Marabá, 04 de outubro de 2024

O grito no mundo em favor da paz

04 de março de 2022   .   

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA

Nós vemos um grito quase unânime pela paz que sobe aos céus pela grande maioria da humanidade que está fazendo nestes dias. A impressão é que a guerra está perto também de cada um de nós, deixando-nos angustiados. Mas nós não desanimemos na busca do diálogo, lutando pela paz que vem de Deus e passa pela responsabilidade humana. Nós tivemos também o dia de oração pela paz na Ucrânia, na quarta-feira de cinzas, dia dois de março, convocado pelo Papa Francisco. A paz é dom divino, é graça de Deus. Cristo ressuscitado transmitiu aos seus discípulos, a paz (Jo 20,19). É próprio do ser humano este clamor pela paz, porque a guerra traz divisões no seio familiar, como nós estamos vendo, comunitário e social. A guerra mata pessoas inocentes, pessoas vulneráveis, mulheres, idosos, crianças, jovens. Nós vemos pelos meios de comunicação social, cenas de destruição da parte dos russos nas casas e instituições sociais e religiosas ucranianas. As casas e os prédios foram destruídos, queimados. Muitas pessoas civis, crianças foram atingidas. São milhares os refugiados ucranianos que fogem da guerra, indo para outros países. Existem as rodadas de negociações pela paz para dar fim a esta guerra na Ucrânia e também a pressão internacional para que cesse a guerra. Rezemos e lutemos pela paz. “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5, 9).

            Cristo é a nossa paz.

            São Paulo ao escrever aos Efésios, ressaltou a importância da obra salvadora de Cristo, como a nossa paz (Ef 2,14). Ele fez a reconciliação entre os judeus e os gentios, os pagãos, entre si e com Deus. Com Cristo, as pessoas que estavam longe, foram trazidas para perto, pelo sangue de Cristo. Ele derrubou o muro de separação entre os povos dando a todos, a paz.

            O apelo de São Paulo VI.

            Na Organização das Nações Unidas (ONU), em 04 de Outubro de 1965, São Paulo VI fez um apelo muito importante a todas as nações para que nunca mais tivessem a guerra. “Não são necessários longos discursos para proclamar a finalidade suprema da vossa Instituição. Basta recordar que o sangue de milhões de homens, os sofrimentos espantosos e inumeráveis, os inúteis massacres e as aterradoras ruínas sancionam o pacto que vos une, num juramento que deve mudar a história futura do mundo: nunca mais a guerra, nunca mais a guerra. É a paz, a paz que deve guiar o destino dos povos e de toda a humanidade”[1]. Nós vimos o clamor de São Paulo VI para que cessassem as guerras, porque elas levariam à realidade de muitas mortes de pessoas, sobretudo inocentes, pobres, mulheres, pais e mães de famílias, além de jovens que morrem nos combates. Este apelo para não ter mais a guerra, continua no mundo atual, onde há a guerra no Leste Europeu e também em algumas partes do mundo.

            Uma nova mentalidade construída pela paz.

            São Paulo VI disse também que é preciso construir uma nova mentalidade no mundo, não mais pela guerra, mas pela paz: “A paz, vós o sabeis, não se constrói somente por meio da política e do equilíbrio das forças e dos interesses. Ela constrói-se com o espírito, as ideias, as obras da paz. Vós trabalhais nesta grande obra. Mas não estais ainda senão no começo da vossa tarefa. Chegará um dia o mundo a mudar a mentalidade particularista e belicosa que até agora tem tecido uma tão grande parte da sua história? É difícil prevê-lo. Mas é fácil afirmar que é necessário meter-se resolutamente a caminho para a nova história, a história pacífica, aquela que será verdadeiramente e plenamente humana, aquela que Deus prometeu aos homens de boa vontade. Os caminhos estão traçados diante de vós: o primeiro é o desarmamento”[2].

            Dia mundial da paz.

