Marabá, 01 de maio de 2024

O sentido da Páscoa cristã

13 de abril de 2023   .   

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Desde os primórdios da Igreja celebrou-se o mistério da Páscoa cristã, pelo seu valor fundamental e salvífico relacionado à vida cristã. O fato era que no coração da Páscoa, comemoram os cristãos o mistério da redenção humana, mediante a morte e ressurreição do Senhor Jesus. Pela Páscoa, a Igreja celebra a passagem da morte do Senhor para a vida divina.

Jesus Cristo ressuscitou dos mortos: Ele não está mais no sepulcro (Mt 28,6). Eles não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos (Jo 20, 9). O Senhor ressuscitado é a primícia da nova criação. A Ressurreição de Jesus é o penhor da renovação do Universo. Jesus falou por diversas vezes que passaria pelos sofrimentos, morte, mas no terceiro dia ressuscitaria dos mortos. Para os apóstolos, aquele linguajar era difícil de compreender, o que será dado só em Pentecostes.

As mulheres foram as primeiras anunciadoras da ressurreição.

            Pela Palavra de Deus vemos a presença das mulheres como as primeiras anunciadoras da ressurreição do Senhor. O evangelista Mateus colocou que no primeiro dia da semana, portanto no domingo, Maria Madalena e a outra Maria foram ao sepulcro. Lá encontraram o anjo que disse para as mulheres que Jesus não estava mais no sepulcro, ressuscitou como havia dito. Ele também disse que era para elas irem depressa contar aos discípulos do Senhor Jesus que ele ressuscitou dos mortos. As mulheres ao saírem do sepulcro, correram com alegria para dar a notícia aos discípulos. O Senhor ressuscitado apareceu a elas dizendo que não era para ter medo, mas elas eram chamadas a anunciar aos irmãos para se dirigirem para a Galileia, porque lá eles o veriam (Mt 28, 1-10).

            Pelo evangelista João, recebeu Maria Madalena de Jesus a missão de anunciar aos discípulos que Ele estava vivo, ressuscitou dos mortos. Ela chorava no túmulo, e o Senhor a chamou pelo nome de modo que ela o identificou como Mestre. Mas Jesus disse-lhe para não a segurar porque ele não tinha ainda subido para junto do Pai. Mas ela era enviada para dizer aos irmãos, os discípulos que Jesus sobe ao seu Pai e ao Pai dela e dos discípulos, ao seu Deus e ao Deus dela e dos discípulos. Jesus colocou a sua condição divina, junto do Pai diferente da condição humana em que Maria estava. Jesus é Deus e homem, na qual estão nele as naturezas humana e divina na única pessoa do Verbo de Deus. Maria foi dizer aos discípulos que ela viu o Senhor e contou o que Jesus lhe tinha dito (Jo 20, 16-18). É importante analisar as considerações dos Padres da Igreja, os primeiros autores cristãos a respeito da ressurreição do Senhor, da Páscoa cristã.

            Páscoa: a passagem de Cristo para pátria celeste.

            São Leão Magno, Papa no século V afirmou que a festa da Páscoa chamada pelos hebreus Phase, cujo significado era passagem, foi atestada pelo evangelista João, que antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que estava chegando a sua hora de passar deste mundo para o Pai (Jo 13,1). A natureza que efetuaria a passagem era a humana, uma vez que o Pai estava de uma forma inseparável no Filho e o Filho no Pai. São Paulo colocou o ponto de que Deus o exaltou e lhe deu o nome que está acima de todo o nome (Fl 2,9). A exaltação da natureza humana foi assumida por ocasião da passagem da Páscoa. Com a sua paixão, a divindade permaneceu indivisa, pois é ele co-eterno na glória de Deus Pai[1].

            A afirmação da natureza humana na Páscoa.

            São Leão Magno também criticou as pessoas que não acreditassem que na Páscoa teve a exaltação humana de Jesus, de modo que não participavam da grande festa cristã. A Páscoa deu sentido a todas as coisas feitas pelo Senhor que como verdadeiro Filho de Deus, permaneceu nele, a natureza humana. O mistério da salvação aludiu à festa pascal, porque a pessoa seguidora do Senhor não discordaria do Evangelho e nem do Símbolo para desta forma fazer bem a celebração pascal. Jesus Cristo nasceu segundo a carne, padeceu a sua morte, e teve a sua ressurreição de forma segundo a carne, a sua condição corporal. Não existe a separação de sua divindade e de sua humanidade, na Pessoa do Verbo de Deus[2].

            Jesus passou pelo sofrimento à ressurreição

            Santo Anastácio, bispo de Antioquia, no século VI, afirmou que o Senhor enfrentou o sofrimento para chegar à ressurreição. A Sagrada Escritura previu que Jesus passaria pela morte. No entanto era fundamental afirmar segundo ele, que nunca as pessoas afirmariam que era Deus se, ao contemplar a verdade da encarnação, o povo não encontrasse nela razões para proclamar, com clareza e justiça, uma e outra coisa, ou seja, seu sofrimento e sua impassibilidade. Desta forma o Verbo de Deus passou pela morte em vista da salvação do ser humano[3].

            A paixão ligada com a Páscoa.

Numa homilia de um antigo autor anônimo falou da Paixão do Salvador em unidade com a Páscoa, a passagem de Jesus de sua morte para a vida. A Paixão foi a salvação da vida humana. Ele quis morrer por todo o gênero humano para que crendo nele, todos vivessem para sempre. Ele quis tornar-se o que foi a vida humana para viver com ele para sempre. Foi assim o dom da Páscoa, esta esperada festa do ano, o inicio do da nova criação. Ela afirmava também que naquela solenidade, os novos filhos e filhas que são gerados nas águas vivificantes da santa Igreja, ouvem o balbuciar da sua consciência inocente. Na festa da Páscoa, os pais e mães cristãos obtêm, por meio da fé, uma nova e inumerável descendência e, à sombra da árvore da fé, brilha o esplendor dos círios com o fulgor que irradia da pura fonte batismal [4].

            A Páscoa é a festa das festas na expressão de São Gregório de Nazianzo. Ela é grande e sagrada, porque o Logos, a Palavra do Senhor venceu o pecado e a morte para dar a todos a luz divina, a vida verdadeira[5]. Ela engloba a toda a liturgia, pois o Senhor venceu a morte e ressurgiu glorioso do sepulcro, porque Deus Pai ressuscitou o seu Filho (At 10,40). Vivamos o espírito pascal em nossas vidas de seguidores e seguidoras de Jesus Cristo na família, na comunidade e na sociedade. Somos chamados a lutar pelo bem, pela justiça e pelo amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, a partir da ressurreição de Jesus.

[1] Cfr. Leão Magno. Segundo Sermão sobre a Ressurreição do Senhor, LXXII,6. In: Sermões. SP, Paulus, 1996, pg.166.

[2] Cfr. Idem, pg. 167.

[3] Cfr. Dos Sermões de Santo Anastácio de Antioquia. (Oratio 4, 1-2: PG 89, 1347-1349). In: Ofício das Leituras de Terça-feira da Oitava da Páscoa – Liturgia das Horas Online.

[4] Cfr. Da Homilia pascal de um Autor antigo. (Sermo 35, 6-9:PL17 [ed. 1879],696-697). In: https://liturgiadashoras.online/oficio-das-leituras-de-quarta-feira-na-oitava-da-pascoa.

[5] Cfr. Orazione 45, 14.28. In: Gregorio di Nazianzo. Tutte le Orazioni, a cura de Claudio Moreschini. Milano, Bompiani, Il Pensiero Ocidentale. 2000, pg. 1269.

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