Marabá, 23 de novembro de 2024

V Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021

11 de fevereiro de 2021   .   

V Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021[1]

Cristo é a nossa Paz: do que era dividido, fez uma unidade (Ef 2,14a)

“Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”.

Apresentação: sono que se sonha… A CFE é uma das experiências mais valiosas de missão evangelizadora em nosso pais. Sua realização é um sinal de esperança para as pessoas que nossa antecederam na caminhada ecumênica. Desde os anos 1980 havia um projeto de uma campanha da fraternidade ecumênica que se concretizou no ano de 2000 com o tema “Dignidade humana e paz e por um novo milênio sem exclusões”, tema e lema da primeira CFE. Essa experiência aprofundou a compreensão de que a evangelização e a missão devem apontar para fé em Jesus Cristo: crer em sua palavra, acolher seus mandamentos e trabalhar para a superação das desigualdades, das violências e do exclusivismo das identidades confessionais. A CFE 2000 gerou frutos como a Primeira Jornada Ecumênica, realizada em Mendes, RJ em 2005. Em 2005 houve outra CFE que falou sobre a solidariedade e paz – felizes os que promovem a paz. É preciso assumir um compromisso com a paz. A CFE contribuiu em muito para a campanha para o desarmamento. A opção pelo Evangelho exige que se assuma a cultura de paz, mesmo com perseguições, incompreensões. As Igrejas recolheram na época armas. A Boa-Nova pode se tornar um sinal de contradição. “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24) foi o lema bíblico que inspirou a CFE 2010 cujo tema foi “Economia e vida”. A CFE denunciou a idolatria do dinheiro, denunciada por Jesus. Algumas teologias alimentam a ideologia neoliberal que coloca a pobreza como castigo de Deus ou falta de fé. A CFE 2010 lembrou-nos que a economia faz parte da vida humana, mas ela deve ser orientada para o bem comum, a qualidade de vida. Para isso é fundamental que todos tenham acesso ao trabalho, à moradia, à educação, à saúde, ao lazer. O lucro não pode ocupar o lugar de Deus, que é vida e amor. Em 2016 realizamos a quarta CFE que cruzou fronteias por ter sido realizada em unidade com a MISEREOR da Alemanha. Outras igrejas participaram do CONIC como a Aliança de Batistas do Brasil e a Visão mundial. Com o tema “Casa comum, nossa responsabilidade” e com o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24) contribuiu para denunciar a ausência de saneamento básico em nosso pais, porque está ausente nos bairros periféricos. A água e o saneamento não podem ser privatizados. O sopro do Espírito Santo fortaleceu essa CFE com dois acontecimentos da primeira encíclica do Papa Francisco Laudato Sì denunciando a economia destrutiva e apresentou cuidado com a casa comum, a cultura do bem viver, o respeito aos direitos da natureza. O segundo acontecimento foi a celebração dos 500 anos da Reforma em 2017, lembrando que a casa comum, a natureza e as pessoas não estão à venda. A CFE 2016 gerou a participação do Fórum Alternativo Mundial da água realizado em Brasília. Um sonho está gerando muitos frutos e gerou frutos bons. Cristo é a nossa paz e nos anima a prosseguir pelo caminho da unidade na diversidade. A Boa-Nova do Evangelho nos une e acolhe nossas diferentes experiências de testemunho cristão. É a fé vivida em diversidade desafia-nos para realizar a CFE 2021. Com ela afirmam-se que a fraternidade e o diálogo são compromissos de amor, porque Cristo fez uma unidade daquilo que era dividido. Vamos todos nesta grande ciranda ecumênica do diálogo e do amor em Cristo Jesus.

Introdução

            Nós temos em mãos o texto da CFE 2021 que é um instrumento de trabalho no caminho de comunhão e fraternidade à luz do Evangelho de Cristo Jesus. Neste ano o tema da CF é: Fraternidade e diálogo: compromisso de amor. Na Carta aos Efésios 2,14 lemos: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”. Mas como nós podemos anunciar a Boa-Nova de Jesus Cristo em períodos turbulentos como o atual? Nós queremos explicitar sinais da nova humanidade nascida em Cristo Jesus que está presente entre nós. Somos irmãos e irmãs que podem e devem viver em comunhão. O objetivo geral da CFE 2021 visa convidar as comunidade de fé e pessoas de boa vontade a pensarem, avaliarem e identificarem caminhos para a superação das polarizações e violências pelo diálogo amoroso, testemunhando a unidade na diversidade. A CFE possui como objetivos específicos: redescobrir a força e a beleza do diálogo; denunciar as violências praticas em nome de Jesus; comprometer-se com as causas da casa comum, contribuir para superar as desigualdades, promover a conversão para a cultura do amor; fortalecer a convivência ecumênica e inter-religiosa; compartilhar experiências concretas de diálogo e convívio fraterno. Muitas pessoas e grupos contribuíram para o tema da CFE 2021, na qual é uma continuidade ao tema de 2020 que falava do cuidado de pessoas, grupos, povos e de todo o planeta sobre a questão do cuidar e dialogar. É preciso dialogar para se ter um bom testemunho cristão. Tudo isso é compromisso com o nosso batismo que exorta-nos a participar na comunidade dos filhos e filhas de Deus pela unidade na diversidade. A comissão agradece a todas as pessoas que contribuíram para a elaboração da CFE, com os textos, músicas e outras coisas. Tudo foi feito praticamente via on line, porque com a pandemia da Covid 19 exigiu o isolamento social. Os encontros presencias deveriam ter ocorrido, mas não ocorreram mas sabemos da importância do abraço e que ninguém é rival do outro. Ainda que a CFE 2021 seja de uma forma virtual, o importante é a celebração, a espiritualidade, a conversão de vida, visando a palavra de Cristo Jesus que veio para que todos tenham vida e vida em plenitude (cfr. Jo 10,10).

A conversão ao diálogo e ao compromisso de amor. A conversão a Jesus Cristo não é um processo mágico de um momento, mas é um processo permanente e diário. Ela nos pergunta sobre a nossa forma de estar no mundo envolvendo-nos com as transformações atuais para que sejamos sempre mais coerentes com os ensinamentos de Jesus nos Evangelhos. Jesus nunca orientou os seus discípulos a criarem inimizades ou perseguirem outras pessoas em seu nome. Do contrario Ele que nós assumamos as suas palavras e projeto de vida pela igualdade e pelo dialogo. No diálogo com o jovem rico (cfr. Mt 19,16-22) Jesus pediu a renúncia das riquezas para herdar a vida eterna a ele como forma irrenunciável de seguimento, porque a concentração de riquezas gera desigualdades, conflitos e segregação. Outro exemplo do evangelista João (8,3-13) tem presentes à mulher surpreendida em flagrante adultério na qual as pessoas estavam prontas para apedrejá-la. Jesus provocou os acusadores à autocrítica para que atirasse a primeira pedra quem não tivesse pecado. Com isso Jesus quer a conversão das pessoas e também da mulher para uma transformação de vida, e continuar a viver de uma forma livre de acusações e julgamentos. Esta postura de Jesus mostra-nos novas formas de relações humanas e sociais em vista da superação da lei, visando o compromisso incondicional do amor. Se a lei as vezes provoca o poder desigual, o amor nos convoca a assumirmos atitudes de compaixão, de empatia e de convivência. A CFE 2021 deve apontar atitudes de amor anunciadas por Jesus Cristo. Como podemos seguir a Jesus Cristo? Com Jesus estamos associados mais ao amor? Temos algum compromisso com os pobres, excluídos em vista da superação das desigualdades sociais?