            Ainda São Paulo VI criou em 1967, para ser comemorado no dia 01 de Janeiro de 1968, o dia mundial da paz. Na ocasião ele dizia: “Dirigimo-nos a todos os homens de boa vontade, para os exortar a celebrar o “Dia da Paz”, em todo o mundo, no primeiro dia do ano civil, 1 de Janeiro de 1968. Desejaríamos que depois, cada ano, esta celebração se viesse a repetir, como augúrio e promessa, no início do calendário que mede e traça o caminho da vida humana no tempo que seja a Paz, com o seu justo e benéfico equilíbrio, a dominar o processar-se da história no futuro”[3]. O Papa afirmou também que a comemoração não alteraria a festa da Maternidade divina de Maria e também do Santíssimo Nome de Jesus: “Esta celebração não há de alterar o calendário litúrgico, que reserva o dia de “Ano Bom” ao culto da Maternidade Divina de Maria e ao Santíssimo Nome de Jesus; pelo contrário, estas santas e suaves comemorações religiosas devem projetar a sua luz de bondade, de sabedoria e de esperança sobre o modo de pedirmos, de meditarmos e de promovermos o grande e desejado dom da Paz, de que o mundo tem tanta necessidade”[4].

            Papa Francisco e a paz.

            O Papa Francisco colocou na Encíclica Fratelli Tutti, a paz em vista do bem comum, onde todas as pessoas se empenhem a construí-la: “O percurso para a paz não implica homogeneizar a sociedade, mas permite-nos trabalhar juntos. Pode unir muitos nas pesquisas comuns, onde todos ganham. Perante um certo objetivo comum, poder-se-á contribuir com diferentes propostas técnicas, distintas experiências, e trabalhar em prol do bem comum”[5]. A paz é fruto do bem comum, do amor entre as pessoas e com Deus.

            As conseqüências danosas da guerra.

            Nesta mesma Encíclica faz o Papa Francisco duras críticas em relação para quem promove a guerra, porque ela traz desordens, mata pessoas, faz um mundo de refugiados: “Toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal. Não fiquemos em discussões teóricas, tomemos contacto com as feridas, toquemos a carne de quem paga os danos. Voltemos o olhar para tantos civis massacrados como “danos colaterais”. Interroguemos as vítimas. Prestemos atenção aos prófugos, àqueles que sofreram as radiações atômicas ou os ataques químicos, às mulheres que perderam os filhos, às crianças mutiladas ou privadas da sua infância. Consideremos a verdade destas vítimas da violência, olhemos a realidade com os seus olhos e escutemos as suas histórias com o coração aberto. Assim poderemos reconhecer o abismo do mal no coração da guerra, e não nos turvará o fato de nos tratarem como ingênuos porque escolhemos a paz”[6].

            O grito pela paz que está em toda a humanidade chegue até as autoridades russas com as ucranianas para que haja acordo de paz e todos se coloquem em situação de vida, sobre a morte de inocentes. Nós temos presentes outras situações de guerras pelo mundo. A oração não pode faltar neste momento difícil, mas esperançoso pelo fim do conflito bélico. Nós rezamos ao Senhor Deus Uno e Trino para que cessem as guerras que estão matando milhares de pessoas, ocasionando também milhões de refugiados. Rezemos pela paz. O Senhor Jesus é a paz entre as pessoas e entre os povos.

[1] Cfr. Discurso do Papa Paulo VI na sede da ONU, 04 de Outubro de 1965, 5. Disponível:  https://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/speeches/1965/documents/hf_p-vi_spe_19651004_united-nations.html.

[2] Cfr. Idem.

[3] Cfr. Mensagem de sua santidade: Paulo VI para a celebração do I dia mundial da paz, 1 de janeiro de 1968.Disponível em:https://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/messages/peace/documents/hf_p-vi_mes_19671208_i-world-day-for-peace.html

[4] Cfr. Idem.

[5] Cfr. Carta Encíclica Fratelli Tutti do Santo Padre Francisco sobre a Fraternidade e a Amizade Social,, n. 228. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-fratelli-tutti.html

[6] Cfr. Idem, n. 261.

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