Marabá, 03 de maio de 2024

Campanha da Fraternidade 2023

09 de janeiro de 2023   .   

Tema: Fraternidade e Fome

Lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer (Mt14,16)

            Síntese a partir do Texto-Base[1]

            Olá povo de Deus: é com muita alegria e amor que nos dirigimos a todos vocês, povo de Deus. A seguir apresentamos a síntese do texto-base da Campanha da Fraternidade 2023 (CF). Quem não tem o texto-base poderá fazer a leitura desta síntese. Ela serve para compreender todo o texto-base. Em Cristo Jesus

            Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

 

Oração da Campanha da Fraternidade 2023

Pai de bondade, ao ver a multidão faminta, vosso Filho se encheu de compaixão, abençoou, repartiu cinco pães e dois peixes e nos ensinou “dai-lhes vós mesmos de comer”. Confiantes na ação do Espírito Santo, nós vos pedimos: inspirai-nos o sonho de um mundo novo, de diálogo, justiça, igualdade e paz; ajudai-nos a promover uma sociedade mais solidaria, sem fome, pobreza, violência e guerra; livrai-nos do pecado da indiferença com a vida. Que Maria, nossa Mãe, interceda por nós para acolhermos Jesus Cristo em cada pessoa, sobretudo nas abandonadas, esquecidas e famintas. Amém.

 

            Apresentação

            A Campanha da Fraternidade (CF) é o modo brasileiro de celebrar a Quaresma, ainda que não a esgote, mas dá um tom especifico em vista da conversão de vida das pessoas, católicos, católicas, pessoas de boa vontade. É preciso viver a Quaresma à luz da CF e viver a CF em espírito de conversão pessoal, comunitário e social. O tema é Fraternidade e Fome pois temos fome de Deus, de fraternidade, de paz, de amor, fome do pão do céu. A fome é a falta de alimentos para a pessoa humana de modo que clama aos céus o esbanjamento de algumas pessoas e a falta de alimentos para milhões de pessoas. Não há democracia se existe fome: Francisco. Mensagem ao diretório argentino do Comitê Pan-Americano de Juízes pelos Direitos Sociais e a Doutrina Franciscana, 2 de outubro de 2021. O Brasil sente fome, porque milhões de brasileiros e de brasileiras não tem a comida em seus lares de modo que a CNBB apresenta pela terceira vez a CF sobre a fome: 1975,1985 e 2023). Jesus não despediu as multidões com fome mas pediu aos discípulos para ver o que eles tinham e mandou-lhes dar-lhes de comer. Depois com o pouco que tinha, cinco pães e dois peixes, multiplicou os pães para a multidão faminta. A quaresma seja vivida em forte espírito de solidariedade. Sejamos solidários com as pessoas famintas. Todos trabalhem com políticas publicas em favor das pessoas necessitadas, com fome. Nós esperamos por graça de Deus que o Senhor diga que é para participar no seu Reino porque nós ajudamos pessoas que passavam por necessidades, damos de comer, de beber, porque foi a ele que nós o fizemos (Mt 25, 34-40). Tenhamos uma abençoada quaresma, no jejum, na oração, e na esmola, misericórdia.

 

            Objetivo geral:

Sensibilizar a sociedade e a Igreja para enfrentarem o flagelo da fome, sofrido por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos que transformem esta realidade a partir do Evangelho de Jesus Cristo.

 

            Objetivos específicos:

            Compreender a realidade da fome à luz da fé em Jesus Cristo;

            Desvelar as causas da fome no Brasil;

            Indicar as contradições de uma economia da fome;

            Aprofundar o conhecimento e a compreensão das exigências éticas e evangélicas da superação da fome;

            Acolher o imperativo da Palavra de Deus em vista da cor responsabilidade fraterna;

            Investir esforços individuais e comunitários, sociais, para a superação da miséria e da fome no Brasil;

            Estimular iniciativas de agricultura familiar agro ecológica e a produção de alimentos saudáveis;

            Reconhecer iniciativas conjuntas entre comunidade de fé e outras instituições da sociedade civil organizada;

            Mobilizar a sociedade para que haja uma sólida política de alimentação no Brasil, garantindo que todos tenham vida.

 

            Introdução à Campanha da Fraternidade. A quaresma é um tempo favorável de conversão, pessoal, interior, mas que não poderá dar-se simplesmente neste nível, pois ela mantém relações com as outras pessoas, a comunidade e a sociedade. Na Nova Aliança, a Igreja é chamada ser sacramento de salvação integral para o mundo (cf. LG, n. 48). Com Deus nós sonhamos um mundo justo e fraterno, tendo presentes as palavras do Senhor que diz que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). A CNBB dirige-se a todas as pessoas de boa vontade, homens e mulheres no País pela sexagésima vez, desde 1964 em relação à Campanha da Fraternidade como expressão de comunhão, conversão e partilha, tendo como objetivos permanentes; a) despertar o espírito comunitário e cristão para o bem comum; b) educar para a vida em fraternidade; c) renovar a consciência pela responsabilidade pela ação evangelizadora  em vista de uma  sociedade justa e solidária. A CF não é uma campanha sobre a quaresma porque os seus exercícios são importantes como a oração, o jejum, a esmola, caridade, Via-Sacra, retiros, confissões mas ela estimula estes exercícios para que na Quaresma, como tempo favorável à conversão tenha-se a conversão pessoal, coletiva, porque a fé tem a dimensão social. A CF questiona as pessoas de boa vontade para as transformações pessoais, comunitárias e social em vista da coerência do projeto do Reino de Deus, no compromisso com o Evangelho. A CNBB propõe para este ano o tema: Fraternidade e Fome, com o lema: Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).

 

            Introdução ao tema da CF 2023

            A fome é um instinto natural de sobrevivência em todos os seres vivos; é um presente do Criador para a preservação da vida. Ela indica a hora de comer. A pessoa necessita comer para o ser humano como necessidade de vida e sobrevivência humanas. Na sociedade humana, a fome é uma tragédia, um escândalo, sendo a negação da própria existência. O alimento é um principio de aliança e de comunhão. O Papa Francisco ao referir-se aos setenta e cinco anos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em 16 de novembro de 2020, afirmou que a fome para a humanidade não é só uma tragédia, mas é um vergonha. As causas são muitas como a falta de investimento no setor agrícola, o aumento dos conflitos em várias regiões do planeta e também toneladas de alimentos que são descartados; todos somos responsáveis.

