Marabá, 25 de abril de 2024

O diálogo como compromisso de amor na Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021

03 de março de 2021   .   

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

O diálogo, como compromisso de amor é o tema da campanha da Fraternidade 2021. É importante que seja aprofundado, pois diz respeito ao outro, a vida de fé com Deus que passa pela vida das pessoas. O seu significado refere-se à conversação entre duas ou mais pessoas em vista de entendimento ou de superação de conflitos. É o encontro de forças em vista de uma situação de equilíbrio. São Paulo dirigiu-se à comunidade Efésios para dizer que Cristo derrubou o muro de separação tanto aos judeus convertidos ao cristianismo como também aos pagãos convertidos ao cristianismo dando a todos, o dom da paz, porque do que era dividido fez uma unidade (Ef 2,14a). O tema possibilita o conhecimento desta importante Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 na vida eclesial e social.

O diálogo estabelecido pelo Senhor Ressuscitado e a realidade atual

Na primeira parada, o texto é iluminado pela presença do Ressuscitado junto aos discípulos de Emaús (cfr. Lc 24, 13-35). Como o evangelista Lucas colocou para a tradição, esses voltavam para casa tristes, abatidos sobre os últimos acontecimentos a respeito da condenação, morte e ressurreição de Jesus, de modo que ouviram muitas histórias das mulheres, de Maria Madalena, de Pedro e outras tantas. Jesus caminhou com eles para ouvi-los e assim pode dar uma resposta às suas indagações.

Nós também devemos perceber a realidade atual que é marcada pela pandemia global que ceifou e continua mais de duzentas e cinqüenta mil pessoas no Brasil e continua ceifando, agora também com o colapso da saúde em diversos estados e pelo mundo afora são milhões de óbitos e de infectados. Nós não podemos ficar alheios à dor e ao sofrimento por tantas pessoas, famílias. A pandemia do covid 19 colocou a finitude humana, a nossa fragilidade, nossa vulnerabilidade. É preciso dialogar com a realidade atual, e pedir forças a Deus para a superação deste momento, com a responsabilidade humana. Se por um lado a pandemia colocou a realidade do negacionismo da doença, por outro lado a gente percebeu a solidariedade aos sofredores, e aos pobres. Nós almejamos que a vacina seja um fator de maior alegria e amor na convivência humana e social.

O diálogo em vista da superação da violência.

O diálogo faz-se necessário em vista da superação da violência. A pandemia fez muitas vítimas de familiares, sobretudo de mulheres, feminicídios, homicídios, morte de jovens e de homens no campo e na cidade. Houve manifestações de racismo, de ódio aos pobres e de muito egoísmo. É preciso dialogar sobre os acontecimentos, a superar as coisas que nos dividem. As pessoas recorrem ao Sagrado como sinal de proteção. É preciso dizer que as pessoas que compõem a comunidade de fé fazem parte de um mundo em crise, de modo que também elas são afetadas pelas crises da sociedade, sofrem os efeitos de medidas econômicas e de outras crises. Jesus estabeleceu um dialogo com os discípulos de Emaús, mas também chamou a atenção deles para que acreditassem na missão do Messias que passaria pela cruz para chegar à glória da ressurreição. Diante da violência e de mortes de pessoas por causa da pandemia é preciso agir para o bem de todos, pela solidariedade, pela oração.

É preciso dialogar pelas organizações

As diversas organizações que protegem os cidadãos colocam a necessidade de dialogar pelos povos mais frágeis. A anistia internacional sobre os direitos humanos nas Américas coloca o Brasil no mundo da violência por pessoas mortas de ativistas de direitos humanos, a crise ambiental, os direitos dos povos indígenas nas suas terras e águas sendo invadidas, chacinas, atingindo pessoas em vulnerabilidade econômica e social. Como a violência nunca será a saída, é preciso dialogar mais seja da parte governamental seja também das organizações da sociedade civil e religiosa em vista da superação de problemas que atingem as populações mais frágeis. Este diálogo é preciso ser mantido com grupos que sofrem discriminação social. Nós temos uma população grande que vive nos cárceres, perto de novecentos mil pessoas presas, na grande maioria homens, jovens, mas tem também muitas mulheres. É preciso estabelecer a presença e diálogo pela pastoral carcerária porque essas pessoas são muitas vezes excluídas da sociedade.

O diálogo pela presença de Cristo Jesus

Cristo é a nossa Paz: do que era dividido, fez uma unidade (Ef 2,14a). O Lema especifica a derrubada de muros pela presença de Cristo seja dos judeus e pagãos no templo de Jerusalém, seja nas comunidades paulinas, sobretudo em Efésios, onde judeus cristãos e pagãos cristãos não tinham muito diálogo comunitário, porque para os judeus que se convertiam ao cristianismo a lei ganhou um cunho universal a partir de Cristo, mas sem nenhuma grande novidade, enquanto para Paulo, e para os pagãos que se convertiam ao cristianismo, a lei foi renovada com Cristo Jesus a partir de sua misericórdia, pela sua presença salvadora. Ele venceu o pecado, a morte e ressurgiu dos mortos, dando-nos vida nova pelo Espírito Santo. São Paulo insistiu junto à comunidade dos Gálatas, que em Cristo não há mais judeu, ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, porque todos são um só, em Cristo Jesus (cfr. Gl 3,28). Somos reconciliados com Jesus rumo à casa do Pai.

O diálogo pelo vínculo

São Paulo afirmou na Carta aos Efésios que era necessário a superação do dilema que dividia os cristãos em vista da unidade em Cristo pelos grupos que estavam divididos. A fé em Cristo é o vinculo da unidade de todas as pessoas e todos devem realizar obras de perdão e de amor, sendo Cristo Jesus a pedra fundamental da comunidade eclesial.

O diálogo pela presença de Cristo

O diálogo deve ocorrer entre as comunidades de fé em Cristo, pois somos irmãos e irmãs no Senhor Jesus Cristo. Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade (Ef 2,14a). Esta confissão de fé em Jesus Cristo não deve ser motivo para divisões e conflitos entre os seguidores de Jesus Cristo, mas deve ser de inspiração para convivência e o diálogo. Se Ele fez um só povo daquilo que dividia os povos, também em nossa realidade deveremos trabalhar pela unidade dos cristãos e das cristãs. A partir da presença de Cristo Jesus as pessoas vivam em comunhão e diálogos plenos.

Nós somos chamados a estimular o diálogo, como compromisso de amor, para que assim o amor reine em nossa vida, nos seguidores de Cristo Jesus e no mundo inteiro.

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