A quaresma cristã é tempo de conversão, de jejum, à partilha do pão e à conversão de nossas práticas e posturas diante da vida. É preciso rezar, para se ter a unidade com Deus. O jejum é parte integrante da espiritualidade quaresmal de modo nos devemos fazer o jejum que agrada a Deus como nos fala em Isaias (58,6-8) que fala da necessidade desamarrar a correia do jugo, repartir o pão com o faminto vestir o nu. A glória do Senhor será a tua retaguarda. A CFE 2021 quer ser um convite a assumir o jejum que agrade a Deus pela superação de formas de intolerância, racismo, violências, preconceitos, de modo que a nossa prática cristã promova a paz e não potencialize a ódio. Nós devemos testemunhar com a própria vida que Cristo é a nossa paz, adotando comportamentos de acolhida, de diálogo, de não violência e antirracistas. Nós queremos que a quaresma nos inquiete com a paz que vem de Cristo para buscar a paz entre todas as pessoas, paz que supere o ódio, e vise a unidade com o Senhor e os irmãos e as irmãs.

  1. Redescobrindo Cristo no caminho: a paz do Ressuscitado que nos une. É bom lembrar sempre os discípulos de Emaús que voltavam de Jerusalém a Emaús, conversando sobre os acontecimentos relacionados à condenação e a morte de Jesus, quando outro peregrino se incorporou a eles. Será que eles deveriam acreditar no relato das mulheres que disseram que viram o túmulo vazio e anunciaram a ressurreição? No final do destino, eles pediram a Jesus para ficar com eles e no partir do pão reconheceram que o estranho era Jesus, o ressuscitado. Eles voltaram a Jerusalém, à comunidade de partida. Com eles aprendemos que o diálogo com Jesus faz o coração arder em chamas pela Palavra e faz os pés partirem em missão. A CFE é uma das formas da vivencia da espiritualidade quaresmal convidando-nos a fazer o caminho de Emaús, caracterizado pelas seguintes paradas;

Primeira parada: ‘o ver’, que é um convite para confessar sobre os acontecimentos de nossa historia e se são opções coerentes com a Boa-Nova do Evangelho.

A segunda parada, ‘o julgar’ pois a partir da inspiração bíblica somos chamados a viver bem as coisas e os acontecimentos. O texto de Emaús tem presentes que Jesus pôs-se a mesa pronunciou a benção com o pão e lhes deu (Lc 24,30). O texto bíblico de Efésios (2,14a) Cristo é a nossa paz na superação dos muros das intolerâncias.

Terceira parada: ‘o agir’ é a prática de ações a partir do CONIC para derrubar os muros das divisões. São exemplos de alegria semelhantes aos discípulos de Emaús que voltaram para Jerusalém para contar a Boa-Nova: Cristo ressuscitou, a vida triunfou, e não a violência.

Quarta parada: ‘o celebrar’ é o momento de celebrar diversidade na criação que é revelação do amor de Deus para com a humanidade. Somos unidos na diversidade em Cristo Jesus. Paulo Apóstolo passou de perseguidor a anunciador da Boa-Nova do Evangelho de Cristo promovendo a unidade e a diversidade ente a comunidade, e a superação dos preconceitos entre judeus e gentios.

Primeira parada: trocando impressões sobre os acontecimentos mais recentes. Quando os discípulos de Emaús voltaram para as suas casas debateram os últimos acontecimentos a respeito da condenação, morte e ressurreição de Jesus de modo que ouviram tantas historias a respeito de sua ressurreição, das mulheres que contaram que viram o Senhor, de Maria Madalena que viu Jesus ressuscitado a Pedro e outra tantas. Acreditaram ou não nessas historias? E hoje temos certeza e dúvidas sobre crises e sofrimentos de tantas pessoas. O final de 2019 e inicio de 2020 e ao longo de 2020 o mundo ficou marcado pela pandemia global, da Covid-19 que ceifou milhões de pessoas, muitas historias interrompidas, morte de lideranças indígenas, populares, comunitárias, religiosas. Não podemos ficar alheios a tanto sofrimento e dor. Ainda que não seja a primeira pandemia da historia da humanidade e não será sem duvida a ultima, muitos fatores nos imobilizam, dão incertezas, desestruturam o nosso modo de vida, tendo a esperança dos avanços da medicina com uma vacina para melhorar e amenizar o dado social. A Pandemia da Covid-19 coloca a finitude humana, a nossa fragilidade, nossa vulnerabilidade e nosso potencial autodestrutivo. Muitas impressões que podemos colher da Pandemia estão aquelas de religiosos afirmarem ao fim do mundo com a pandemia, volta de Jesus onde as pessoas estavam de joelhos pedindo conversão por ser um sinal de que Jesus está voltando. Algumas igrejas reivindicaram o direito de permaneceram abertas contrariando as normas sanitárias de isolamento social, evitar as aglomerações e até surgiu a discussão que as igrejas deveriam continuar abertas por ser uma das atividades essenciais. Ora fica uma pergunta essencial de que é mais importante o templo aberto e as celebrações numerosas ou o serviço ao próximo e à próxima? Se por um lado algumas igrejas pressionaram para serem abertas, outras igrejas assumiram o testemunho de cancelar as atividades presenciais fazendo via on line as celebrações e as pessoas podiam acompanhar em casa. Surgiu o desafio da realização de rituais, que exigiam o encontro presencial como o sepultamento e o acompanhamento a pessoas enlutadas. Alguns discursos negacionistas sobre a fatalidade da Covid-19 estiveram presentes em algumas autoridades, assim como a negação da ciência, da ONU, da OMS. Outras pessoas levantaram teorias conspiratórias de que a Covid 19 fora desenvolvida em laboratório na China, contribuindo pela xenofobia. As fronteiras foram fechadas. No Brasil a pandemia expôs o pais as desigualdades e estratificação racial, econômica e social. As milhares de mortes não sensibilizaram as pessoas ao isolamento social. O Brasil retornou ao mapa da fome, ao desemprego massivo, a violência de mulheres, pessoas negras, indígenas, as pessoas lgbtqi+ foram bem expostas pela pandemia.