             A fome é repudiada pela Doutrina Social da Igreja (DSI) porque os bens foram criados para todos por Deus e tem um destino universal e não privado. Os bens pertencem ao Reino de Deus (CDSI, n. 57). Se até o século XIX as populações eram dizimadas por causas naturais, hoje a situação é diferente de modo que a fome é uma desonra para a humanidade. O objetivo fome zero é um desafio não só para os países pobres, mas também aos países ricos para que todos impeçam o sofrimento de muitos irmãos e irmãs que passam fome (Papa Francisco no discurso da FAO, 27 de junho de 2019). O faminto está numa situação difícil, dolorosa porque está a pedir alimento para a sobrevivência. O ser humano tem sede de fome de comida e de justiça, necessitando de relações justas que lhe garantam a sobrevivência; a fome da cidadania, ser respeitado; tem fome de beleza, contemplar o belo, tem fome de sentido, é racional, precisa compreender as razões dos acontecimentos da sua própria vida e da história da humanidade, tem sede de Deus (Sl 41 [42]), 3). Pela terceira vez que a fome é tratada pela Igreja no Brasil na Campanha da Fraternidade. A primeira foi em 1975 cimo o tema: Fraternidade é repartir e o lema: repartir o pão como o clima do ano eucarístico que precedeu o Congresso Eucarístico Nacional de Manaus, como os mesmos tema e lema, desejando a intensificação do ano eucarístico em nosso povo. A segunda foi em 1985, outro ano eucarístico mas era em preparação ao Congresso Eucarístico de Aparecida, como o lema: “Pão quem tem fome”. Em 2023 logo após o décimo oitavo Congresso eucarístico Nacional, realizado em Recife de 11 a 15 de novembro de 2022, sob o tema “Pão em todas as mesas”, a Igreja enfrenta pela terceira vez o flagelo da fome, com um lema importante e uma ordem de Jesus aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). É vocação, graça cumprir a ordem de Jesus. A CNBB também tratou este tema em 2002 com o documento alimento, dom de Deus, direito de todos. Todos são chamados a confrontar com o Evangelho de Jesus Cristo frente ao grande desafio que é a fome.

 

            I – Na fonte da palavra

            Segundo São Mateus realizou Jesus o milagre da multiplicação dos pães (Mt 14,13-21) quando a população estava num lugar deserto, e Jesus sentiu compaixão por aquela multidão e no entardecer do dia os discípulos de Jesus disseram que era para Jesus despedir as multidões porque era já tarde, porque não tinham comida mas Jesus disse-lhes dai-lhes vós mesmos de comer(Mt 14,16). Jesus multiplicou os pães a partir dos cinco pães e dois peixes e ainda sobraram doze cestos de pedaços. Nunca habitou no coração de Jesus, a indiferença. Jesus sempre pensava nos outros, tinha compaixão. Ele sentiu-se comovido, pois estava próximo das pessoas para salvá-las. O Papa Francisco ressalta muito a parte de Jesus estar ao lado dos que sofrem. Ele multiplico os pães e os peixes para o bem de toda multidão faminta. O Senhor vai ao encontro das pessoas pelas suas necessidades e ele quer a nossa participação e compaixão (Francisco, Audiência Geral, 17 de agosto de 2016). O texto é o primeiro relato no Evangelho de Mateus conhecido como a multiplicação dos pães e está na metade do evangelho de Mateus. A sua mensagem era bem popularizada e era necessário que Jesus deixasse clara a natureza do seu messianismo que não era em sintonia com os anseios nacionalistas e triunfalistas da época. Jesus se recolheu depois de saber que o Precursor havia morrido por denunciar o pecado de Herodes. Jesus foi para um lugar deserto. O deserto é o lugar da partilha, da superação das dificuldades da caminhada. As multidões seguiam a Jesus neste lugar deserto e afastado. As multidões ficaram sabendo de Jesus que estava naquele local deserto e afastado, foram a pé ao seu encontro. Jesus sentiu compaixão pela multidão e curou os que estavam enfermos. A compaixão é própria de Jesus, porque é próprio de Deus ter compaixão para com os sofredores. Os discípulos queriam que Jesus dispersasse, ou despedi-las-ia. A tendência dos discípulos seria de lavar as mãos diante das necessidades dos outros, porque acolheram a Jesus para que ele mandasse embora para conseguir alimento. Mas Jesus lhes disse que não era despedi-las mas que eles dessem de comer. Dai-lhes vós mesmos de comer (Mt 14,16). Jesus comprometeu os discípulos para que eles sentissem a responsabilidade diante das necessidades dos outros, dos pobres e dos necessitados. É impossível ficar indiferente diante da fome do mundo e das pessoas. Saúde e alimentação devem ser prioridades na comunidade cristã. Eles disseram que tinham só cinco pães e dois peixes de modo que Jesus disse de trazê-los até ele. Apesar do pouco Jesus agiu diante do pouco. O pouco deve ser colocado a serviço de todos. Tudo passou por Jesus, porque ele mandou que as multidões se sentassem e ele tomou cinco os pães e dos dois peixes, os abençoou, deu aos discípulos e os discípulos distribuíram às multidões (v. 19). Jesus agiu como verdadeiro pastor, não ficando passivo, mas ativo em favor de todas as pessoas famintas, sobretudo. Os verbos utilizados são os mesmos da ceia eucarística. Todos comeram e se saciaram e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos (v. 20). O olhar compassivo de Jesus, a responsabilidade dos discípulos, fez com gerasse o  milagre do pão partilhado e a sobra porque todos comeram e ficaram satisfeitos. Como o alimento é dom de Deus não pode ser desperdiçado. Eram cinco mil homens sem contar mulheres e crianças. A prática que se coloca presente é o convite para a comunidade não ter medo de partilhar o que tem. A comunidade necessita criar condições dentro de si mesma a solução para os seus problemas, vencendo o egoísmo, a inveja, o orgulho e o desejo de poder; o evangelho nos ensina a superar a fome das pessoas necessitadas. A nossa responsabilidade de seguidores e de seguidoras de Jesus é dizer que 80 por cento da humanidade vive com apenas vinte por cento dos recursos disponíveis. Todos são chamados a estar a serviço da saúde, da educação, da habitação, do saneamento básico. Nós temos responsabilidades na forma como o mundo vai se construindo.

            Ver a realidade da fome

            Jesus viu uma grande multidão e se compadeceu delas (Mt 14,14).

            A fome é uma realidade no Brasil. Todos os anos batem-se recordes de produção e no entanto internamente o povo passa fome. O que falta-nos? Convertermo-nos ao evangelho, repartir com quem tem fome e edificar o Reino de Deus. A fome no Brasil não é só um problema ocasional mas um fenômeno social, coletivo, estrutural, reproduzido na sociedade, a fome não foi criada, mas radicalizada pela pandemia da COVID 19. A fome é um escândalo em nosso pais, porque 125,2 milhões não sabem quando terão a próxima refeição. É preciso ver a realidade da fome como Jesus viu a realidade. O tema da fome diz respeito a todos os cristãos, católicos e católicas de modo que a Igreja quer trabalhar neste ponto para atingir ao homem todo e a todos os homens (CDSI). N. 5

            O direito humano à alimentação adequada (DHAA).

            Os direitos humanos são direitos fundamentais da vida por fazerem parte da espécie humana. Eles são anteriores à legislações nacional, estadual e municipal. Ele devem assegurar à condição básica para uma vida digna, à liberdade, à terra, à saúde, à educação, á água, à moradia. Eles impedem de entender que a pessoa caia na tirania, e injustiça mas garantam a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Os direitos humanos foram assumidos pela Doutrina Social da Igreja na Carta Encíclica Pacem in terris em 1963 por São João XXIII, na Organização das Nações Unidas, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes do Vaticano II. Todos tem direito à uma vida digna para se viver e também na matéria religiosa (GS, n. 26). O direito à alimentação adequada é um  direito fundamental para a vida humana. Quando a pessoa assimilar o que é o ser humano, verá também  os seus direitos fundamentais pela sua dimensão histórico-temporal aquilo que é o ser humano. O direito humano à Alimentação Adequada é indispensável para a sobrevivência, na qual a pessoa deveria estar livre da fome como pré-requisitos para a realização de outros direitos humanos. A alimentação saudável é um direito garantido pelo Estado a todos os seus cidadãos.

