Por Dom Vital Corbellini – Bispo de Marabá – PA.
O Senhor Jesus Cristo nasceu em uma família humana, tendo como pais adotivos José e Maria. Se Ela foi fundamental para o Senhor Jesus Cristo, o é também na vida pessoal, comunitária e social de todos nós seguidores de Jesus Cristo. A vida familiar é graça de Deus e responsabilidade humana. Precisamos zelar pelas famílias, porque Deus criou o ser humano para viver na unidade e não na divisão, no divórcio.
O Instrumento de Trabalho tem presente a família, ponto a ser debatido no Sínodo sobre a Amazônia que teremos em Roma, Outubro próximo. Diz que a família é local de muitas vivências, de vários conhecimentos e práticas em diferentes campos, como a agricultura, a medicina, a caça, a pesca, sempre em harmonia com Deus, com a natureza e com a comunidade. É na família que se transmitem os valores da reciprocidade, da solidariedade, do trabalho, do amor entre as pessoas. Faz parte também da herança familiar os trajes, a alimentação, línguas e ritos, de modo que é que na família que se aprende a viver em harmonia entre os povos, gerações e com a natureza (IL, n. 75).
Mas do ponto de vista amazônico a família foi vitima do colonialismo e de um novo colonialismo no presente. No passado, a família foi qualificada como selvagem ou primitiva. No momento atual a imposição de um modelo econômico ocidental extrativista atinge as famílias, invadindo e destruindo suas terras, suas culturas e suas vidas, tendo como conseqüência para as cidades e periferias. As mudanças da época moderna afetam a família amazônica, com novos formatos tais como a responsabilidade da mulher na família, aumento de famílias separadas, diminuição de casamentos a partir do matrimonio eclesial. Constata-se o aumento da violência intra familiar, mas sobretudo os assassinatos de mulheres muitas vezes dados por seus companheiros, a exploração sexual infantil, o crescente número de adolescentes grávidas e de abortos (IL, n. 77). Temos também o assassinato de agricultores sem terra. Muitas famílias sofrem a pobreza, a precariedade da habitação, a falta de emprego, o consumo de drogas, discriminação, a falta de apoio à saúde dos povos indígenas. Mas é muito importante o trabalho da evangelização da Igreja no sentido da família na realidade amazônica. Deve-se fortalecer sempre mais a estrutura comunitária, familiar dos povos. As políticas públicas devem favorecer a identidade familiar e coletiva para promover o bem comum. Há também o ECC: Encontro de Casais com Cristo, serviço muito importante na vida eclesial que prepara casais para a Pastoral familiar na vida da comunidade e da sociedade. Neste sentido, a Pastoral familiar está trabalhando em nossas comunidades, paróquias, dioceses, para favorecer a unidade na família, preparando os casais para assumirem o matrimônio cristão, católico, constituindo famílias unidas, participativas e que se queiram bem. O IL fala de articular uma pastoral familiar que siga as indicações da Exortação Apostólica Amoris Laetitia que acompanhe, integre e não exclua a família ferida, que console a todos, e que possa formar agentes de pastorais que leve em consideração os recentes sínodos e a realidade amazônica, e que a família seja a protagonista da história (IL, n. 79, d). Vemos a importância da família no contexto amazônico e eclesial porque tudo nasce da família e a nossa vida de seguidores de Jesus Cristo tem como ponto fundamental a família. A Sagrada Família de Nazaré abençoe a todas as famílias sobretudo aquelas do contexto
amazônico.