Durante a pandemia ocorreram além das mortes pelo Covid-19, mortes pela violência através das policias ou de facções criminosas. Durante a pandemia existiu também a questão das trabalhadoras domésticas se deveriam ir ou não ao trabalho. Muitos casos de feminícidos ocorreram durante a Pandemia que entre os meses de março e abril de 2020 tiveram 195 mulheres assassinadas. São dados que exigem o diálogo, a superação da violência. Ocorreram em parte na sociedade manifestação de racismo, ódio aos pobres e egoísmo. O povo no geral teve a Renda Básica Emergencial, graças à sociedade civil organizada. Houve o auxílio emergencial. No entanto uma pergunta foi levantada no sentido de sua durabilidade, até quando, porque segundo o Ministério da Economia a renda básica emergencial implicaria em custo elevado para o Estado. Desta forma como os discípulos de Emaús, diante dos acontecimentos estamos parados e rostos sombrios (Lc 24,17b).

A conversão do caminho: Jesus se fez companheiro daqueles discípulos de modo que sabia de tudo, mas quis fazer com eles a reflexão sobre o tempo em que viviam para que compreendessem os fatos marcantes que se deram em Jerusalém.

As tensões estão presentes nas famílias, nas comunidades e na sociedade. Talvez uma das questões dos discípulos de Emaús era continuidade da experiência maravilhosa que Jesus fez no meio deles. Mas isso era impossível porque Jesus deveria passar para a casa do Pai.

É preciso dialogar sobre os acontecimentos de nosso tempo, acolher diferentes percepções e assim superar o que nos divide. O Brasil vive uma efervescência de novos movimentos sociais com ressonâncias políticas, sendo resultados de colapsos de sistemas econômicos que requerem transformações nas relações sociais, em nível nacional e global. Desde a CFE 2016 muitas foram as transformações sócias, no qual se aprofundaram os acirramentos de disputas partidárias, desencantamento entre lideranças políticas e religiosas, as reformas impopulares a Trabalhista, a seguridade social, a lei do teto de gastos que afeta os investimentos públicos, sobretudo a saúde e educação. Houve o aumento do desemprego, da pobreza, aprofundando ainda mais as desigualdades sociais, o conflito ente grupos políticos, a proliferação das fake news, noticias falsas e de discursos de ódio. A sociedade brasileira vive momentos difíceis por causa dos muros construídos como do racismo, das desigualdades econômicas, dificuldade de conviver com opiniões e ataque às instituições. As pessoas recorrem ao Sagrado como sinal de proteção. É preciso dizer que as lideranças e as pessoas que compõem a comunidade de fé fazem parte do mundo em crise. Os momentos de comunhão são afetados pelas polarizações da sociedade. As pessoas que freqüentam as comunidades de fé são afetadas pelas crises da sociedade, porque tanto em suas casas como em suas comunidades de fé sofrem os efeitos de medidas econômicas, de arrocho salarial, de crédito, de comercio fechado ou pouco aquecido.

Os peregrinos de Emaús tiveram que informar ao viajante a injustiça cometida pela condenação e morte violenta de um inocente que foi Jesus. Eles também revelaram contradições, duvidas, com o relato das mulheres que foram ao túmulo, não encontraram o corpo de Jesus, mas encontraram anjos que anunciaram que ele estava vivo (Lc 24, 22-23). O seguimento a Jesus exige discernimento diante das dúvidas, crises e contradições.

  1. Em tempos de crise: contemplar a realidade com agilidade de coração. Diante dos fatos narrados pelos peregrinos Jesus reagiu afirmando que eles eram de espíritos sem inteligência, de corações tardos em crer tudo o que os profetas declararam (Lc 24,25). Jesus foi fiel ao projeto de Deus, de sua Aliança de modo que o resultado foi a condenação à morte por viver a Palavra e tudo isso o colocou em contradição aos poderes de seu tempo. Ainda que próximos de Jesus, os discípulos não compreenderam os fatos, de modo que nós não podemos ficar desorientados na realidade em que estamos inseridos, as vezes com sinais de mortes. O século XXI é marcado pela garantia de direitos humanos, mas ainda assim permanecem estruturas racistas e excludentes. Um exemplo disso foi a crise econômica de 2008 que levou milhões de pessoas à pobreza, no qual os bancos foram socorridos e os pobres, não. Da mesma forma neste tempo de pandemia, os bancos foram socorridos enquanto milhões de pessoas empobrecidas, não. O dinheiro que deveria ir para saúde, educação, emprego, moradia foi desviado para o sistema econômico. As conseqüências disto foram os altos índices de desemprego, forme, intolerância. Para isso criaram-se falsos inimigos como os direitos humanos, os povos indígenas, as religiões de matriz africana e os muçulmanos.

As pessoas reagem diante da situação de pobreza, insegurança com pessoas fragilizadas, o pobre culpa o pobre por ser pobre, mas não pensa que o sistema está jogando as pessoas contra as pessoas, contra o imigrante com o falso argumento que os imigrantes roubam os empregos de brasileiros, que os quilombolas recebem de graça terra, de modo que tudo isso aumenta o ódio, a violência. As forças políticas e econômicas vão se organizando com soluções falaciosas como armar a sociedade e privatizar serviços essenciais como o acesso ao saneamento básico e a água potável como falso argumento que todos terão água. Enquanto isso o 1% mais rico da sociedade não abre mão de seus privilégios, protegidos por um sistema perverso. Alguns discursos defendem a meritocracia, a teologia da prosperidade, havendo a promessa que as pessoas pobres por maior que sejam os seus esforços poderão fazer parte da camada mais rica da sociedade. As pessoas impactadas tendem a pensar na continuidade das desigualdades sociais enquanto deveriam pensar na sua transformação. Algo semelhante ocorreu com o povo hebreu que no processo de libertação e saída do Egito queria voltar atrás, na situação de escravidão. Sempre que passavam por situações de fome, sede dúvidas de lideranças preferiam voltar atrás do processo de libertação, na escravidão no Egito, que buscar saídas reais para crise. Nesses temos de dificuldades e crises, as pessoas que ameaçam a concentração e riqueza, patrimônio status social são vistas como inimigas. As pessoas que estão de exclusão, vulnerabilidade tendem a sofrer ainda mais. Neste tempo de pandemia da covid 19 o capital se aproveitou dos bens comuns como nossos rios são poluídos, nossas florestas são derrubadas, trazendo como conseqüência o surgimento de doenças desconhecidas. Junto com o poeta português Cardeal José Tolentino Mendonça oramos pedindo que o Senhor nos livre do vírus do pânico disseminados, do desânimo, do pessimismo, do isolamento interior, da comunicação vazia, da impotência das noites sem fim porque Ele nos colou como sentinelas da aurora.