            Os números da fome no Brasil.

            Os números são de abril de 2022 onde se dizem que 125,2 milhões de brasileiros convivem com alguma insegurança familiar, leve, moderada ou grave dentre os quais mais de 33 milhões de pessoas enfrentam a fome em nosso pais, sendo 15,5 por cento da população brasileira. A desigualdade de acesso aos alimentos se manifesta sobretudo em domicílios rurais, enfrentado a realidade da fome na região Norte e no Nordeste. A crise econômica, a pandemia e o desmonte das políticas públicas ajudam à insegurança alimentar e os números de pessoas famintas aumentou de uma forma considerável. Os resultados indicam um quadro preocupante de deteriorização socioeconômica e desigualdades na sociedade brasileira. A COVID-19 ceifou mais de 690 mil pessoas de modo que é urgente lutar por políticas públicas que auxiliem os grupos mais vulneráveis e promovam a segurança alimentar e nutricional e a redução das desigualdades sociais e das iniqüidades em nosso pais. Os pobres sãos as primeira vitimas da fome no mundo, pois ser pobre significa estar mais facilmente em perigo e ter menos assistência às enfermidades físicas. As crianças, as mulheres, homens desempregados, os anciãos sofrem mais  com a realidade da fome.

            As causas da fome no Brasil

            Os fatores climáticos podem ajudar nas causas da miséria e da fome, mas existem outros fatores em relação às causas da fome no Brasil. A primeira causa diz respeito no Brasil em relação à fome, a estrutura fundiária, a terra como foi historicamente distribuída no Brasil e continua a ser distribuída. Nos países de antiga ocupação como nos países europeus as terras foram divididas em pequenas áreas para a produção familiar e consumo local, enquanto os países de ocupação mais recente tendo presente a produção para grande produção e exportação como é o caso do Brasil, a distribuição foi feita de uma forma irregular, favorecendo o latifúndio e as desigualdades socioeconômicas; urge uma justa redistribuição da terra. Soma-se a isso uma política agrícola perversa, que coloca o sistema produtivo a serviço do sistema econômico-financeiro, que destina incentivos ao agronegócio exportador e o mercado internacional que define o que se deve plantar e colher e não em função da alimentação e nutrição da nossa população. A agricultura familiar não é valorizada, sendo aquela que produz mais alimentos para a mesa dos brasileiros. Se o agronegócio gera receitas, muitas vezes não promove nem o abastecimento nem o desenvolvimento local. Em geral no Brasil não se produz para comer, produze-se para lucrar e exportar. O Brasil sendo um dos maiores celeiros do mundo, produtores de alimentos, é assolado pela fome nas áreas rurais e suburbanas.

            Outras causas da fome referem-se ao desemprego e o subemprego ou trabalho informal que possibilitem a falta de alimento na mesa. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, a OIT no Brasil em 2022 tinha 14 milhões desempregados. Existe também a escravidão que não tem salário justo, horário justo de trabalho possibilitando a escravidão, não tendo o mínimo para comer. O Papa Francisco criou a Jornada Mundial dos Pobres. A fome deriva da pobreza por não ter uma política salarial. O pais é agroexportador mas vive internamente um mercado limitado de miséria. É preciso redistribuir a terra para todas as pessoas. A fome tem as suas causas também nos comportamentos morais lamentáveis, o egoísmo, o esbanjamento do dinheiro, luxo e não se olha para os pobres, a questão do analfabetismo, os partos precoces, a precariedade do emprego. Em 2019 houve o a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e outros programas como Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e também o esvaziamento dos estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Tudo isso facilita as causas da fome. As raízes da forme como nos fala o Papa Francisco (FT, n. 189) estão na distribuição iníqua da renda e das riquezas que estão nas mãos de poucos e a grande maioria não tem acesso as coisas e aos meios para a sua sobrevivência. A Doutrina Social da Igreja e as encíclicas sociais do magistério ajudam a ver também do Estado nessas questões.

            A geopolítica da fome no Brasil. A fome está presente nas áreas, domicílios rurais sobretudo no Norte e Nordeste do Brasil em vinte e um por cento. A insegurança alimentar atinge as famílias e a fome está presente em quarenta e três por cento das famílias com renda per capita de até um quarto do salário mínimo. Persiste a perversa dinâmica dos ricos serem cada vez mais ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres (Puebla III,3). A fome não é uma prioridade governamental porque é o lucro a prioridade maior; aos pobres resta a pecha social, a fome, porque não tendo teto, terra e trabalho não há uma vida digna de filhos e de filhas de Deus. O Papa Francisco insiste nos três T: Trabalho, Terra, Teto que ajudam a ter os direitos humanos corretos, dignos. Existe muita produção de alimentos, desperdício de alimentos e os pobres passam fome (Francisco. Discurso no II Encontro mundial dos movimentos populares; Mensagem à Pré-cúpula sobre sistemas alimentares da ONU).

            Fome e Sede: a escassez da água é outro problema atual, porque a geração de energia gera falta de água. A água é dom de Deus, não é um recurso ilimitado, devendo ter o seu uso racional. Deve-se trabalhar pela proteção do meio ambiente em vista da preservação da água. Dados indicam que quarenta e dois por cento tem insegurança com água e por isso gera a fome. Muitas vezes andam juntas a fome e a sede, de modo que não haverá segurança alimentar sem a segurança hídrica, devendo ter políticas de abastecimento  de água e de alimentos.

            Fome e crescimento demográfico.

            Será que o crescimento demográfico constitui uma causa ou será uma conseqüência do subdesenvolvimento? O fato é que densidade demográfica não justifica a fome. Alguns países pequenos como o Zaire ou a Zâmbia onde tem pouca população tem problemas sérios de fome. Não se deve reduzir o crescimento demográfico para diminuir a pobreza, mas de vencê-la para todos terem vida digna. A questão são a má gestão econômica e aos interesses financeiros, enriquecimento pela exploração da natureza (LS, n. 190). Desta forma o crescimento demográfico é plenamente compatível com um desenvolvimento integral e solidário de modo a não ser um pretexto para escolhas políticas econômicas não conformes à dignidade da pessoa humana (CDSI, n. 483).

            Fome e moradia.

            No Brasil existe um censo em andamento para saber as pessoas em situação de rua. Em 2020 estimava-se que 221.869 pessoas viviam em situação de rua no Brasil, número crescente pois em 2012 correspondia a 92.515 pessoas. O crescimento de pessoas de rua moram em situações precárias, de modo que a questão da fome e a questão da moradia andam sempre juntas, pelo crescimento da desigualdade social, acelerado pela pandemia. As pessoas de rua são invisíveis à sociedade brasileira. O Pais precisa de políticas sociais que atendam população de baixa renda, que luta por moradia e alimentação. Nos grandes centros há uma arquitetura hostil na permanência de pessoas  pobres, em especial as pessoas de situação de rua, nos espaços públicos. O afastamento dos pobres ajuda a esconder o drama da fome, a omissão da comunidade e do poder público. O desprezo dos pobres recebeu o nome de aporofobia, medo dos pobres, visto muitas vezes como alguém que ameaça o emprego, a segurança, e a atenção do Estado.

