Marabá, 27 de outubro de 2025

A messe é grande e as pessoas trabalhadoras são poucas em Santo Agostinho

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V fez a interpretação da Palavra de Deus do evangelista São Lucas na qual Jesus disse aos seus discípulos que é preciso pedir ao dono da messe para que envie mais pessoas para a messe, pois a messe é grande e as pessoas trabalhadoras são poucas (cfr. Lc 10, 2). Vejamos como foi a análise do Bispo de Hipona, Santo Agostinho em vista da atuação e oração pelas vocações.

Os setenta e dois discípulos.

O evangelista São Lucas acrescentou aos doze discípulos, outros setenta e dois discípulos onde Jesus os enviou dois a dois na messe já pronta, e, necessitada de pessoas na evangelização. A messe na qual é falada pelo Senhor, segundo Santo Agostinho seria o povo dos judeus. O Senhor da messe enviou para ele os ceifeiros, enquanto para as gentes, para outros povos, Ele enviou os semeadores. Como é que foi justificada a diferença? O fato era que a messe cresceu no povo dos judeus, dos quais dentre estes o Senhor escolheu os apóstolos. Nestes locais e terras já era madura a colheita na qual fora semeada, porque também os profetas haviam semeado e no tempo de Jesus pediu que se rezasse para o aumento de pessoas na messe 

O cultivo de Deus.

Santo Agostinho afirmou que é bom contemplar o cultivo de Deus, alegrar-se pelos seus dons e trabalhar no seu campo. Ele disse ainda que neste cultivo trabalhou o Apóstolo São Paulo que afirmou que ele tinha doado mais que todos os outros apóstolos, das quais as forças vinham do Dono da messe: o Senhor Jesus. Desta forma o apóstolo disse que não era ele, mas a graça de Deus que atuava nele (cfr. 1 Cor 15,10). O Bispo dizia que a diferença de Paulo e de Pedro era que o apóstolo Paulo fora enviado para os pagãos, sendo semeador, enquanto para o apóstolo Pedro seria enviado entre os judeus, circuncisos (cfr. At 15,7), sendo ceifador.

A messe entre dois povos.

A messe, o cultivo de Deus deu-se em dois momentos: uma já passada, e a outra futura. Se a passada foi com o povo dos judeus, a futura será dada entre os povos pagãos. Na atualidade é preciso anunciar e viver a dimensão do Reino de Deus com pessoas disponíveis, vocacionadas, de modo que é preciso pedir mais pessoas à messe.

Jesus enviou os seus discípulos afirmando a eles que não estariam isentos de perseguições ao afirmar que eles iriam como ovelhas em meio aos lobos (cfr. Lc 10,3). Santo Agostinho afirmou também o encontro de Jesus com a mulher samaritana, quando Ele disse para ela ser o Messias esperado por todas as pessoas. Ela disse que o Messias, o Cristo deveria chegar pois foi anunciado por Moisés e pelos profetas (cfr. Jo 4, 25-26). A messe estava bem presente em Moisés e os profetas como semeadores enquanto os apóstolos seriam os ceifadores. A mulher acreditou nas palavras do Senhor de que Ele era o Messias e por isso ela deixou o balde perto do poço e foi anunciar ao seu povo que encontrou o Senhor. Se ela tinha a idéia da vinda de Cristo, no entanto ela acreditou na sua vinda porque ela o viu de modo que acreditou porque outras pessoas semearam antes pela vinda de Jesus Cristo. Na verdade, trabalharam Abraão, Isaac, Jacó e os profetas semeando palavras e ações à vinda do Senhor, de modo que quando chegou o Senhor, a messe já estava madura, sendo necessitados de ceifeiros

O semeador é o Senhor.

Jesus é o semeador, porque sem ele não é possível fazer nada (cfr. Jo 15,5). As sementes caíram em diversos terrenos como aquele ao longo do caminho, em meio às pedras, entre os espinhos e por fim na terra boa, de modo que é preciso acolher a Palavra de Deus para produzir ações boas que enalteçam o Senhor e o Reino de Deus (cfr. Mt 13,23). Todo o povo de Deus é chamado a semear, plantar, acolhendo docilmente a presença do Senhor para que de fato a messe tenha as pessoas operárias que trabalhem e fazem frutificar a vida pelo Reino de Deus.

O desprendimento das coisas.

Jesus recomendou aos discípulos o desprendimento de muitos bens para não levar sacola e outras coisas (cfr. Lc 10,4-6). A pessoa que anuncia o Senhor para outras pessoas é chamada a ser uma pessoa de paz para aquela casa, seus moradores (cfr. Lc 10,5). Se Jesus pede de seus discípulos o desprendimento é porque Ele quer que eles não caíam no orgulho, na soberba, na vaidade de que façam as coisas por atitudes individuais, mas sim por vida comunitária. As pessoas missionárias eram chamadas à abertura do espírito, para que todos amem a missão e tenham vez e voz na vida comunitária, familiar e no Reino. Se o Senhor pediu fidelidade também no desprendimento para não saudar nenhuma pessoa ao longo do caminho, era porque a saudação comprometia um tempo precioso que deveria ser dado ao Evangelho, a boa nova da salvação, ao anuncio do Reino de Deus, da pessoa de Jesus Cristo (cfr. Lc 10,4).

Os pregadores do Senhor.

O Senhor desejou que os seus discípulos fossem os seus pregadores, anunciando a boa nova do Reino, a salvação. Eles eram chamados a pregar a paz e possuí-la pela presença do Senhor, não ficando apenas no discurso, mas porque a possuía em si, deveriam transmiti-la pelo contato com Jesus. A paz na terra é amor, caridade entre as pessoas e os povos através da ação evangelizadora que cada pessoa cristã é chamada a fazer com alegria e com amor porque Jesus está com os seus discípulos, que os enviou, envia hoje em missão porque a messe é grande e os operários são poucos. Para isso o Senhor pede de toda a pessoa seguidora dele, a oração para que mais pessoas trabalhem na missão, no anúncio da paz, do Reino de Deus aqui e agora e um dia na eternidade.

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