Marabá, 29 de março de 2024

Os discípulos de Emaús e a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021

15 de fevereiro de 2021   .   

Os discípulos de Emaús e a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

            Introdução

O texto dos discípulos de Emaús(cfr. Lc 24, 13-35) é interpretado praticamente em toda a primeira parada da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) 2021 cujo título é: trocando impressões sobre os acontecimentos mais recentes. Os dois discípulos voltaram para casa, conturbados, tristes, pela condenação e morte violenta, de Jesus Cristo na cruz, na qual a impressão foi que as coisas tivessem acabado daquela forma. Eles ouviram falar de relatos das mulheres que Jesus tinha ressuscitado dos mortos. Há via uma certeza era que Ele não estava mais no túmulo. O Senhor caminhou com eles e eles não o reconheceram como Ressuscitado. Só após Ele ter dito que tudo deveria se cumprir pelas Sagradas Escrituras e no partir do pão eles o perceberam que Jesus ressuscitou dos mortos.

            Primeira Parada

O texto bíblico serviu de inspiração para a primeira parada, de uma forma particular. A atitude dos discípulos de Emaús pode estar presentes em nós no sentido de que existem certezas e dúvidas quando o assunto é a realidade em que se vive principalmente marcado por crises e sofrimentos, como nós estamos presenciando com o sofrimento da doença que atingiu o mundo inteiro: a pandemia global covid 19. Ela interrompeu milhares de vidas de mulheres e de homens, crianças e jovens, idosos e idosas. A pandemia dilacerou famílias, deixou espaços vazios na cultura nacional. A covid 19 revelou a nossa fragilidade, nossa vulnerabilidade. Com a pandemia muitas pessoas associaram ao fim do mundo, outras ficaram na negação da ciência e surgiu o questionamento do papel da OMS e da ONU. Com o auxilio emergencial as autoridades disponibilizaram ajuda aos mais necessitados, aos milhares de desempregados, famílias pobres. No entanto a pandemia não deixou de escancarar as desigualdades sociais, raciais e econômicas. As coisas que preocupam a todos nós e em toda a sociedade, foi que Brasil voltou ao mapa da fome, ao desemprego de milhares de pessoas, de aumento de pessoas que vivem nas ruas, à cultura da violência. Muitos sofrimentos e mortes de mulheres, pessoas do campo e da cidade foram constatados neste período de 2020.

            O contexto da pandemia

A pandemia provocou atitudes diferentes nas nossas relações, como o uso de máscaras, um certo distanciamento social. No entanto a violência ainda está presente nas relações famílias, comunitárias, sociais, ressaltando o aumento de feminicídios, homicídios, porque as pessoas estiveram mais em suas famílias. O texto coloca o diálogo como a saída para a superação da violência cultural, racial e religiosa. É o compromisso de amor, como é de fato o tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica. O que Jesus fez diante daqueles discípulos que estavam indo para casa desanimados? Ele quis saber o que estavam conversando ao longo do caminho (cfr. Lc 24,17). Jesus se tornou para eles o ‘novo viajante’ e por mais que ele estivesse inteirado da realidade, precisava realizar junto com aqueles discípulos a compreensão dos fatos marcantes em que eles testemunharam em Jerusalém.

            A leitura do texto da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021

Existem alguns grupos, ministros ordenados, pessoas que não querem aceitar a linha desta Campanha da Fraternidade Ecumênica. Mas é preciso ler os textos, se inteirar da realidade em que vivemos buscar soluções na unidade com Cristo Jesus, porque Ele é a nossa paz. Assim como aos discípulos de Emaús é preciso dialogar com os acontecimentos de nosso tempo, é preciso acolher as diferenças e superar as divisões reinantes entre os seguidores e seguidoras de Cristo Jesus. A sociedade brasileira viveu e vive ainda tensões por causa das desigualdades econômicas e sociais, opiniões diferentes, de ataques às instituições. As pessoas e comunidades de fé não estão separadas do mundo. Elas freqüentam as comunidades para rezar e louvar a Deus, mas estão no mundo do trabalho, são moradores de rua, são pessoas que freqüentam a escola, marcam presença no transito, são pessoas que estão nas repartições públicas, são educadores e educadoras nas escolas públicas, particulares e nas universidades, enquanto outras ocupam cargos públicos. Muitos de nossos fiéis estão nos centros urbanos, nas periferias das cidades, vilas e povoados. As polarizações podem ocorrer também dentro de nossas comunidades, tendo a necessidade de superar as mesmas em vista da unidade com o Senhor, aceitando a diversidade.

Os discípulos de Emaús e o novo viajante

            Sem duvida os discípulos de Emaús ficaram surpreendidos porque aquele ‘novo viajante’ não estava informado sobre algo trágico e presente na vida do povo, a condenação e morte violenta de Jesus de Nazaré. Eles expuseram ao ‘estranho’ as suas dúvidas, contradições. Eles relataram que as mulheres foram ao túmulo, não encontraram o corpo de Jesus, mas perceberam a presença de anjos que disseram que Jesus estava vivo (cfr. Lc 24,22-23). Desta forma, seguir a Jesus e comungar com a fé são questões que não isentam o fiel e a Igreja das crises nas quais atingem a todas as pessoas. O seguimento a Jesus exige estar encarnado na vida das pessoas, sobretudo dos pobres, dos necessitados.

            A palavra de Jesus aos discípulos de Emaús

            Jesus teve que admoestar os dois discípulos chamando-os de corações tardos para crer tudo naquilo que os profetas declararam (cfr. Lc 24, 25) e que as profecias deveriam se realizar nele. Jesus foi fiel ao projeto do Pai para a salvação das pessoas, de modo que esteve em contradição com os poderes de seu tempo. Ainda que fossem próximos de Jesus os discípulos não compreenderam os fatos. Essas coisas podem ocorrer conosco e com os seus discípulos no sentido de que diante de sinais de morte e com tanta informação, somos incapazes de interpretar a realidade na qual estamos vivendo. As vezes para justificar as desigualdades sociais o sistema joga as pessoas umas contra as outras, com a tentativa de legitimar a exclusão, difundir o ódio, a negação dos direitos humanos.

É preciso seguir a Jesus que nos convida a viver em unidade com as pessoas, sobretudo os mais necessitados, as pessoas das comunidades de fé, buscando a unidade e a diversidade, o diálogo, que é compromisso de amor, porque Cristo é a paz, pois, daquilo que era dividido ele fez uma unidade (cfr. Ef 2,14a). Apoiemos a Campanha da Fraternidade Ecumênica que nos convida ao diálogo, a Cristo que nos dá a graça da unidade dos irmãos e irmãs nele e um dia no Reino dos céus.

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