            Conseqüência da fome

            A fome ameaça a vida das pessoas e de sua dignidade, gerando uma debilidade do organismo, a apatia, a indiferença, a destruição da família, obrigando à separação por meio da migração forçada pela necessidade; gerando violência doméstica, violência no campo e na cidade. Os agricultores estão envelhecendo e os jovens não voltam para as suas realidades, o campo e as periferias urbanas vão inchando. A CNBB, pão para quem tem fome, na Campanha da Fraternidade de 1985 afirmava que a fome tem como conseqüência uma raça de crianças raquíticas, pessoas de baixa estatura e  outras conseqüências como pouco desenvolvimento intelectual e gente mais vulnerável a doenças. Outra conseqüência da fome é o desenvolvimento a doenças crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares em alimentos ultra processados ou ricos em carboidratos e gorduras e pobres em vitaminas e proteínas. Outra conseqüências da fome é a carga dupla da má alimentação pela insegurança alimentar, de modo que numa família podem ter indivíduos desnutridos e obesos ao mesmo tempo. O Brasil é campeão mundial em obesidade em crianças e mulheres em idade fértil. As principais vitimas da insegurança alimentar sãos as crianças pois com fome não tem desenvolvimento de órgãos, tecidos, o funcionamento cerebral, como a memória, a atenção, a leitura e a aprendizagem de linguagens. Assim o seu futuro poderá ser prejudicado. O relatório da UNESCO, em 2022 fala dos direitos humanos pela aprendizagem das crianças, jovens, os direitos à água, ao saneamento, à alimentação e nutrição saudáveis, à proteção social, a vida saudável e a superação de todas as formas de violência (UNESCO. Reintegrar nossos futuros juntos: 2022, p. 107). A questão da fome é mais perigoso em idosos e gestantes pela morte, devido as doenças crônicas o quadro metabólico. É preciso cuidar para que os ambientes educacionais sejam nutridos com alimentos saudáveis e própria educação contribua para a partilha com os mais necessitados e para a sustentabilidade. Existe também hoje uma crescente indústria de potências caríssimas para um público seleto que podem pagar absurdos por seus alimentos fitness, enquanto outros nada tem para comer. Outra conseqüência é o aumento da criminalidade pois aqueles privados de liberdade, no sistema carcerário não participaram no sistema de consumo, vindos de realidade de fome, miséria, desemprego e toda a sorte de privações. No Pais não existem uma agencia reguladora da alimentação como existe para os medicamentos e outras realidades, pois ajudaria nos alimentarmos bem e desconhecermos os alimentos que fazem mal ao nosso corpo.

            Fome e política.

            Herbert de Souza, na década de 1990 que mobilizou a sociedade para o drama da fome dizia a situação dos famintos era a questão política; a alma da fome é política. Josué de Castro denunciava a conspiração do silencia em torno da fome. A fome é uma situação pontual e jamais estrutural; parece que existe o silencio com a fome, o silencio nacional e internacional em relação à fome (FT, n. 29): Francisco. Carta Encíclica Fratelli Tutti: sobre a fraternidade e a amizade social. Documentos pontifícios, 44, Brasília: Edições CNBB, 2020. É claro que quanto menos renda, mais fome, de modo que é preciso políticas sociais que ampliam desproteção de camadas mais pobres da sociedade (Analise da Conjuntura, do dia 25 de abril, assembléia da CNBB, 2022). A fome se articula com a política brasileira entre patrimonialismo, a confusão entre o público e o privado, o assistencialismo, a exploração da fome para garantir a política municipal, estadual ou federal; o clientelismo, velha tradição do coronelismo que tem a fome como garantia de troca de votos; as políticas públicas que vem uma grave crise, pelo desmonte do Estado, que não tem como prioridade o combate à fome. O poder legislativo tem a responsabilidade de mudanças estruturais para combater a fome e a miséria, de modo que muitas vezes percebe-se o contrário nas suas legislações. A partir do evangelho é preciso votar em projetos aos programas dos partidos para redundar em mais vida para todos. No mundo e também no Brasil numerosas situações estão voltando que provocam a fome a miséria como revoluções sem êxito, deslocamento de populações, lutas tribais, desorganização da agricultura, genocídios; tudo isso e outros fatores não eliminam a fome. A fome é criminosa, a alimentação é um direito inalienável (FT, n. 189). São importantes as ações das Igrejas, organizações sociais, governos nas emergências com ajudas, cestas básicas. É fundamental afirmar que a responsabilidade maior por enfrentar e solucionar os problemas da miséria e da fome pertence ao poder público, com políticas sociais importantes, pois o Brasil já estava fora do mapa da fome e retornou novamente. É importante a criação dos Conselhos Municipais de Segurança Alimentar, instrumentos de políticas públicas na superação da fome e a também é preciso valorizar a agricultura familiar, pois ali se opera a resistência à fome.

            Fome e Cuidado com a Casa Comum

            A fome destrói a casa comum. Os habitantes da Casa Comum são chamados à vida de um projeto de fraternidade universal. É preciso criar relações cada vez mais solidarias (Pontifício Conselho Cor Unum. A fome no mundo, cidade do vaticano, n. 2). Nos países em vias de desenvolvimento que vivem de uma agricultura de subsistência a penúria vem pela subnutrição porque no intervalo de duas colheitas, não há alimentação. É impossível uma alimentação saudável sem a questão dos agrotóxicos. Combater a fome é construir saúde humana e ambiental. O Brasil é o campeão mundial de uso de defensivos agrícolas, tendo uso de defensivos, mas que são proibidos em outros países da Europa e dos Estados Unidos. Muitas águas, hortas, nascentes são contaminadas pelos defensivos agrícolas proibidos em outros países. Até no leite materno já foi identificado a presença de agrotóxicos. Vilão da casa comum é o descarte e o desperdício; aquilo que descartamos ou desperdiçamos é, precisamente o que falta à mesa dos famintos e miseráveis. É preciso a valorização dos povos originários, tradicionais e do campo, seus saberes comunitários agro ecológicos para combater a fome dentro da ecologia integral. Os guardiões e guardiãs de sementes nativas se opõem às ações de biopirataria que reduzem as sementes, ao alimento a mercadorias, sementes corporativas.

            Fome e educação

            Como foi importante a CF 2022 a respeito da educação, porque ela cumpre um papel fundamental desde a família até a universidade. Lá se aprende os hábitos de alimentação saudável, o lugar da partilha, a fraternidade a solidariedade, a superar a cultura da indiferença pelo exemplo dos pais e dos avós. Na escola aprofundamos estes bons hábitos, dando razões para eles. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é uma das melhores políticas publicas no combate à fome e à insegurança alimentar no Brasil, pois ainda que ultimamente reduzisse os recursos é para 40 milhões de estudantes na sua grande maioria a única refeição do dia, de modo que é fundamental incentivar esta política pública. Os alimentos são adquiridos da agricultura familiar, assentamentos da reforma agrária e comunidades tradicionais. Como dizia Paulo Freire de modo nenhum separar a luta para comer da educação. É preciso olhar para longo prazo para vencer a fome (CNBB. Pão para quem tem fome. Campanha da Fraternidade 1985, n. 90).

