Criador do universo, que fez todas as coisas e as estabeleceu em ordem mostrou-se amigo de todas as pessoas, paciente e amoroso, porque somente ele é bom. Quando por meio do Filho amado revelou e manifestou o que tinha estabelecido desde o princípio, concedeu às pessoas participar dos seus benefícios e compreender coisas que nunca se teriam jamais esperado, o seu amor para com a humanidade[3].

A importância do óleo nas virgens previdentes pela vinda do noivo, Jesus.

O personagem Pseudo Macário, padre do deserto, final do século IV, falou da importância de levar consigo o óleo como as virgens previdentes fizeram em vista da demora da chegada do noivo, do Senhor Jesus, para não cair no erro das imprevidentes que não levaram o óleo consigo de modo que não puderam entrar na sala de festa do noivo, no Reino de Deus (Mt 25,1-13). As virgens previdentes acolheram nas vasilhas o óleo, a graça do Espírito Santo, as obras de caridade, e assim entraram com o esposo na sala nupcial, no céu, enquanto as outras, fechadas na sua natureza, não vigiaram e nem se preocuparam de fazer obras de caridade, de colocar óleo nas vasilhas, vivendo uma vida desligada da doação, do amor. Elas foram excluídas da sala nupcial do Reino, porque elas não foram agradáveis ao esposo celeste, o Senhor e nem se preocuparam do óleo, numa vida desligada do amor aos outros e a Deus. Mas aquelas que se dedicaram ao Senhor, à Igreja foram agradáveis ao esposo espiritual, do Espírito do Senhor com o óleo de exultação[4].

            A importância da vigilância.

Hesíquio Presbítero, século V, afirmava que a vigilância é uma atitude do coração, estranha a todo o pensamento, mas que invoca Cristo Jesus, Filho de Deus. A vigilância é o concentração de uma forma contínua do pensamento e assunção de uma atitude de estar à porta do coração, um modo de viver, como o advento, cujo significado refere-se a suplica por uma ajuda ao Senhor Jesus Cristo, para viver o seu amor. A oração precisa da vigilância como a chama tem a necessidade da lâmpada para dar a luz[5].

            As lamparinas acesas: obras de caridade.

São Cipriano, bispo de Cartago, do século III, afirmou a necessidade na pessoa de ter as lamparinas acesas com práticas de obras de caridade assim como no tempo dos apóstolos, pois as pessoas vendiam os seus bens, ofereciam aos apóstolos os lucros da venda dos seus bens para que tudo fosse distribuído aos pobres (cfr. At 2,42-44).

As pessoas são chamadas a vigiar no sentido do cumprimento dos preceitos do Senhor, para estar sempre prontos de modo que quando Ele vier e bater ao coração, logo a porta será aberta. Bem aventuradas as pessoas que o Senhor à sua chegada, encontrará vigilantes (cfr. Lc 12,35-37). O fato é que o Senhor encontre os seus discípulos com as luzes acesas quando chegar no dia da partida. A luz da pessoa brilhe sobre suas boas obras e ilumine o caminho para a luz do eterno esplendor. A Igreja espera com zelo e vigilância a vinda improvisada do Senhor, através dos mandamentos e preceitos do Senhor, para que assim o fiel não seja pego de surpresa pelo sono enganador do demônio, mas ele reine como servo vigilante do Cristo Senhor, triunfante[6].

            A vida presente é uma viagem.

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V, afirmou que os fieis que seguem o Senhor são caminhantes e peregrinos, porque a vida presente é uma viagem. É impossível dizer que a pessoa tenha esta ou aquela cidadania, pois nesta vida não há nenhuma cidadania, mas a pessoa a terá somente nos céus. O fato é que a realidade presente é um caminho. Muitos vão acumulando dinheiro, outros guardam ouro e jóias, sabendo que a vida do fiel é uma pousada de modo que a pessoa não se apegue demais nela, porque tudo passa e a vida do fiel leve-a na cidade do alto[7].