  1. Fraternidade e diálogo: novas cruzes não são respostas para a paz. A cruz era um instrumento de violência na época de Jesus e no império romano. O poder se utilizava da religião para manter a segregação. Jesus questionou as estruturas de poder, as desigualdade como conseqüência de um poder segregador. Este sistema de segregação e descarte de pessoas permanece ainda hoje. Seria uma espécie de necropolitica quando o Estado não adota políticas efetivas no combate à Covid 19, contra a juventude negra, mulheres, povos tradicionais, imigrantes, povos indígenas, grupos lgbtqi+, todas e todos por causa de preconceito e intolerância, classificados como não cidadãos, inimigos do sistema. São muitas as cruzes em nosso pais como a violência, mortes de pessoas jovens, homicídios, mortes violentas com causa indeterminada (mvci). Os homicídios masculinos cresceram muito em diversos lugares do pais. Os índices de homicídio estão mais presentes na população negra que braça. Em 2018, os negros representaram 75,7% das vítimas de homicídio. O Atlas da Violência 2020 coloca as taxas de homicídios para as pessoas negras aumentou 11,5% enquanto para a população não negra ocorreu uma diminuição de 12,9% nos índices de homicídio, de modo que uma pessoa não negra tem mais chance de morrer do que uma pessoa não negra. Em relação à mulheres, a realidade não é diferente. Em 2018 4.519 mulheres foram assassinadas, representando uma taxa de 4,3 homicídios para cada 100 mil habitantes. Entre 2008 e 2018, o Brasil teve um aumento de 4,2% nos assassinatos de mulheres que alguns Estados a taxa é alta como Ceará, Roraima, Acre. Em relação aos locais, observem-se que a residência foi o local de mortes de mulheres, sendo feminícidios que o Atlas da Violência 2020 demonstrou num crescimento de 6,6% em relação a 2018 referente ao ano interior. Vemos que a residência é o local de mulheres vitimas de homicídio. Estes dados estão presentes na morte de mulheres negras e não negras que aumentou nas mulheres negras sendo 5,2% por 100 mil habitantes enquanto foi 2,8% por mil habitantes entre as mulheres não negras. Nos estados do Ceará, RGN, Paraíba, as taxas de homicídios de mulheres negras foram quase quatro vezes maiores do que as de mulheres não negras.

Esses números mostram o quanto a sociedade está estruturada no racismo e no patriarcado, porque as pessoas negras em pouco acesso às políticas públicas são vitimas da violência e da repressão policial. Em São Paulo o número de mulheres aumentou por ocasião da pandemia no ano de 2020 em relação ao ano de 2019. Em relação as reformas da Lei trabalhista e da Previdência social foram ataques às mulheres em seus longos anos de lutas, porque elas são as primeiras a serem demitidas e muitas mulheres domésticas são mulheres negras não tendo os seus direitos garantidos. Os dados mostram onde as pessoas são atingidas pela violência, sobretudo as mulheres negras e indígenas de modo que a libertação das mulheres passa pela discussão da propriedade privada, da laicidade do Estado e da teologia, de um patriarcado que impõe a vida na sociedade. Outro grupo social que sofre violência é a população lgbtqi+ nas quais o Atlas da Violência de 2020 coloca a morte de muitas pessoas ligadas ao lgbtq+, por homicídios, discursos de ódio, fundamentalismo religioso que não reconhecem o direito dessas populações e de outros grupos perseguidos e vulneráveis. Uma das falsas notícias que fortalece a violência é retórica de que os direitos humanos servem para defender bandidos, de modo a fragilizar os instrumentos institucionais que contribuem para a justiça.

A anistia internacional sobre os direitos humanos nas Américas coloca o Brasil na violência por homicídios cometidos por policiais em serviço, a grave crise ambiental na Amazônia, os povos indígenas, quilombolas, morte de ativistas de direitos humanos com o objetivo de restringir políticas que ajudem estes povos. O Brasil está entre os quatro países que juntos somam 80% dos assassinatos de ativistas por direitos humanos no mundo, como ocorreram com Marielle Franco, o seu motorista Anderson Gomes, Paulo Paulino do povo Guajajara e outros três guardiões da Floresta do território arariboia MA. Muitas chacinas são recorrentes no Brasil atingindo pessoas em vulnerabilidade econômica, social sem muitas vezes soluções e os responsáveis não são punidos. Com esta situação de violência existe uma realidade semelhante a dos tempos do profeta Habacuque que na torre de vigia clamava de ver a violência por toda a parte de modo que perguntava até quando aquelas coisas iriam acontecer, estando ele cercado por pessoas que discutem e brigam o tempo todo (Hab 1,2-3).

  1. Violência nunca será a saída. A violência é refletida na casa comum, o planeta terra. Há sempre mais pelo sistema o capital dos bens comuns de apropriação das águas, florestas, minérios, terras, que é um sistema de descarte. A catástrofe ambiental continua dando os sinais como as temperaturas globais aumentando, incêndios florestas, o aumento da temperatura das águas dos oceanos, o derretimento das geleiras. A terra está sendo atingida de modo que valem as palavras do profeta Joel que clamava a todos pela escassez de alimentos, águas para as pessoas e para os animais (Jl 1,10; 1,16-20).

É urgente reduzir a emissão de gases produtores do efeito estufa, bem como o descarte de rejeitos em áreas de floresta nos rios e nos oceanos. O meio ambiente está sendo atingido. Entre agosto de 2018 e julho de 2019, houve um aumento de 29,5% do desmatamento na Amazônia, alterando ecossistema local as chuvas e favorecendo as queimadas, as invasões, o extrativismo ilegal e violento de modo que os povos tradicionais, os povos indígenas estão entregues a sua própria sorte, muitas lideranças indígenas que morreram pela pandemia da covid 19 no Estado do Amazonas. A APIB: Articulação Brasileira dos Povos Indígenas do Brasil contabilizou mais mortes de indígenas por ocasião do Covid 19, sendo 418 até o inicio de Julho e mais de 11 mil casos confirmados. A violência contra a terra e os povos originários é alimentado por um discurso reativo com o intuito de que missionários invadem territórios indígenas, deslegitimam o modo de viver a sua fé, associando-o a algo demoníaco, mas no fundo querem liberar os territórios originários e tradicionais para as mineradoras e outros interesses econômicos.

  1. Racismo e violência religiosa. O Brasil é um pais plural do ponto de vista cultural, étnico e religioso. A impressão era que vivíamos num paraíso racial. No entanto o mito da democracia racial caiu por terra, porque, por exemplo, a população carcerária é maiormente negra. Até julho de 2020, cerca de 882.309 pessoas privadas de liberdade em penitenciárias federais e estaduais, cadeias públicas, delegacias. Esses dados colocam o Brasil na 3ª posição do ranking mundial em número de pessoas encarceradas. Esta população encarcerada é de pardos, pretos, brancos, sendo a faixa etária de jovens, estando entre 18 e 24 anos, portanto é uma população mais da metade de jovens. A grande maioria desta população é analfabeta, muitos fizeram o ensino médio, enquanto outros tem um ensino superior. Estes de fato são os excluídos da sociedade.