            O muito que se tem feito no combate à fome

            Muita gente está trabalhando contra a fome, como Igrejas, os movimentos sociais, as ONGs. É preciso valorizar as redes de proteção alimentar que já existem no combate à fome. A Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) fundada em 23 de abril de 1833, em Paris, entre os quais o beato Antônio Frederico Ozanan, é uma organização civil de cristãos leigos e leigas dedicada ao serviço da caridade. No Brasil possui 153 mil membros que matem creches, escolas e sustentam 74 mil famílias em situação de necessidade. A Caritas Brasileira fundada em 12 de novembro de 1956 é uma das 170 organizações-membro da Caritas Internacional. Ela atua em três frentes como Campanhas Emergenciais, Implementação de Projetos Produtivos Comunitários e Incidência Política. A pobreza e a fome não são castigos de Deus, mas são resultado de um modelo social, político, econômico injusto. Na década de 1980, as CEB´s de SP articularam o congelamento de preços de gêneros de primeira necessidade que ganhou o nome de Movimento do Custo de Vida (MCV), conhecido como Movimento Contra a Carestia (MCC). A Pastoral da Criança criada em 1983 pela médica Zilda Arns ajudou com a multimistura a salvar crianças da desnutrição, efeito perverso da fome. Existe também a Política Nacional de Alimentação e Nutrição para a promoção da alimentação nutricional saudável. No tempo da pandemia toneladas de alimentos foram distribuídos para a alimentação faminta. No Cenário brasileiro sente-se a ausência dos bancos éticos que conectam poupadores e investidores que beneficiam pessoas em situação de vulnerabilidade e de fome. No Brasil não existe nenhuma instituição financeira afiliada à Aliança Global para Bancos com Valores. A fome é combatida com política pública. Em 2003 o Pais teve a estratégia Fome Zero que nasceu com o objetivo de erradicar a fome e reduzir a pobreza extrema, através dos alimentos, fortalecimento da agricultura familiar, acesso à água, redistribuição da renda. A CNBB participa com a Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 885, com medidas para mitigar o cenário de insegurança familiar no País e também com Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) com projetos de auxilio à situação de insegurança alimentar.

            A economia solidária

            Nestes últimos anos é fortalecida a economia solidária. É um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver; é uma inovadora alternativa de geração de trabalho e rende e uma resposta a favor da inclusão social. É um conjunto de atividades econômicas de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito, organizadas sob a forma de autogestão. A economia solidaria é um trabalho de cooperativas, tendo a pretensão de diminuir a desigualdade na sociedade sendo uma economia colaborativa, não de competição, tendo também a divisão do lucro. A economia solidária tem crescido no mundo e no Brasil com a Política Nacional da Economia Solidária (PNES) que exigem das cooperativas o pagamento dos direitos trabalhistas para diminuir as cooperativas de fachada e aumentaria o desenvolvimento da economia solidária no Brasil.

            A economia de Comunhão

            Originária dos Focolares, de Chiara Lubich a economia de comunhão tem o objetivo de produzir riquezas em favor dos necessitados, fazer projetos de formação cultural e de incentivo ao empreendedorismo e o incremento da própria empresa. No Brasil tem 177 empresas de 12 estados. As empresas ligam-se aos jovens de baixa renda e a superação de vulnerabilidade econômica. A gestão busca humanizar as práticas de mercado, enxergar o outro, novas relações com os funcionários, os clientes, os fornecedores e os competidores.

            A Economia de Francisco e Clara

            Em maio de 2020, o Papa Francisco convocou em Assis, Itália, uma reunião com jovens economistas, empreendedores e ativistas para a economia de Francisco a exemplo de Francisco que se despojou de tudo para escolher a Deus, tornando-se pobre com os pobres e irmão de todos. A economia de Francisco e de Clara é uma economia de partilha, da cooperação e da ecologia integral. O objetivo da economia de Francisco e Clara é repensar e humanizar a economia, torná-la mais justa e sustentável, assegurando um novo protagonismo para os pobres, excluídos em vista de um amanhã mais solidário, fraterno. No Brasil a Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara (ABEFC) reúne juventudes, movimentos populares, intelectuais, pastorais, religiões em vista do território, movimentos populares e educação. Incentivam cooperativas populares, ruralizando amplos setores para um novo modelo econômico para uma gestão voltada ao investimento e democratização da economia por orçamento participativo e desenvolvimento territorial.

            Onde todos são irmãos e não lugar para a forme

            O olhar à nossa realidade em nosso Pais, inquieta diante do nosso Brasil, terra rica, bela, abundante com um povo bom e solidário, no entanto não se parece com Reino desejado por Deus e apresentado por Jesus: aqui nem todos tem vida em plenitude, não somos verdadeiramente irmãos e irmãs. O Pais não é ainda nossa Casa Comum; porém não podemos deixar de sonhar o sonho de Deus, em vista do evangelho da partilha, e de um mundo novo. O papel da Igreja é profético, defendamos os interesses de Deus que são os interesses dos pobres, dos famintos. A fome ofende a Deus; a solução são políticas públicas eficazes. Se eu tenho fome, o problema é meu. Se meu irmão tem fome, o problemas é nosso, dizia o servo de Deus, Dom Helder Câmara.

 

            III – Iluminar com a luz da Palavra.

            Jesus, porém, lhes disse: Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós, mesmos de comer (Mt 14,16). 

            A palavra divina ilumina a existência humana (DV, n. 99: Bento XVI, Exortação Apostólica Pós-Sinodal). Ela ilumina as sombras e indica caminhos de paz e de amor. Diante do tema da Campanha da Fraternidade 2023, a Igreja se coloca a serviço do Evangelho para ouvir a voz do Senhor no momento atual. O Senhor mesmo nos diz que é uma expressão de coragem ao ouvir o apelo do Senhor: Dai-lhes vós mesmos de comer (Mt 14,16), sendo o lema escolhido para a Campanha da Fraternidade 2023. É preciso colocar-se sob a luz da palavra de Deus, sendo uma atitude profética da Igreja, pois só a Palavra de Deus responde às indagações mais veementes, em vista de soluções concretas.

            Sim, eu conheço seu sofrimento (Ex 3,7)

