Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
O batismo é um dos sete sacramentos da vida da Igreja, tendo como ponto essencial a adoção de serem filhos e filhas de Deus Uno e Trino, o perdão dos pecados, a participação à vida da comunidade, a realização de obras de caridade. O batismo é a porta de entrada dos sacramentos e da vida eclesial. Ele alude à vida eterna com Deus. O Senhor mesmo desejou que os seus seguidores e as suas seguidoras recebessem o batismo, pois antes de partir para a casa do Pai, Jesus apareceu aos seus discípulos e lhes falou que toda a autoridade tinha sido dada no céu e na terra, de modo que eles deveriam ir ao mundo fazer discípulos seus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (cfr. Mt 28,19). Desde o início a Igreja batizou os fieis assumindo com fé e com alegria o mandato do Senhor. É importante ver a sua ação na história da Igreja primitiva pelo batismo, como ela iluminou as pessoas para viverem os seus compromissos com Deus e com as pessoas para chegar até hoje, a atuação eclesial do batismo.
O ato de imersão.
O batismo era o ato de mergulhar ou de ser imerso na água, não sendo uma prática cristã, mas ele estava presente no judaísmo para a admissão dos prosélitos. No cristianismo, com o tempo ocorreu à prática sacramental através do catecumenato, o período que preparava os adultos para os sacramentos do batismo, da crisma e da eucaristia. Os catecúmenos prometiam diante do bispo ou do sacerdote, o rompimento com o pecado, as seduções do demônio, e pela fé entravam numa nova relação com Deus Uno e Trino, agregando-se ao povo da nova aliança, iniciada pelo Senhor Jesus[1].
O batismo nos primeiros séculos.
São Justino de Roma, padre da Igreja do século II afirmou que todas as pessoas instruídas nas coisas de Deus, eram conduzidas a um lugar onde havia água e pelo mesmo banho de regeneração com que outros foram regenerados, assim como São Justino, elas seriam regeneradas, tomariam na água o banho em nome de Deus, Pai, que é soberano do universo e do Salvador Jesus e do Espírito Santo. Tudo seguia as palavras de Jesus que disse que se a pessoa não renascer de novo, não entrará no Reino dos céus (cfr. Jo 3,3-4). O fato é que este nascimento, sendo o batismo para São Justino, ele dava o perdão dos pecados anteriores, e havia a benção na água e sobre a pessoa que se regenerava dava-se o arrependimento de seus pecados em nome de Deus[2].
O batismo em unidade com os sacramentos da iniciação cristã.
Tertuliano, padre do século II e III afirmou que o batismo dá a purificação dos pecados que a fé obtém sendo marcado no Pai e no Filho e no Espírito Santo (cfr. Mt 28,19). Em virtude da benção batismal tinham como testemunhas da fé os mesmos garantes da salvação; e o número dos nomes divinos dava confiança à esperança humana. Após o banho, os fiéis eram ungidos com uma unção abençoada conforme a antiga práxis eclesial. Os fiéis eram denominados ´cristos´, pela crisma que era uma unção a qual se conferiu tal nome também ao Senhor, unção ocorrida em modo espiritual pelo fato de que foi ungido do Espírito de Deus, por Deus Pai[3].
O ser humano morre ao pecado.
Santo Agostinho, bispo dos séculos IV e V dizia que Cristo, sem pecado, morreu na carne, semelhante ao pecado, para salvar as pessoas do pecado. Cristo Jesus quis selar com a sua ressurreição a nossa vida nova, ressurgida pela sua morte pela qual a humanidade estava morta no pecado. É esta a virtude do grande sacramento do batismo que se celebra na comunidade, por muitos que participavam a tal graça morriam ao pecado, precisamente como as pessoas afirmavam que Cristo morreu ao pecado, sendo morto na carne, na imagem do pecado[4]. Assim o batismo é o grande sacramento de vida com o Senhor e com a Igreja.
O batismo e o ministro.
Santo Agostinho enfrentou os donatistas que colocavam a validade do batismo pela dignidade do ministro, afirmando que a graça do batismo sempre vem de Deus, que o sacramento é de Deus e o que ser humano é somente o ministro. Se ele for bom é intimamente unido a Deus e trabalha com Deus mesmo; se for pecador, então é Deus a operar por meio dele o rito visível do sacramento[5].
