Marabá, 10 de dezembro de 2024

O louvor a Deus pelas criaturas nos santos padres.

12 de julho de 2024   .   

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Os santos padres, os escritores do cristianismo primitivo tiveram presente a
criação, percebida como dom do Deus criador, em conformidade com o seu poder
grandioso de criar obras maravilhosas dadas à realidade humana, a partir do nada. Eles
enalteceram as coisas bonitas saídas das mãos fabulosas do Senhor de modo que Deus é
louvado por ter criado tão bem os seres sobretudo, o ser humano, percebido à sua
imagem e semelhança (cf. Gn 1,2). Eles realçaram a ação plenamente livre do Deus
Criador, a extensão universal desta ação divina, aludindo a admiração, a bondade e a
harmonia de todo o universo, criado e conservado pelo único Deus 1 . Eles também
colocaram a nova criação proveniente do Filho de Deus Redentor. Num momento em
que nós percebemos muitas queimadas da natureza em diversos lugares no Brasil e no
mundo, enchentes ocorridas, mudanças climáticas, guerras entre os povos, destruições,
mortes, calor acima da média, falta de chuvas, ar seco, preservação da natureza, de rios
e nascentes, é importante perceber como os santos padres deram atenção à natureza, e às
criaturas de um modo geral e às humanas, como obras maravilhosas do Senhor e a
necessidade de preservá-las em vista de sua continuidade e amor ao Senhor.
O louvor a Deus.
São Cirilo de Jerusalém, bispo no século IV afirmou a importância do louvor
que deve ser dado a Deus pelas criaturas feitas. “Não é talvez digno o Criador, de ser
essencialmente louvado? Se talvez a pessoa não conheça a natureza de todas as coisas,
talvez o que foi criado é sem sentido” 2 . O bispo também afirmou que é impossível uma
criatura conhecer as propriedades de todas coisas, de modo que existe o Criador que
conhece tudo, porque tudo proveio dele. Ele também afirmou a vitalidade das obras que
rastejam na terra como no caso as cobras mais venenosas se extraem antídotos para a
saúde das pessoas, caso estas forem picadas 3 . A pessoa é conduzida ao louvor do
Criador que fez tão bem as coisas para que o ser humano as admirasse e as preservasse,
recebidas pelo Senhor.
O Senhor criou as aves do céu.
São Cirilo de Jerusalém também disse que Deus criou as aves do céu. Ele
levantou uma pergunta no sentido de quem indague a natureza dos pássaros dos céus?!
Como é possível que alguns modulem o seu canto, outros sejam ornados sobre suas asas
de cores, outros ainda, vão juntos, permanecendo imóveis no meio do ar?. Assim para
São Cirilo é impossível a pessoa permanecer indiferente à obra da criação, porque o
Criador está na frente de todas as coisas 4 .

1 Cfr. B. Studer. Creazione. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, diretto da Angelo Di
Berardino. Institutum Patriscum Augustinianum. Genova-Milano, Marietti, 2006, pg. 1254.
2 Cfr. Ogni Giorno com i Padri della Chiesa, a cura di Giovanna della Croce. Presentazione di Enzo Bianchi.
Milano, Paoline, 1996, pg. 213.
3 Cfr. Idem, Catechesi prebattesimali 9,14, pg. 213.

A descrição dos mares.
O bispo de Jerusalém teve presente a descrição do mar, grande e vasto, contendo
inumeráveis animais que nadam nas águas profundas. Assim quem pode descrever a
beleza dos peixes que estão presentes no mar? Além do mais quem elucidaria a
profundidade e a vastidão do mar, o ímpeto das suas ondas imensuráveis? Ainda que as
dimensões dos mares sejam grandiosas os seus limites foram fixados pelo Criador, pela
sua palavra que disse: “Até aqui chegarás, e não além; aqui dominarás a arrogância de
tuas ondas!”(Jó 38,11) 5 .
O Pintor divino.
Santo Ambrósio de Milão, bispo no século IV afirmou que a pessoa humana foi
modelada pelo Senhor Deus, bom artista, criada à sua imagem e semelhança (cf. Gn
1,26) 6 . Desta forma não pode ser eliminada uma boa pintura que brilha pela verdade e
foi feita com a graça. O bispo convidava os seus fieis a buscar a pintura que Deus fez
com o ser humano, Daquele que o pintou e o formou, para fazer comunhão com Ele
para que assim ele viva a graça de ser sua criatura 7 .
A criação nova.
São Clemente de Alexandria, leigo e padre da Igreja nos séculos II e III afirmou
a criação nova a partir de Jesus Cristo. Enquanto a humanidade estava envolta nas
trevas (cf. Mt 4,16), as pessoas fechadas num caminho de morte, surgiu uma luz mais
pura que o sol, mais doce que a vida humana proveniente da realidade humana, dada
pelo Pai em Jesus Cristo. Aquela luz é vida eterna, e tudo aquilo que é tocado por ela,
vive. A noite do pecado é exterminada pela luz da vida, Jesus. Isto significou a criação
nova (cf. Gl 6,15), porque o sol da justiça se fez presente na humanidade e sobre todos
desceu o orvalho da verdade, proveniente do Verbo de Deus Pai encarnado 8 .
O Deus Uno e Trino criou as coisas, os animais e os seres humanos. Tudo foi
feito na maior harmonia e amor. O ser humano é convidado a preservar as coisas e a
vida humana, sem guerras, sem conflitos, sem derrubadas das florestas, sem destruições
mas ajudando a continuidade da vida pelos seres criados. O Senhor abençoe a todos os
seres vegetais, animais e humanos.

4 Cfr. Ibidem, 9,12, pg. 212
5 Cfr. Ibidem, 9,11, pg. 211
6 Cfr. Idem, Ambrogio di Milan., Esamerone 6,9,47, pg. 215.
7 Cfr. Idem, pg. 215.
8 Cfr. Idem. Clemente d´Alessandria, Protreptico 11,114, pg. 214.

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