            A fome, segundo a Escritura sempre foi flagelo do povo, sentido com grande compaixão por Deus. Deus se revela como um Deus que é dado de uma forma comunitária, que vê o sofrimento humano e age pela sua libertação. A perspectiva do Êxodo perpassa o AT relacionando Israel a Deus e à Aliança com Ele, a vida de um povo e de a vida em comunidade. O Deus libertador é o Deus também que alimenta o povo faminto. O maná, que é isto? (Ex 16) expressão que não pode ser traduzido, era um alimento misterioso e também era mistério quem o dá. O Maná era expressão da compaixão de Deus, que caminha junto de seu povo, é marca de seu poder prodigioso e é também provação para o seu povo para diante da fartura ter somente o necessário. A Casa comum produz o necessário mas a retenção egoísta de poucos leva à fome para outros. É preciso superar a retenção do alimento. A escravidão foi rejeitada por Deus de modo que partilha do alimento foi se tornando sinal de pertença ao povo de Deus. A terra prometida foi conhecida como a terra onde corre leite e mel (Ex 33,3). Aqueles que não queriam a partilha ficaram na terra da escravidão porque a oferta de alimento para todos está ligada à libertação e à fidelidade ao Deus único. A hospitalidade será uma prática do povo escolhido que tinha um ritual como saudação, o lavar os pés, a partilha de um banquete. Abraão realizou estas coisas (Gn 18) e também a viúva de Sarepta com Elias (1 Rs 17,8ss). Jesus também acolheu os seus discípulos em sua aliança, por meio de uma Ceia (Mc 14; Mt 26; Lc 22, Jo 13). Jesus se doa a si mesmo para o bem da humanidade e de todos nós. Os profetas denunciaram aos governantes a falta do pão. Eles denunciavam a fé professada não se traduziam na fé vivida. Para eles não interessava os jejuns, os sacrifícios se não fossem as ações humanas para as pessoas mais vulneráveis como a viúva, o órfão, o pobre (Am 6,1-6); existiam textos que proclamam a saciedade com o alimento abundante (Is 55,1-3). Jesus estava em coerência com o AT pela sua predileção aos famintos. No pedido do pai nosso fala do pão cotidiano (Mt 6,9-13). Dar um pão ao filho é sinal de responsabilidade (Mt 7,8-11). Jesus é o pão descido do céu no significado de sua pessoa e à salvação que oferece (Jo 6). A prática das comunidades cristãs nos Atos dos Apóstolos tem como característica principal a comunhão na fração do pão (At 2,42-46). A comunhão não era apenas ritual nas celebrações da Eucaristia, mas também era material que incluíam a fome (At 4,32) e todos temiam para evitá-la (At 11,27-30). Os relatos eucarísticos foram importantes na vida da comunidade e do próprio Senhor Jesus Cristo. O mais antigo que é o de 1 Cor 11,17-34 coloca a Eucaristia como compromisso com o amor mutuo para superar o egoísmo, a despreocupação com a fome de outros. Em relação às memórias sobre Jesus e de sua ressurreição um dos relatos importantes é sobre a alimentação de uma multidão que aparece recontada também em João; Mc 6,30-44;Mc 8,1-9;Lc 9,10-17;Mt 14,13-21; Mt 15,32-39; Jo 6,5-15.

            Um caminho orientado por Mateus

            Cada evangelista ao narrar os fatos sobre Jesus quis ter presente as suas comunidades, não sendo diferente para Mateus. Enquanto Marcos se dirigiu aos cristãos advindos do paganismo, Mateus escreveu no ano 80 para os judeu-cristãos e gentio-cristãos na narrativa sobre Jesus no seu projeto de salvação e como Filho de Deus tem a autoridade para apresentar a correta interpretação da Lei de Moisés. Orientados na CF de 2023 seguimos o trecho de Mateus como os discípulos de Jesus para estar atentos aos ensinamentos de Jesus e sermos os líderes a exemplo do Mestre em nossas comunidades. O evangelho de Mateus coloca misericórdia e à solidariedade pelas necessidades do outro, especialmente com os pobres. O AT tinha dito que o amor a Deus devia ser traduzido no amor ao órfão, à viúva e ao estrangeiro. A misericórdia e o amor cristãos impeliam a todos à partilha do muito e à partilha do pouco que se tem. Não são responsabilidades de poucos ricos, mas compromisso de todos. A Campanha coloca o texto de Mt 14,13-21 a multiplicação dos pães, após ele saber que houve a morte de João Batista, e o desejo de retirar-se para rezar e a multidão que acorreu a ele. Jesus se dedicou totalmente aos outros. O alimento que Jesus oferece é resultado de compaixão, refeição de hospitalidade. A multidão sentiu-se amparada ao sentar-se na relva por causa de Jesus, que carregava o peso da luta diária, e ele carregará mais tarde nos próprios ombros o pesado madeiro da cruz.

            Dai-lhes vós mesmos de comer (Mt 14,16)

            A fome em Mateus era uma pauta urgente em seu tempo. Havia uma alta carga tributária imposta pelo Império romano aos camponeses no tempo de Jesus na Palestina, que vendiam as suas propriedades, uma classe de pobres que iam morar nas cidades, marginalizados dos povo de vista social e também religioso. A constatação da fome da multidão que os discípulos fizeram a Jesus, fez com o Senhor desse uma ordem para eles mesmos darem de comer: dai-lhes vós mesmos de comer. É a ordem de Jesus para os discípulos, sendo uma conclamação à responsabilidade; é o centro do evangelho está a ordem de Jesus, que convida a todos a interioridade e a exterioridade, o espírito e a prática. A pessoa que segue a Jesus imita a ação de Jesus, leve a imitar a sua ação; compaixão e ação. Jesus encheu-se de compaixão ao ver a multidão e curou muitos enfermos (Mt 14.14). Deus sentiu compaixão para com o seu povo escravizado no Egito: Jesus sentiu compaixão por aqueles que sofrem. Se no evangelho de Marcos a compaixão de Jesus o levara a ensinar as multidões (Mc 6,34ss), em Mateus sua compaixão o impele ações práticas, concretas. Ele cura, os discípulos e vai dar de comer. Olhando os dois evangelhos de Mateus e de Marcos, percebemos que é o alimento dado pela Palavra que nos leva à preocupação para dar o pão para quem não o tem. O chamado à responsabilidade a desobediência de Adão e Eva para com Deus, o fratricídio de Caim em relação ao seu irmão Abel: por caso sou o guarda do meu irmão? (Gn 4,9). Jesus quer responsabilidades em relação às pessoas, aos irmãos e irmãs. Diante da indiferença Jesus contrapõe a responsabilidade fraterna, de modo que ele não despede ninguém sem saciar a sua fome ou sua sede. Ao multiplicar o pão Jesus agiu para suprir as necessidades do outro.

            Um novo Moisés

            A narrativa colocou a referência a Moises, mas que Jesus era o novo Moisés, superior multiplicando os pães para o povo faminto. Se no deserto o povo é alimentado com o Maná de Deus, na narrativa de Mateus é também o Senhor quem alimenta seu povo, sensível a sua fome de pão. Mateus quis colocar a multiplicação no deserto, assim como o povo de Israel estava no deserto para comer o Maná. Jesus é o verdadeiro alimento que é dado no deserto (Mt 14,13.15). Se o deserto é o lugar de provações, de manifestações, aqui foi o lugar de farturas, de comida. Jesus é o novo Moisés que fez do deserto mais terríveis, prover o sustento do povo. Nós somos colocados no lugar dos discípulos para fazer o caminho fraterno através da quaresma, que nos impele uma revisão de vida, que nos relaciona melhor com o Senhor e com os outros. Jesus, o novo Moisés alimenta o seu povo e a nós não mais com o Maná que caia dos céus, o ou pão partilhado, multiplicado mas com a responsabilidade fraterna. Diante das necessidades do outro, será preciso agir para o bem de todas as pessoas. Se o caminho quaresmal coloca o caminho rumo à salvação plena, a Páscoa, é oportuno acompanhar o novo Moisés que Mateus colocou no sentido de fazer tudo quanto se quer que os outros façam a nós, nós também façamos a eles (Mt 7,12) e também o juízo final de que a pessoa estava com forme e sede, e nós damos de comer e de beber, porque foi a ele que o fizemos (Mt 25,35-40).