O batismo, o novo nascimento.
Santo Ireneu, bispo de Lyon, séculos II e III disse que o batismo é o novo nascimento. Por isso tinha presentes o creio, os artigos de fé, dos quais concedia os fiéis renascer a Deus Pai por meio de seu Filho na unidade do Espírito Santo. O fato é que os portadores do Espírito Santo de Deus são conduzidos ao Verbo, ao Filho, que é quem os acolhe e os apresenta ao Pai, e o Pai lhes dá a incorruptibilidade[6]. Desta forma é dado em nome de Deus Uno e Trino para a vida da comunidade e com o próprio Senhor.
O batismo na Igreja antiga.
Pseudo Dionísio, o aeropagita, juiz convertido ao cristianismo, século I, dizia que os fieis encontravam-se ao redor do bispo nas quais por três vezes renunciavam a Satanás e também por três vezes prometiam acreditar em Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, Deus Uno e Trino. O pontífice, o bispo o imergia por três vezes na água e para as três imersões davam-se emersões do batizando invocava-se as três Pessoas da Santíssima Trindade, depois o entregavam ao padrinho, o vestiam com um habito conveniente e reconduziam-no ao pontífice, ao bispo que o marcava com o sacrossanto crisma, que era lhe declarado digno de participar à santíssima eucaristia[7].
Conduzidos à piscina sagrada.
São Cirilo de Jerusalém, bispo do século IV afirmou aos que tinham recebido os sacramentos da iniciação à vida cristã no sábado santo, às catequeses mistagógicas, que eles foram conduzidos à piscina sagrada do divino batismo, como Cristo o foi da cruz ao sepulcro situado lá vizinho. E a cada um deles houve o interrogatório se o fiel acreditava em nome do Pai e do Filho e do Espírito Sato. Eles proclamaram a sua profissão de fé de salvação e por três vezes foram imersos na água, pela qual por três vezes emergiram; tudo isso era percebido para o bispo de Jerusalém aos fieis apontando um símbolo da sepultura de Cristo que durou três dias[8].
O batismo é o sacramento que coloca a pessoa em comunhão com o Deus Uno e Trino e ao mesmo tempo impulsiona-a a missão de fazer com que as pessoas sejam discípulas, discípulos do Senhor Jesus Cristo, no mundo de hoje. É muito importante a preparação das pessoas para o sacramento do batismo e a participação dos pais e dos padrinhos na vida da comunidade eclesial missionária para a vivência dos sacramentos da iniciação à vida cristã, sendo o batismo a porta de entrada dos sacramentos, da vida eclesial e missionária.
[1] Cfr.A. Hamman – M. Flores Colín. Battesimo. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, diretto da Angealo Di Berardino, A-E. Marietti, Genova, 2006, pgs. 735-736.
[2] Cfr. Justino de Roma, 1 Apologia, 61, 3-10. Paulus, SP, 1995, pgs. 76-77.
[3] Cfr. Tertulliano. Il battesimo, 6, 1-2; 7, 7,1. Texto critico di CCL 1, de J. G. Ph. Borleffs. Introduzione, traduzione, note e appendice, Attilio Carpin. Edizioni San Clemente, Edizioni Studio Domenicano, Bologna, 2011, pgs. 146-151.
[4] Cfr. Agostino. Manualetto, 13, 41-43. In: La teologia dei padri, v. 4. Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pg. 144.
[5] Cfr. Agostino. Le Lettere, I, 105, 12 (Ai donatisti). In: La teologia dei padri, v. 4, pg. 151.
[6] Cfr. Irineu de Lyon, Demonstração da pregação apostólica, I, 7. Paulus, SP, 2014, pg. 76.
[7] Cfr. Pseudo-Dionigi Areopagita. La Gerarchia ecclesiastica, 2, 2-7. In: La teologia dei padri, v. 4, pgs. 141-142.
[8] Cfr. Cirillo di Gerusalemme, Catechesi mistagogica, 2, 4-5. In: La teologia dei padri, v. 4, pg. 147.