A violência está também em grupos de preconceito étnico e racial, e casos de xenofobia foram registrados no Brasil durante a pandemia de Covid-19. Ocorreu a morte de um imigrante angolano por causa da discussão ao auxilio emergencial que para alguns não teria direito de acessar esse recurso. Tivemos no Brasil casos de intolerância religiosas contra tradições de matriz africana denunciados como racismo religioso. Este tipo de violência mostra a fragilidade de praticar o mandamento de não violentar o estrangeiro (Ex 22,21) e que o próprio Cristo Jesus pede de seus discípulos, que era estrangeiro e as pessoas o acolheram (Mt 25,35). Em contextos de fundamentalistas e de extremismos, a população negra e os povos indígenas devem viver a sua tradição religiosa. Mis de 12 milhões de pessoas africanas forma embarcadas nos navios negreiros para serem escravizadas, e pelo menos 1,8 milhão dessas pessoas morreram na travessia do Atlântico. Essas pessoas foram seqüestradas de suas famílias, sua cultura, e com o apoio da religião muitas vezes, nas quais não foram reconhecidas como seres humanos, mas como escravos. Escravização e racismo são cruzes fincadas entre populações negras e indígenas para a manutenção de privilégios para uma elite restrita, branca cuja riqueza veio da escravização de pessoas africanas. Tanto para o povo negro como para o povos indígenas a religiosidade tradicional significa a resistência e é fonte de vida de modo que não se deve atacar essas tradições em nome da fé cristã nas quais rompe com o projeto de paz e a fé em Jesus Cristo. A intolerâncias religiosa é um muro alimentado pelo racismo, o fundamentalismo de mercado e a xenofobia. A mensagem de Jesus é a derrubada de muros. Ele quer o bem de todos nós e de todas as pessoas que abrem os nossos olhos as desigualdades promovidas em nome da fé em Jesus Cristo. Nós precisamos de profecias que anunciem a esperança, que gerem vida e ano violência. Os discursos sejam de paz, de amor e não de ódio e a prática da violência. A fé em Jesus Cristo, nos anima à esperança de modo que pedimos a graça de renascer na esperança, onde não existem mais raças, muros da cor e todos louvamos Nosso Senhor.

Segunda parada: “Carta para pessoas de boa vontade em um mundo cheio de barreiras e divisões”. 1. Ficou com eles, abriram os olhos e o reconheceram. Compartilhar uma experiência, perceber a mão amorosa e cuidadora de Deus na história de vida de pessoas é fortalecer a esperança, potencializa a paixão pela vida e humaniza. É sempre bom relembrar as coisas para as coisas que nos mantém em pé e nos fortalece em meio as adversidades. Deuteronômio (6,20-21) colocou a pergunta das pessoas sobre a prática das leis, as pessoas dirão que o povo de Israel foi escravo um dia n o Egito e o Senhor os fez sair da escravidão do Egito. Pentecostes marcou a Igreja cristã e esta igreja continua na historia testemunhando a ação de Deus na pessoa de Jesus Cristo (Lc 4,16-30) de modo que é preciso ver o que Jesus ensinou, fez, sofreu e ressuscitou dos mortos. As vezes pela fé se fomenta a vida ou se mata. Por isso é sempre bom perguntar pelo seu conteúdo, pelos seus valores. O lema da CFE 2021 foi tirado da Carta à comunidade de Éfeso, cidades do Mediterrâneo. Estava em curso a paz romana, do Império romano na qual não era possível qualquer organização para não sofrer repressão. A paz de Cristo é diferente daquela romana. Após a morte e ressurreição de Jesus muitas coisas aconteceram na vida das comunidades registradas no livro dos Atos dos Apóstolos. Ocorreram adesões, conflitos, perseguições. Há via também o conflito entre as pessoas cristãs oriundas do judaísmo e as vindas de outras etnias, chamadas de gentios, pagãos. Quando alguém assumia a mensagem do evangelho deixava de lado a sua vida passada, e havia um processo de conversão.

As cartas paulinas testemunharam o esforço das comunidades nesta nova vida e a vontade de Deus a respeito dos novos convertidos ao cristianismo. Algumas pessoas acompanhavam Paulo nas comunidades como Tecla, Barnabé, Áquila, Priscila, Apolo, Timóteo entre outros. Essas pessoas não se preocupavam tanto pela observância da lei, mas aceitavam o Evangelho derrubando o muro da separação e construíram um mundo de comunhão na gratuidade do amor de Deus que acolhe e perdoa (Rm 8,1-4.31-32; At 4,36-37; Ef 2,17-18;3,6). No ano 68 d.C. ocorreram guerras civis pelo Império romano como a perseguição a pessoas cristãs em Roma (64 d.C.), o massacre dos judeus em diversas partes do Império e a revolução judaica na Palestina no ano de 66 d.C. que levou em 70 d.C. a destruição de Jerusalém. Nesse contexto, judeus e cristãos perderam direitos e muitos foram martirizados de modo que a razão do martírio era adesão inconcidional à causa de Jesus que conflitava à dominação do Império. O livro dos Atos dos Apóstolos mostrou que os interesses das pessoas convertidas era contra os que sustentavam o império e ao evangelho (13,50; 15,5-19). As pessoas que abraçavam a fé em Jesus Cristo eram a minoria mas mesmo assim ameaçavam o império. Todos os apóstolos morreram mártires, exceto João de modo que a morte dos apóstolos exigiu a renovação das lideranças e do conhecimento do movimento histórico de Jesus, para mantê-la viva na oração comunitária.

Depois dos anos 70 d.C. surgiram diversas doutrinas como o gnosticismo que causavam instabilidade. No fim do primeiro século ocorreram diversas perseguições e sob o governo de Domiciano, os cultos de mistério e o cristianismo eram Religio Illicita, religião ilícita. Ainda que as comunidades eram diferentes entre si, mas todas acreditaram em Jesus de Nazaré como o Cristo, o Filho de Deus. Viviam a solidariedade a partilha (At 2,42). A vida em comunidades e a convivência com a estrutura do mundo Greco-Romano ameaçavam a fidelidade ao projeto proposto de evangelização proposto pelo Apóstolo Paulo. As comunidades da Ásia Menor formadas por pessoas oriundas do judaísmo e por grupos de pessoas originarias de religiões politeístas enfrentavam o desafio de conviver de uma forma pacífica de modo que o Apóstolo Paulo insistia na unidade na diversidade ao afirmar na Carta aos Efésios que não havia judeu, nem grego, nem escravo e nem livre, nem homem e nem mulher mas todos eram um em Cristo Jesus (3,28). Não era fácil este ideal entre judeu-cristãos e gentio-cristãos, pois para as pessoas judias convertidas ao cristianismo a lei era fundamental de modo que nova Aliança trazida por Cristo tornou universal a Lei, o que não era verdade porque Jesus superou a antiga lei colocando a nova pelo amor misericordioso de Deus.