            Um novo Eliseu

            O texto de Mt 14,13-21 tem presente também a narrativa do AT com Eliseu (2 Rs 4,42-44) que alimentou com vinte pães, cem pessoas e Jesus com cinco pães,e dois peixes, cinco mil pessoas. Jesus é superior a Eliseu e ele é o profeta por excelência aquele que alimenta com a palavra com a confiança em Deus e com o pão para se ter dignidade humana; a atividade profética foi denunciada em Eliseu e sobretudo com Jesus porque o estrangeiro, a viúva e o órfão não eram bem acolhidos e valorizados. Eliseu, sobretudo, Jesus assumiram atitudes concretas para o bem do povo de Deus.

            A Igreja que distribui a Eucaristia partilha, também, a compaixão

            A narrativa de Mt 14,13-21 faz os discípulos a agirem pelo bem dos outros. Jesus os convocou a não ficar parados. Os discípulos são formados para a confiança no Senhor a alimentar uma multidão com os recursos à disposição ainda que sejam insuficientes, sem perderem a responsabilidade social. São muitos os sinais literários que identificam o texto de Mt 14,13-21 à Eucaristia. Ao entardecer, traze-os aqui aponta para a solenidade da Páscoa (Mt 26,26). Os discípulos distribuíram o pão multiplicado: a eucaristia é o pão que Jesus ofereceu à humanidade e a Igreja para manter a unidade e a comunhão fraternas. O capitulo XIV é uma referencia à Eucaristia assim como São João associa o lava-pés ao mandamento do amor, Mateus no contexto da Ceia pascal associa à Eucaristia. Pela eucaristia a pessoa é convidada a repartir e distribuir a eucaristia a responsabilidade pela fome dos irmãos e das irmãs, pelas necessidades mútuas. A narrativa de Mateus teve presentes os cinco pães e os dois peixes, número sete, perfeição, que Jesus saciou sendo o novo Moisés; os doze cestos que sobraram os pães representaram os doze discípulos do Senhor; são cinco mil homens sem contar as mulheres e as crianças; Jesus saciou a fome de uma grande multidão.

            Eucaristia e responsabilidade social

            É preciso viver a eucaristia no mundo de hoje com responsabilidade social. A celebração da eucaristia não nos faz uma comunidade de eleitos, separados do restante do mundo, mas nos faz ligados à missão dada por Jesus: Dai-lhes vós mesmos de comer (Mt 14,16). Nós devemos estar próximos das pessoas que sofrem para ajudá-las a dar de comer, assim como fez Jesus na grande multidão. Para São Jerônimo a glória do bispo é ajudar a necessidade dos pobres e a ignorância dos sacerdotes é afanar-se por suas próprias riquezas, PL 60, p. 306. A eucaristia leva a conversão interior e exterior para o compromisso com os mais pobres. A comunidade primitiva era que nenhuma pessoa passava fome (aspecto individual) porque todos colocavam tudo em comum (aspecto comunitário). São João Crisóstomo denunciava a falta de amor e solidariedade para com os pobres, porque muitos cristãos saiam das Igrejas e não percebiam os pobres ao seu redor e até apressavam o seu passo para não ver ninguém, e depois pediam a Deus misericórdia e perdão de seus pecados (João Crisóstomo, Discurso sobre o Gênesis, PG 54r, p. 602-604). Ainda São João dizia a respeito da eucaristia pelo compromisso que advinha se a pessoa queria honrar o corpo de Cristo não seja desprezado nos seus membros, nos pobres, que não tem o que vestir, o que comer, estão nus, passam fome. O que adiantaria adornar os altares de vasos de ouro, cálice de ouro, se o pobre é desprezado; é preciso honrar o pobre porque é um templo de todos o mais precioso (João Crisóstomo, PG 58, p. 508-509) A eucaristia leva a solidariedade, ao destino universal dos bens. Na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis o Papa Bento XVI afirmou que a união com Cristo pela eucaristia compromete com os outros, sobretudo os mais necessitados; é compromisso social, na restauração da justiça, da paz e do amor. O mistério celebrado leva a dignidade do ser humano no qual o Cristo derramou o seu sangue, reafirmando o valor de cada pessoa (SCa, n. 89). O Papa Francisco na Exortação Apostólica Gaudete e Exultate afirma que o compromisso social não é superficial para o seguidor ou seguidora de Jesus Cristo, quando luta pelo nascituro, porque é uma vida que está em jogo, mas também pelos pobres, pela superação da miséria, da exclusão, da escravidão, do descarte de pessoas. Não é comunista, populista mas pessoa que ama e segue Jesus Cristo. A pessoa não deve buscar uma santidade fora da realidade mas dentro da mesma para transformá-la conforme o plano de Deus (GeE, n. 101). Padre Pedro Arrupe, Prepósito-Geral dos jesuítas entre 1965-1983 no Congresso Eucarístico de Filadélfia em 1976 dizia que a celebração eucarística deve contemplar a todas as pessoas, sobretudo os pobres porque se houver alguém que passa fome no mundo a celebração estará incompleta. É preciso que andem juntas a celebração eucarística e a realidade social. A comunhão com o Corpo e o sangue de Cristo ajuda-nos a participar junto com as pessoas necessitadas. Cristo Jesus se dá para nós no todo; nós devemos nos dar aos irmãos e irmãs. A eucaristia nos leva a amar os outros e ao amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A eucaristia transforma o mundo, pelo pão partilhado como nos fala o Papa Francisco. O texto do evangelho para a CF 2023 coloca uma multidão faminta, os discípulos que não sabem o que fazer, mas Jesus age a partir do pouco com a ordem que eles deviam dar de comer. Houve a multiplicação dos pães por parte de Jesus, a ação dos discípulos em distribuí-los, a saciedade porque sobraram doze cestos de pedaços dos pães. Quando olhamos a situação da fome no Brasil, percebemos a abertura de produção e da exportação de alimentos e a situação de Fome internamente que interpela a todos a agir pela superação da fome de milhões de pessoas. A fraternidade cristã vai junto com a profecia e compaixão, porque a profecia começa sendo compaixão para depois tornar-se ação concreta, individual, comunitária, eclesial e socioambiental.

            IV Agir para transformar a realidade da fome

            E mandou que as multidões se sentassem na relva (…); partiu os pães e deu aos discípulos, e os discípulos os distribuíram às multidões (Mt 14,19).