            A atitude da pessoa cristã.

São Basílio, bispo de Cesaréia, do século IV tinha presente o agir do cristão que consiste na fé através do amor (cfr. Gl 5,6). Este Padre da Igreja levantou perguntas, o que seria próprio do amor, senão aquele de guardar os mandamentos de Deus com o fim de dar glória ao Senhor. O que é o amor ao próximo? É a não busca das coisas próprias, mas aquelas daquele que se ama (cfr. 1 Cor 13,5) em benefício da alma e do corpo. O cristão é chamado a amar os outros, assim como Cristo os amou (cfr. Ef 5,2). É ver sempre o Senhor diante do próximo (cfr. Sl 15, 16,8). É próprio do cristão, vigiar todo o dia e toda hora (cfr. Mt 25,13) e de estar pronto a cumprir perfeitamente aquilo que é agradável a Deus (cfr. Mc 13,34), sabendo também que na hora, em que a pessoa não pensar, o Senhor virá[8]

            O tempo do advento visa obras de caridade.

São Gregório Magno, papa de 590 a 604, afirmou que o tempo do advento impulsiona as pessoas a fazer obras boas de caridade. O que será a pastagem das ovelhas se não a alegria interior de um paraíso verdejante? Será a passagem dos eleitos e das eleitas à presença da face de Deus, no qual o coração se nutre do alimento da verdadeira vida. O Papa convidou os fiéis para que buscassem estas pastagens, onde os participantes se alegrarão com a reunião festiva de tantos eleitos e eleitas. Esta alegria de quem participará à festa seja para todos um convite. O Papa tinha presentes à necessidade de acender o fogo na alma das pessoas para que fosse reavivada a fé nas coisas que sempre se acreditou, o desejo humano seja inflamado pelas realidades celestes. É preciso amar a Deus e às pessoas em tal modo que o desejo humano é a unidade com a pátria celeste[9].

            O advento é um tempo de preparação ao santo natal em vista do nascimento do Senhor Nosso Jesus Cristo na realidade humana. Ele alude à primeira vinda do Salvador, mas também a segunda vinda para as nossas vidas, de modo que é preciso viver o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A alusão é dada também à vida eterna, preparada neste mundo por obras de caridade, de modo que é preciso vigiar e orar.

[1] Cfr. Avvento. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 157.

[2] Cfr. Efrem Siro. Commento sul Diatessaron, 18,17. In: Ogni giorno con i Padri della Chiesa, a cura di Giovanna della Croce, presentazione di Enzo Bianchi. Milano, Paoline, 1996, pg. 380.

[3] Cfr. A Carta a Diogneto, 8, 5-11. In: Padres Apologistas. São Paulo, Paulus, 1995, pgs. 25-26

[4] Cfr. Pseudo-Macario, Omelie 4,5-6. In: Nuove Letture dei giorni, testi dei padri d´oriente e d´occidente per tutti i tempi liturgici. Scelta a cura dei fratelli e delle sorelle della Comunità di Bose. Magnano (BI), Edizioni QIQAJON, Comunità di Bose, 2012, pgs. 17-18.

[5] Cfr. Esichio Presbitero, A Teodulo 5-6, 14-18, 102, In: Idem, pgs. 18-19.

[6] Cfr. Cipriano di Cartago, L´Unità della Chiesa, 26-27. In: Idem, pgs. 13-14. Ver também: Cipriano de Cartago. Unidade da Igreja, 26-27. SP, Paulus, 2016, pgs. 154-155.

[7] Cfr. Giovanni Crisotomo, Omelia su Eutropio, 2,5-6. In: Idem, pgs. 14-15.

[8] Cfr. Basilio di Cesarea, Regole morali, 80,22. In: Idem, pgs. 15-16.

[9] Cfr. Gregorio Magno, Omelie sui vangeli I, 14,5-6. In: Idem, pgs. 20-21.

 

 

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