  1. A diversidade que conduz à unidade. A carta à comunidade de Éfeso é uma orientação para a superação do dilema que dividia os cristãos, em vista da unidade em Cristo pelos grupos que estavam divididos e formavam a comunidade: o dos judeu-cristãos e o dos gentio-cristãos. Na Carta aos Efésios Paulo reforça a idéia de que Cristo é a Cabeça do Corpo e nós somos membros (Ef 1,3-14). O corpo deve ser bem constituído e tudo favorecer o crescimento em vista do amor cuja cabeça é Cristo, a comunidade. Jesus Cristo é o centro, unificando a comunidade e apesar das diferenças todos são convocados à experiência do amor que une a todos.

A fé em Jesus Cristo é o vinculo da unidade de todas as pessoas e todos devem realizar obras de perdão e de amor (Ef 1,3-8), sendo Ele, a pedra fundamental do edifício que é o Cristo. Os cristãos devem trabalhar em comunhão em vista da solidariedade e do amor mútuo.

  1. Como e o que testemunhar. “Cristo é nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14). Essa frase é uma confissão de fé em Jesus Cristo não sendo motivo para divisões e conflitos, mas é inspiração para a convivência e o diálogo. Ele fez um só povo de ambos os povos. A parede de separação que dividia no pátio no templo de Jerusalém de um lado estavam os judeus e de outro os pagãos, foi derrubada por Cristo Jesus porque Ele é a nossa paz. A partir de então, as pessoas podem viver em comunhão e diálogo plenos. Na terra habitada, oikoumene, a voz do apostolo Paulo é testemunho de conciliação, pois a liberdade não deve ser motivo para conflitos.

A afirmação de que Cristo é a nossa paz confessa que em Cristo não há lugar para a violência e o racismo, para ódio e discriminação. A palavra paz em grego é eirene, em hebraico, shalom e no aramaico sholom nas três línguas possui um significado de superação das violências, discriminações, plenitude de vida, conseqüência de relações equânimes entre o ser humano e com Deus. Cristo é aquele que garante as relações de equidade e acolhida entre os povos. Para a cultura hebraica, sobretudo no Sl 128 a paz é dom de Deus, vida plena que devemos desejar para todos os povos. Para as tradições dos povos indígenas a vida pacifica são bem viver, sinal do Reino de Deus. Fraternidade e diálogo são expressões importantes na vida dos cristãos. Fraternidade e diálogo são desafios de amor. Acreditamos que Cristo é a esperança do estabelecimento da fraternidade e da paz. É importante ver a seguir algumas lições da carta.

  1. Enraizados no amor misericordioso de Deus revelado em Cristo Jesus! A igreja nasce da graça misericordiosa de Deus revelada em Cristo (Ef 2,4-5); a igreja é sinal de salvação para a humanidade. A cara coloca que Deus é Mistério de modo que não há como definir a totalidade de Deus com palavras humanas. A igreja como corpo de Cristo deve esforçar-se para expressar a unidade na diversidade. A carta expressa a síntese da reflexão que estão em toda a própria sorte de que Deus é a fonte de toda a benção em Cristo, que foi derramada sobre nós, de modo que oremos: bendito seja Deus que nos abençoa em Cristo. 1ª bênção: Deus nos escolheu antes da fundação do mundo (1,4); 2ª bênção: Deus nos predestinou para sermos seus filhos (1,5). 3ª benção: Deus nos libertou, perdoando e derramou sua graça (1,7-8). 4ª benção: em Cristo tudo conflui, o céu e a terra (1,9). 5ª benção: em Cristo nos tornamos herdeiros (1,11). 6ª benção: no Espírito Santo temos o penhor de nossa herança e salvação (1,13-14). A benção no sentido bíblico, é a comunicação de vida, dada por Deus em Cristo Jesus. Os cristãos não devem se combater entre eles porque isso não convém ao Senhor e à Igreja.
  2. O evangelho é força de Deus que derruba os muros, O evangelho da graça e da misericórdia é a força de Deus que derruba os muros do preconceito e possibilita as pessoas e os povos a partilharem juntas o pão. A fé em Jesus não coaduna um grupo ser superior ao outro (Ef 2,1-10). Não é possível estar com Deus e discriminar as outras pessoas por causa das suas diferenças étnicas, religiosas e de gênero.

Efésios teve presentes a abolição da separação entre os não circuncidados, gentios, e os circuncidados, judeus. Em Cristo, essa divisão foi eliminada, pois todas as pessoas são iguais diante dele. Agora todos estão próximos em Cristo (Ef 2,11-13). Cristo é a pedra angular do templo santo do Senhor. A carta também coloca importância de que os pagãos são admitidos à mesma herança, membros do mesmo corpo, associados a Cristo Jesus Cristo, por meio do Evangelho (Ef 3,6). O muro que dividiu os povos foi derrubado em Cristo Jesus de modo que a boa-nova deve superar os ódios, exclusivismos, preconceitos e exclusões.

  1. Cristo é a nossa paz! Nós encontramos no evangelho de Mateus (5,9) que a pessoa que promove a paz é chamada filho e filha de Deus, de modo que a paz é o dom do Ressuscitado e é Lea que derruba os muros de separação e reconciliar as pessoas inimigas (Ef 2,11-14). O evangelho é a promoção da paz. Jesus chorou sobre Jerusalém porque ela desconheceu aquele que poderia lhe prover a paz (Lc 19,41s). A paz, shalom, é uma expressão bíblica que expressa a realidade da salvação, no Príncipe da paz (Is 9,6; Mq 5,4-5). Amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam (Sl 85,8-14). Isso é a certeza da presença de Deus no meio do seu povo que impele os valores do amor, verdade e justiça. A historia da salvação tem uma dimensão social que judeus e gentios são reconciliados porque reconhecem Deus como Pai, e assim todos são adotados, porque o Pai de Jesus Cristo é também Pai de todas as famílias (Ef 3,15). A paz em Cristo, é a superação da inimizade e do ódio, promove a unidade. A paz permite cuidar e reconstruir a convivência social, porque nós somos da família de Deus, irmãos e irmãs (Ef 2,19).

O apostolo quer levar as pessoas a não ficar crianças na fé, mas adultos na fé em Cristo, de modo que a maturidade cristão em Jesus Cristo é capacidade de amar todas as pessoas próxima de uma forma incondicional. Não há critérios para amar porque Deus ama toda a humanidade. Nós devemos na cabeça que é Cristo Senhor e a viver o amor de verdade (Ef 1,4), a zelar pela unidade(4.1-6) e viverem no fortalecimento do amor (3,17-19). Os ensinamentos no evangelho nos comprometem à prática do Amor (Jo 15,12-13), do diálogo (Lc 19,1-10), do perdão (Lc 11,1-4).