            A fome nos desafia e desinstala. É preciso agir. O drama da fome é urgente porque chega aos ouvidos do Bom Pastor para a resolução do problema pela lógica de Jesus e do seu Evangelho. É a lógica também da Quaresma que nos prepara para a Páscoa. Quando nós celebramos a eucaristia, ouvimos a Palavra de Deus, quando assumimos os exercícios da oração, do jejum e da esmola recordam que o pão não é meu, mas nosso; é de todos. No Pai nosso dizemos o pão nosso de cada dia. É preciso partilhá-lo com as pessoas que ainda não o tem, diminuindo assim o escândalo da fome e da subnutrição (SCa, n. 91). O motor do nosso agir não é outro senão a mística do seguimento de Jesus. A caridade não pode morrer entre os cristãos; é o amor-caridade, ágape nasce da experiência de sermos amados por Deus e de amar os outros. Seremos julgados pelo amor porque o Senhor nos pedirá que ele estava com fome, e nós damos de comer, e assim por diante (Mt 25,35-36). O agir da CF 2023 se situa no horizonte das obras de misericórdia, nas quais seremos julgados no último dia. A caridade é condição de sobrevivência para um grande número de seres humanos. Ela deve ser dada em nível assistencial, o faminto necessita do pão; em nível promocional e sociopolítico, vendo as causas que levaram as pessoas a terem fome, a lutar por políticas publicas, do Estado para que as pessoas famintas saiam desta situação, para assim recuperar a sua dignidade. As pessoas devem ganhar o pão de cada dia, com o suor de seu rosto. É preciso superar uma sociedade de famintos e de famintas. Já em 1979 a CNBB falava nos Subsídios para uma Política Social, n. 51-52 que a alimentação de oitenta por cento dos brasileiros se reduzia a oito alimentos. Era preciso criar investimentos populares para destinação coletiva e social dos bens das pessoas para os mais pobres. Em 1980, o Papa São João Paulo II ao estar em Teresina disse que fome de Deus, sim; fome de pão, não. Por isso ele disse que o inicio do novo milênio de como seria possível ainda hoje pessoas morrerem de fome, terem o analfabetismo, a privação dos cuidados médicos, pessoas que não tem onde se abrigar (NMI, n. 50). A Igreja com a sua Pastoral Social ajuda com a sua criatividade pastoral as pessoas mais carentes, na luta pelo bem e por políticas públicas (DAp, n. 402-403). Não se pode correr o risco de ouvir do Senhor que ele estava com fome e nós não damos de comer (Mt 25,42). O Concílio Vaticano II também disse se nós não alimentarmos quem tem fome, nós o matamos (GS, n. 69). Cada pessoa, grupo, comunidade, instituição fará o possível em ações para diminuir o flagelo da fome. A seguir algumas sugestões para a ação, sem a intenção de esgotá-las.

            Propostas de ação pessoal: o que eu posso fazer?

            Partilhar, praticar a partilha na família, na comunidade, na escola, no trabalho, converter o resultado do jejum em Alimento para quem precisa; colaborar nas campanhas de arrecadação de alimentos; participar dos conselhos de direitos, humanos, da criança, do adolescente, da juventude, da pessoa idosa, de saúde; praticar o voluntariado; preparar uma refeição saudável no domingo de Páscoa; participar nas discussões sobre políticas públicas; apoiar e participar de alguma pastoral social;

            Propostas de ação comunitário-eclesial: o que nós – comunidade-Igreja – podemos fazer?

            A coleta Nacional da Solidariedade no Domingo de Ramos: sessenta por cento ficará no FDS: Fundo Diocesano de Solidariedade e quarenta por cento irá para o FNS: Fundo Nacional de Solidariedade; fazer um levantamento das pessoas que passam fome; articular os MCS para divulgar ações em favor das pessoas necessitadas; incrementar hortas comunitárias; desenvolver ao final das celebrações ações em favor de geração de renda, trabalho; promover o serviço da caridade; avaliar o serviço da caridade para com aqueles que mais precisam; como eles participam? Realizar encontros de formação com os ministros extraordinários da sagrada comunhão, equipes de liturgia para a relação Eucaristia e fome; envolver-se em iniciativas ecumênicas; motivar as pessoas para a participação nos conselhos comunitários; incentivar o voluntariado no campo da assistência; promover as sextas-feiras da fraternidade; valorizar a Jornada Mundial dos Pobres; educar para a solidariedade; apoiar as casas de Francisco e Clara; criar escolas de Fé e Política; cuidar para que as festas comunitárias sejam ocasiões para comidas saudáveis; realizar uma semana social em cada Diocese; promover a DSI: Doutrina Social da Igreja; ajudar os pobres;

            Propostas de ação sociopolítica: o que nós – sociedade cidadã – podemos fazer e cobrar daqueles que elegemos para nos governar mediante cargos públicos?

            Sociedade civil: despertar as pessoas para que se espanque a continuidade da miséria e da fome; propor o tema da fome nas associações de bairro, sindicatos, câmaras municipais, ouvir os pobres e famintos; promover o voluntariado; incentivar a comercialização de alimentos sadios para a mesa do pobre; realizar a partir dos CRAS – Centros de Referencia da Assistência Social ações de solidariedade em áreas de carência; organizar grupos de orientação e educação alimentar; promover audiências públicas que discutam a situação da fome; desenvolver atividades interdisciplinares nas escolas sobre o tema da fome; organizar hortas comunitárias; cuidar das festa populares;

            Governo Municipal: implementar políticas públicas para a erradicação da fome; incentivar a agricultura familiar; valorizar a compra de alimentos da agricultura familiar; ampliar os mercados populares; combater os lixões ilegais; estimular o pequeno o produtor e o pequeno comércio;

            Governo Estadual: implementar políticas públicas para a erradicação da fome; investir na alimentação escolar; incentivar a agricultura familiar; promover o abastecimento popular; estimular o pequeno produtor e o pequeno comércio;

            Governo Federal: priorizar a vida de todos os cidadãos; implementar políticas públicas do Estado para a erradicação da fome; investir no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), porque para milhões de crianças é a única refeição saudável no dia; criar uma agência nacional que regule a alimentação; retomar os estoques de alimentação; garantir uma política de preços para a população mais carente; incentivar a agricultura familiar; de estimular o pequeno produtor e o pequeno comércio; realizar uma justa reforma do sistema tributário nacional; assegurar uma melhor qualidade dos alimentos adquiridos; o encontro nacional contra a fome em 2022 no RJ aprovou dez medidas prioritárias para vencer a fome que podem ser vistas e pesquisadas. É preciso superar as estruturas da vida econômica, política para superar as condições que levam à fome; será preciso a solidariedade (RH, n. 16). Nossos esforços se somam também a de uma Igreja sinodal que o Papa Francisco pede tanto em vista de uma sinodalidade econômica para todos termos o pão pra quem tem fome e fome de justiça pra quem tem pão.

            Conclusão

            Todos comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos cheios (Mt 14,20).

            Será necessário o envolvimento de todos as pessoas que trabalham nas comunidades, paróquias, diocese para CF 2023 e também a sua divulgação, formação. Todos devem caminhar juntos para assumir ações ante a situação da fome que persiste em nosso pais. É preciso que a CF 2023 circule em todos os níveis como instrumento de formação das consciências e também a utilização dos subsídios em todos os níveis: Dai-lhes vós mesmos de comer (Mt 14,16). Trata-se de uma campanha da Fraternidade que envolve o todo da Igreja, transbordando o todo da sociedade. É uma ação da pastoral orgânica da Igreja. Tudo deve levar à conversão de vida na superação do egoísmo, do individualismo à uma vida de amor fraterno e de engajamento comunitário (CNBB, Repartir o pão. CF 1975, n.2-4). Que Maria, nossa Mãe, a qual declarou no Magnificat que Deus encheu de bens os famintos (Lc 1,53) intercede por nós para que sejamos instrumentos da misericórdia divina no mundo de hoje.

[1] CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Campanha da Fraternidade 2023: Texto-base. Brasília, Edições CNBB, 2022. Síntese feita por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

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