Marabá, 29 de março de 2024

O Batismo nas doutrinas de São Cirilo de Jerusalém e de Alexandria

11 de janeiro de 2021   .   

O Batismo nas doutrinas de São Cirilo de Jerusalém e de Alexandria

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

            O batismo é graça do Senhor no qual Ele o concede ao ser humano o dom de serem, na adoção, seus filhos e suas filhas. O sacramento nos introduz no mistério de Deus Uno e Trino, na vida da Igreja e na missão no mundo, de testemunhar o Cristo e em obras caritativas que glorifiquem a Deus. A seguir, nós veremos alguns pontos desta doutrina nos grandes bispos chamados de Cirilo, um de Jerusalém e o outro de Alexandria. Os dois personagens foram fiéis à doutrina nicena na defesa da divindade do Verbo de Deus diante do arianismo que negava a divindade do Senhor e foram pastores dedicados às suas comunidades.

            A deposição da túnica

            São Cirilo de Jerusalém, bispo do século IV, falou aos catecúmenos que desejavam receber o batismo. Entrando no batistério, eles eram convidados a depor a túnica, o hábito, que era imagem do homem velho, com as suas ações das quais eles eram despojados. Eles permaneceram sem as devidas roupas, imitando também nisto Cristo sem roupa sobre a cruz, no qual pela sua condição, despojou os principados e os poderes, triunfando sobre todo o orgulho humano do alto da cruz. Se junto deles carregavam os poderes inimigos com o hábito velho, com a roupa velha, pelo ser humano idoso, uma vez despojada como a esposa de Cristo, eram criaturas novas em Cristo. Se eles ficaram despojados diante do olhar de todos e não eram envergonhados eram imagens de Adão, primeiro ser humano plasmado, que não sentiu vergonha por estar naquela posição porque foi à condição da vida humana antes do pecado.

            A sagrada piscina

            Eles eram conduzidos à sagrada piscina do divino batismo, como Cristo o foi da cruz ao sepulcro localizado, bem próximo. Cada catecúmeno era interrogado se acreditava no nome do Pai e do filho e do Espírito Santo. São Cirilo encorajou as pessoas que proclamaram a profissão de fé, de salvação e por três vezes imergiram na água e por três vezes emergiram das mesmas[1].

            Batizados em Cristo

            São Cirilo de Jerusalém afirmou que uma vez batizados e revestidos de Cristo, tornaram-se conforme ao Filho de Deus, imitando-o nas suas ações. Deus que nos predestinou à adoção nos tornou semelhantes ao corpo glorioso do Cristo. Eles participavam do Cristo ungido, ditos cristos, ungidos, porque eles receberam o penhor do Espírito Santo e porque era imagem do Senhor Jesus.

            O batismo de Jesus

            Jesus entrou no Rio Jordão e comunicada à água, a fragrância, o aroma, da divindade, saiu e se cumpriu nele a vinda substancial do Espírito Santo, onde o semelhante pousou sobre o semelhante. De uma forma também semelhante, disse São Cirilo aos recém batizados que ao sair da piscina das sagradas fontes foi dado o crisma, como símbolo do penhor da unção no qual foi ungido Cristo Jesus. Esta unção é o Espírito Santo que ungiu Cristo não por pessoas humanas, mas foi ungido pelo Pai, constituído Salvador de todo o mundo que o ungiu de Espírito Santo.

            A crucificação, morte e ressurreição de Cristo

            O bispo de Jerusalém traçou um paralelo entre a vida de Cristo Jesus nos seus últimos momentos com aqueles que os recém-batizados receberam na noite santa. Assim como Cristo foi crucificado, sepultado, ressuscitado, eles, pelo batismo foram feitos dignos de serem com Ele crucificados, sepultados, ressuscitados, sendo também novas criaturas pela crisma. O Senhor foi ungido com o óleo espiritual de exultação, isto é, com o Espírito Santo, chamado de óleo de júbilo, sendo a fonte da alegria espiritual. No entanto eles foram ungidos com o crisma, tornando-se assim participantes e seguidores do Cristo e da Igreja[2].

            O céu se abriu

            São Cirilo de Alexandria, bispo do século V afirmou que Jesus ao ser batizado, abençoou as águas, e as purificou por nossa causa. Era, pois necessário que o Verbo do Pai, abaixando-se até aniquilar-se e não desdenhando de descer até fazer-se semelhante a nós, se tornasse por nós exemplo e o caminho para com toda obra boa. O evangelista Lucas disse que o céu se abriu como se fosse fechado por longo tempo (cfr. Lc 3,21). O céu se abriu e o ser humano sobre a terra se uniu aos santos anjos, aos céus. O Espírito Santo desceu uma segunda vez como para dar um segundo início do gênero humano e antes de tudo sobre Cristo, segundo o desígnio de salvação, e Cristo o recebeu não por si, mas para nós, porque nós tenhamos vida nele e por ele, receber toda riqueza de graças. A voz do Pai fez-se ouvir sobre Cristo no momento do santo batismo, como se por meio dele e nele envolvesse o ser humano que está sobre a terra que disse o Pai para Jesus que Ele é o seu Filho amado (cfr. Mt 3,17)[3]

            O batismo de Jesus marcou inicio de sua missão salvadora no mundo. Nós também somos chamados a viver o nosso batismo nos diversos ambientes, familiares, comunitários e sociais.

[1] Cfr. Cirillo di Gerusalemme, Catechesi mistagogica, 2, 2-8. In: La teologia dei padri, v. IV. Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pgs. 147-148.

[2] Cfr. Cirillo di Gerusalemme, Catechesi mistagogica, 2, 2-8. In: La teologia dei padri, v. IV, Idem, pgs. 148-150.

[3] Cfr. Cirillo di Alessandria, Commmento al Vangelo di Luca, 3,21. In: Nuove Letture dei giorni, testi dei padri d´oriente e d´occidente per tutti i tempi liturgici. Scelta a cura dei fratelli e delle sorelle della Comunità di Bose. Edizioni QIQAJON, Comunità di Bose. 2012, Magnano (BI), pgs. 83-84.

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