Marabá, 10 de dezembro de 2024

A adoração ao Deus Uno e Trino na vida humana a partir dos Padres da Igreja.

05 de junho de 2020   .    Notícias da Diocese

A Igreja convida os seus fieis a manter-se numa atitude de adoração frente ao mistério de Deus Uno e Trino. Deus é um só e é em três pessoas nas quais nós vivemos e adoramos o seu grande mistério, procurando a realização de sua vontade. Vejamos estas ideias em alguns padres da Igreja, os primeiros escritores cristãos.

            Santo Hilário de Poitiers, Bispo do século IV, afirmava que a Igreja recebeu com ensinamentos espirituais a fé, evangélica e apostólica, a confissão do Pai, do Filho, do Espírito Santo, a esperança da vida eterna. Confiamos no mistério de Deus sem abandonar a fé em um só Deus e sem deixar de anunciar Cristo como Deus. A partir dos evangelhos adotamos esta ordem para ensinar o verdadeiro nascimento do Deus unigênito, de Deus Pai, pelo qual é Deus verdadeiro e não é alheio à natureza do único e verdadeiro Deus. Ele afirmou que quem o viu, viu o Pai (Jo 14,9). Com o nome do Pai, indicou seu nascimento. Ensinou que se conhece o Pai quando Ele é conhecido, manifestou a unidade da natureza, quando se vê a Ele, vê-se o Pai, dando testemunho de que é inseparável do Pai porque permanece no Pai, que permanece nele. Portanto não são dois deuses, ou com o Espírito Santo, três deuses, o que foi gerado num, nada difere do outro do qual nasceu, foi gerado, de modo que ambos não possam ser um só. O Espírito Santo está na unidade da Trindade.

            O Senhor fez-nos compreender quem Ele era, pois ensinou ter saído de Deus, disse que o Pai estava com ele, afirmando ter vencido o mundo e que quando fosse glorificado pelo Pai, declarou que usaria o poder que recebeu para dar a vida eterna a toda carne. Ele disse que a vida eterna é esta que as pessoas conhecessem ao Pai, o Deus único e verdadeiro e aquele que foi enviado pelo Pai, Jesus Cristo (Jo 17,3). Há uma unidade verdadeira entre o Cristo, o Filho de Deus e o Deus que está acima de tudo do Deus verdadeiro, o único Deus do Senhor Jesus. Em relação ao Espírito Santo, o Bispo de Poitiers afirmou que o Filho de Deus falou que o Pai enviaria pelo seu pedido e que receberia dele, de modo que receberia também do Pai, ou que, ao receber do Pai, porque também Ele receberia do que é seu. Tudo o que é do Pai é do Filho, e não se deve pensar que o que o Espírito recebe do Filho não é recebido também do Pai, visto que se deve entender que tudo o que é do Pai é também do Filho.

            Santo Atanásio, bispo de Alexandria, do século IV teve que se defrontar contra os arianos os quais negavam a divindade do Verbo de Deus. Por isso ele teve que afirmar a unidade na Trindade e a geração eterna do Filho em relação ao Pai. Ele dizia que há uma só Trindade Santa e perfeita, reconhecida com Deus no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Não é criada, mas Criadora, indivisível por natureza. Na realidade o Pai faz todas as coisas através o Verbo no Espírito, e assim é salvaguardada a unidade da Trindade Santa ao mesmo tempo em que na Igreja é anunciado um só Deus que está sobre todos, age em todos e está em todos. Assim ele descarta a ideia do Logos como intermediário para a criação do mundo que Ário, contrariando a sua teoria que defendia que a criatura era incapaz de suportar a mão do Pai e como conseqüência teria criado antes o Filho ou o Verbo, como um intermediário para a criação do mundo. O Bispo de Alexandria dizia que todas as coisas devem ser reportadas ao ser do Pai junto com o Filho, ou mesmo se todas as coisas vem ao ser através do Filho, nós não devemos chamar ele mesmo um dos seres criados. Assim ele demonstrava que a geração divina é diferente da geração humana por motivo da indivisibilidade de Deus. O ser do Filho é no Pai. O Pai é no Filho, porque aquilo que é próprio do Pai é aquilo que o Filho é, ou seja, contemplar o Pai. Eles possuem a mesma natureza. O esplendor é também a luz. O Pai e o Filho são uma só coisa e única divindade. E há um só Filho, porque somente ele pode exaurir a fecundidade do Pai. Quem afirma o semelhante na substância não caracteriza aquilo que vem da substância, mas quem fala de consubstancial abraça o sentido das duas expressões semelhante na substância e da substância. Em relação ao Espírito Santo, Atanásio afirmou  a divindade do Espírito Santo. O Espírito Santo é Deus, uma vez que se fosse criatura nós não teríamos nele nenhuma participação divina. Desta forma aqueles nos quais este se encontra, são divinizados. Se ele diviniza, ninguém pode duvidar que a sua natureza não seja aquela de Deus. Além disto o Espírito Santo faz parte da Trindade Santa e esta é homogênea, Ele não é criado, mas é Deus. Ele é como o Filho; Consubstancial, ao Pai. Ele diz que o Espírito Santo procede do Pai, através do Filho.

            São Basílio Magno, Bispo de Cesaréia, no século IV afirmou pelas expressões por quem poderiam ser aplicadas às três pessoas da Santíssima Trindade. Quando o Apóstolo Paulo afirma que é fiel o Deus por quem fostes chamados à comunhão com o seu Filho (1 Cor 1,9). Como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai (Rm 6,4). É possível mencionar o emprego da preposição ao Espírito; a nós, porém, Deus o revelou pelo Espírito (1 Cor 2,10). São Basílio afirmou a adoração ao único Deus em três pessoas.

            Santo Agostinho, bispo de Hipona, nos séculos IV e V, afirmou a unidade em Deus e também a diversidade das pessoas, a Trindade. Era preciso afirmar a eternidade pela qual Deus não tem principio nem fim: conseqüentemente é incorruptível. É uma e a mesma coisa quando se diz que Deus é eterno, imortal, incorruptível e imutável. A sua essência é única. O Verbo é o Filho unigênito de Deus Pai, igual ao Pai, Deus de Deus, luz da luz, sabedoria da sabedoria, essência da essência, é o que é o Pai, mas não é o Pai, porque ele é o Filho e aquele é o Pai. Portanto, o Pai e o Filho se conhecem mutuamente. Aquele gerando, e este sendo gerado. O Espírito Santo, conforme as Escrituras, não é somente o Espírito do Pai, nem somente o Espírito do Filho, mas de ambos. E essa certeza insinua-se a nós acerca dessa caridade mútua com que o Pai e o Filho se amam mutuamente. Quando dizemos que Deus é caridade, verificamos se a referencia é ao Pai ou ao Filho ou ao Espírito Santo ou a toda Trindade, que não é três deuses, mas um único Deus.

            A nossa vida está nas mãos de Deus Uno e Trino. Anunciamos este mistério tão envolvente, tão infinito e ao mesmo tempo próximo de nós, que mora em nossos corações. Adoremos este mistério para que possamos fazer sempre a sua vontade em nossas palavras, ações e um dia vivamos com ele na eternidade. Deus Uno e Trino seja louvado pelas suas maravilhas.

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

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