  1. O orgulho religioso levanta muros. O autor da carta aos Efésios teve presentes também os gentios para que eles também não repetissem o erro das comunidades judias no sentido de levantar muros, de serem orgulhosos das coisas. Por isso o apostolo diz que é por graça que sois salvos em Cristo Jesus não pelos seus méritos mas por Jesus Cristo. A unidade é possível entre judeus e não judeus como uma obra de Deus (2,9-10), sendo participantes da criação, do projeto divino de vida.
  2. A paz em Cristo. Se somos obra do amor de Deus, em Cristo os muros da inimizade construídos pelo orgulho, pelo ódio, foram derrubados de modo que Cristo é a nossa paz; do que era dividido fez uma unidade (2,14ª ). Com a sua vida destruiu o muro da separação, do ódio. Ele criou um homem novo, a partir do judeu e do pagão, estabelecendo assim a paz (2,15). Desta forma como é importante a convivência com os irmãos e irmãs de diferentes confissões, porque com Cristo tudo muda, sendo agora em Cristo um só corpo (2,16b). Em Cristo, a boa-nova da paz é oferecida a todas as pessoas para a superação da violência, da divisão na unidade que se realiza pelo Espírito Santo (Ef 2,18). Uma nova humanidade é possível.
  3. Criação e uma nova humanidade. O Espírito Santo anima e vivifica as comunidades cristãs. É o Espírito que nos anima para que percebamos que não somos mais estrangeiros, nem migrantes mas somos concidadãos dos santos sendo da família de Deus (2,19). Esta nova humanidade florescendo sob o Espírito Santo tem como fundamento os apóstolos, os profetas e o próprio Jesus Cristo como pedra angular (2,20ª), de modo a formar um templo santo no Senhor (2,21). Ele nos coloca na inclusão , sendo moradas de Deus, pelo Espírito (2,22). Ainda que haja contradições, voltemos ao encontro, a conversa, a comunhão, o sorriso e a esperança, sendo um amor que nos provoca a assumir a reconciliação e a paz.

Em Cristo somos um só povo unido na diversidade. A casa comum deve ser um lugar para a felicidade de todos os seres vivos. As comunidades cristãs são este espaço para concretizar a Boa-Nova de que somos protagonistas de histórias sem discriminações, preconceitos e violências. Uma nova comunidade busca a vivencia do boa-nova do evangelho, não se afastando da mesma, para assim ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-16).

É preciso deixar de lado formas impositivas, desiguais, orgulhosas e interesseiras de ser. A Boa-Nova exige o bem viver. O discipulado a Jesus implica em assumir o compromisso de cooperar e comprometer-se com a nova humanidade em Cristo Jesus. Com a paz de Cristo somos solidários, solidarias, praticamos o diálogo, vivemos relações justas e de amor, de modo que Deus nos liberta para o amor e não para o ódio. Oremos para que a nossa vida seja iluminada pelo Senhor para vivermos o chamado do Senhor, a santidade, a extraordinária grandeza de seu poder por nós (Ef 1,17-19). Existem entre nós experiências de paz e de amor. Muitos muros foram derrubados a partir da fé em Jesus Cristo e pontes de diálogo e aproximação tem sido construídas, O agir nos ajude conhecer ações que testemunhem com gestos concretos que Cristo é a nossa paz e que sejam promotoras do bem.

Terceira parada: Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade.

A fé em Jesus Cristo nos compromete a derrubarmos os muros das divisões. Pelo batismo é preciso uma convivência nas comunidades que expressem a unidade na diversidade. Existem práticas que testemunham a construção de pontes para o diálogo. Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade (Ef 2,14ª ). Nesta parada compartilhares boas práticas da caminhada ecumênica. Será importante que se façam nas comunidades, regiões de pastorais nos quais estamos inseridos. Veremos alguma abaixo:

1 Promoção do diálogo ecumênico – Semana de oração pela unidade cristã. Sendo promovida pelo Pontificio Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI) a semana de oração pela unidade cristã (SOUC) acontece no hemisfério sul, no período de Pentecostes. Ela é celebrada na unidade da diversidade pela nossa fé em Jesus Cristo, onde diferentes igrejas celebrando os dons do Espírito Santo com as suas especificidades, rezando uns pelos outros. No Brasil, a semana de oração é organizada pelo CONIC que adapta o material para o nosso contexto. Uma prática muito comum da semana de oração pela unidade cristã é a partilha dos púlpitos onde a pessoa visitante fará a homilia ou pregação possibilitando o conhecimento da igreja visitante e criando laços de amizade. A semana de oração é um exemplo de testemunho público da unidade na diversidade.

  1. Convivência inter-religiosa. A diversidade religiosa é uma das belezas do Brasil. Mas o texto coloca o racismo religioso que é a intolerância dirigida para religiões de uma determinada raça e etnia. Tudo isso está em referencia às religiões de matriz africana. Em 2016 em Brasília houve um terreiro incendiado, fruto da intolerância. Nesse terreiro se desenvolvia projetos com jovens pobres, vida que seguia para frente. Houve solidariedade do Conic e o Congresso Nacional da Juventude em ajudar a mãe de santo e teve a plantação de uma árvore, pau Brasil naquele local.
  2. Superação da violência: realização das missões ecumênicas. A primeira ocorreu no Mato Grosso do Sul em solidariedade ao povo Guarani Kaiowa. Sabe-se que os povos indígenas sofrem violência, discriminação.

 As suas terras são cobiçadas pelos grandes conglomerados econômicos ligados à mineração e ao agronegócio. O povo guarani Kaiowa do Mato Grosso do Sul sofre agressão envenenamento da água potável, assassinatos, ameaça permanente de perda de seus territórios. Este povo sofre agressão de modo que passou por uma profunda depressão e havendo a perda do sentido da vida muitos acabam no suicídio. Em 2015 e 2016 houve uma missão ecumênica de solidariedade aos Guarani Kaoiwa, juntamente com o CEBI e outras organizações. Essa experiência fez refletir a importância de superar a imposição de uma religião a um povo com fins proselitistas. Deu-se a importância do valor da vida deste povo indígena, de sua espiritualidade e de seu território. Em cada comunidade havia a acolhida, as orações, as escutas. Houve também a partilha dos alimentos.

As missões contribuíram para o fortalecimento de suas reivindicações, reconstrução das casas de reza destruídas e uma amizade que permanece. As pessoas saíram desta missão fortalecidos de que Cristo é nossa paz de modo que é preciso zelar pela paz das pessoas e povos ameaçados. Foram realizadas missões ecumênicas em Pau D’Arco no Pará e nos povos kaigang e Guarani do RGS.

  1. Superação da violência contra mulheres. Alguns encontros de mulheres de uma forma ecumênica. Nós sabemos que na bíblia diversas mulheres estiveram presentes no ministérios de Jesus e de Paulo, e relatadas também no evangelho de Joao, sobretudo Marta, Maria, Maria Madalena, Priscila, Lidia. Essas historias passaram muitas vezes ao esquecimento. Nós sabemos a importância das mulheres na vida da igreja e tambpem na questoa financeira de modo que elas não tem espaço de liderança. Em 2016 ocorreu um encontro ecumênico Mulheres, direito e justiça: um compromisso ecumênico. A preparação do encontro colocou a importância da mulher na vida da igreja, a sua pastoral, a sua maneira de ser na pregação e na atividade eclesial. O encontro ocorreu em São Paulo nos dias 17 a 20 de Novembro. Houve também uma analise sobre a violência e o silencia mento sofridos pelas mulheres na cidade. Foi um encontro marcado por profundos momentos de espiritualidade e cumplicidade. Houve também um encontro nacional onde se fez memória também de muitas mulheres vitima do feminícidio.
  2. Cuidado da casa comum. Em 2016 ocorreu a CFE com o tema: casa comum – nossa responsabilidade e o lema: quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca (Am 5,24). A Campanha envolver a questão do saneamento básico, água potável de qualidade. Muitas iniciativas foram realizadas como a participação no Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama). Neste fórum marcou-se presença com boas praticas sobre a água, a historia das tradições religiosas e espirituais ligadas à água, que ela não pode ser privatizada, comercializada, que é um bem comum dado por Deus para todos. Evangelização e missão são testemunho das Igrejas, fundamentado nos princípios evangélicos com pleno respeito e amor ao próximo e à criação. Nós devemos pedir perdão por todas as vezes em que promovemos disputas e agressões em nome da fé, de modo que precisamos de uma forma permanente da graça de Deus (Rm 3,23). Nós sabemos que muitos grupos realizam boas práticas ecumênicas. Que a CFE: “Fraternidade e diálogo – compromisso de amor” e do lema: “Cristo é a nossa paz do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14ª ) contribua para um caminhar em fraternidade, diálogo e compromisso de amor, edificando pontes.

Quarta parada: Celebrar Orientações para a celebração. Neste período em que o ódio e a intolerância estão crescendo em relação ao que é diferente, temos uma CFE que vem realçar a paz de Cristo e celebrar as coisas de uma forma ecumênica. Ela poderá ser de uma forma presencial quanto via internet. Ela poderá ser também moldada à realidade e possibilidades. A celebração poderá ter um quadro simbolizando a construção de um muro e também poderá ser lido o texto do Cardeal José Tolentino Mendonça.

Liturgia de Entrada

Hino da CFE, Acolhida, Invocação, momento penitencial, anúncio da graça, Hino: renascer na esperança, Oração do dia: Oração da CFE 2021, Liturgia da Palavra: Primeira leitura: Efésios 2,13-17; Leitura do Evangelho: Mateus 5,1-12, Reflexão, Confissão de fé: Cristo é a nossa paz, Ofertório: Coleta para o Fundo Ecumênico de Solidariedade (FES), Hino para a coleta/oferta, Intercessões, Pai Nosso ecumênico, oração da paz, Benção final, Ciranda da paz com o canto :momento novo.

Coleta da solidariedade; a CF expressa-se pela coleta da solidariedade realizada no domingo de ramos, sendo um gesto concreto da fraternidade, partilha e solidariedade, realizado em âmbito nacional em todas as comunidades cristãs, paróquias e dioceses. A coleta da Solidariedade é parte integrante da CF.

Dia Nacional da Coleta da Solidariedade: Domingo de ramos, 28 de março de 2021. Bispo, padres, religiosos, religiosas, lideranças leigas, agentes de pastoral, colégios católicos e movimentos eclesiais são os principais motivadores e animadores da CF. todos devem participar deste gesto importante. A Igreja se reconhece servidora do Deus da vida. O gesto fraterno da oferta tem um caráter de conversão quaresmal, sendo um tempo marcado pelo amor e pela valorização da vida.

A coleta da solidariedade com ou sem envelope deve ser encaminhada à Diocese. Do total arrecadado pela coleta da solidariedade, a Diocese deve enviar 40% ao Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), gerenciado pela CNBB. A outra parte permanece nas dioceses para atender aos projetos locais, pelos respectivos Fundos Diocesanos de Solidariedade (FDS).

Cartaz da CFE – 2021

Nós proclamamos que Cristo é a nossa fé, é também a identidade visual da CFE 2021, expressando a comunhão dos diversos dons e carismas presentes nas comunidades de fé. São dons que se movimentam por meio de uma ciranda onde não há um primeiro nem último, onde todos se unem buscando o mesmo compasso, a mesma sintonia, unidas as pessoas das Igrejas, mulheres e homens de boa vontade. Entre uma criança e um cadeirante há um espaço para dizer que podem existir mais pessoas que desejam entrar no diálogo. O lema bíblico está entre dois mosaicos que sinalizam a centralidade da Palavra de Deus que nos une e indica a beleza da unidade na diversidade. No mosaico da esquerda, de forma discreta, encontramos o traço de uma cruz vazia, símbolo do Cristo que vence a morte. Cristo Ressuscitado nos convida a testemunhar a paz como resposta para um mundo de muros e polarizações. Nele somos chamados a edificar pontes de fraternidade. A fé nos anima ao diálogo enquanto compromisso de amor. A fé é a certeza que nos une nos envia à missão como bem nos lembra a canção: Baião das comunidades. Somos gente novo vivendo a união, somos semente de uma nova nação. Somos gente nova vivendo o amor, somos comunidade, povo do Senhor. Vamos para a ciranda do amor!

Oração da Campanha da Fraternidade Ecumênica – 2021

Deus da vida, da justiça e do amor, nós te bendizemos pelo dom da fraternidade e por concederes a graça de vivermos a comunhão na diversidade. Através desta campanha da Fraternidade Ecumênica, ajuda-nos a testemunhar a beleza do diálogo como compromisso de amor, criando pontes que unem em vez de muros que separam indiferença e ódio. Torna-nos pessoas sensíveis e disponíveis para servir a toda a humanidade, em especial, aos mais pobres e fragilizados, a fim de que possamos testemunhar o Teu amor redentor e partilhar suas dores e angústias, suas alegrias e esperanças, caminhando pelas veredas da amorosidade. Por Jesus Cristo, nossa paz, no Espírito Santo, sopro restaurados da vida. Amém!

[1] V Campanha da Fraternidade Ecumênica. “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a). “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”. Edições CNBB, Brasília – DF, 2020. Síntese feita por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

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