Marabá, 27 de julho de 2024

O Sínodo da Amazônia a serviço da vida.

21 de agosto de 2019   .    Notícias da Diocese

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA

Como diz a Episcopalis Communio, do Papa Francisco o Sínodo deve ser um instrumento privilegiado de escuta do Povo de Deus. Suplica-se ao Espírito Santo para que os padres sinodais tenham a graça da escuta de Deus, para estar em comunhão com Deus pelo grito do povo, escuta do povo de Deus (EC, n.6; IL, Introdução).
O sínodo da Amazônia desenvolver-se-á num item norteador, ao redor de outros é claro, que é a vida, naquilo que se trata do próprio território, os seus povos, a Igreja, a vida do planeta, a vida percebida como dom de Deus. Esta vida também se identifica com as águas, os rios. De uma forma particular, o Rio Amazonas é como uma artéria do continente que flui como veia da flora, da fauna, como manancial de milhares de pessoas, povos, de suas culturas, e de suas expressões espirituais. Pela água, fonte de vida, tudo se interliga a criação, os seres humanos, Deus Criador. A água não separa, mas une a todos os povos e suas línguas (IL, n. 8).
Deve-se frisar que as bacias do Rio Amazonas nutrem os solos, regulam os ciclos da água, energia e carbono em nível de planeta. Há um dado importante que o rio Amazonas lança todos os anos no Oceano Atlântico, quinze por cento de água doce do planeta. A Amazônia é essencial para a distribuição das chuvas em outras regiões da América do Sul e contribui para outros lugares do planeta. O Rio Amazonas alimenta a natureza, a vida de milhares de comunidades indígenas, camponesas, quilombolas, ribeirinhos, populações no campo e populações nas cidades (IL, n. 9). Além do Brasil, o território da Amazônia abrange outros países como Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela Guiana Suriname e Guiana Francesa numa extensão de 7,8 milhões de quilômetros quadrados, praticamente no coração da América do Sul. Este território contém uma das biosferas mais ricas do planeta (IL, n. 10).
Jesus nos diz que veio para que as pessoas tivessem vida e vida em abundância (Jo 10,10), uma vida salvífica. Na Amazônia podemos dizer que ela também se manifesta pela biodiversidade, pelas culturas, pelos povos que nela vivem. Devemos anunciar a Jesus Cristo, a boa nova do Reino de Deus, denunciar as situações de pecado, as estruturas de morte, a violência, e fomentar o diálogo, entre todas as pessoas, o intercultural, inter-religioso e ecumênico (DAp, n. 95; IL, n. 11).
A busca da vida por parte dos povos indígenas na Amazônia concretiza-se no bem viver, que é a harmonia consigo mesmo, com a natureza com os seres humanos, com o Ser Supremo, o Criador de todas as coisas. Este dado da vida é caracterizado pela harmonia de relações com a água, a natureza, a vida comunitária, a cultura, Deus. Para eles o bem viver é também bem fazer, nas quais há uma conexão nas dimensões materiais e espirituais. Muitos deles falam de caminhar numa terra sem males, ou em busca do santo monte, imagens que refletem a noção comunitária da existência humana com a divina (IL, ns. 12, 13). Porém, esta vida na Amazônia está ameaçada pela destruição ambiental, pela violação dos direitos dos povos originários, como o direito do território, à demarcação de terras, poluição de rios, exploração de minérios nos territórios dos povos indígenas. A ameaça deriva de interesses econômicos, políticos, setores dominantes da sociedade atual, muitas vezes em conivência com as autoridades locais, nacionais e das autoridades tradicionais, como nos fala o texto, dos próprios indígenas (IL, n. 14). As vezes existem os assassinatos de lideres do território, de pessoas de Igreja, de mártires, a apropriação de bens da natureza, concessões de madeireiras legais e ilegais, pela caça e pesca predatórias, por hidrelétricas, estradas e ferrovias nos projetos das grandes empresas por minério, manganês e outros produtos naturais, pela contaminação dos rios causando enfermidades às crianças dos povos indígenas, violência contra pessoas do campo e da cidade, sobretudo da mulher, os desmatamentos e as queimadas do solo e da floresta. Tudo isso está gerando um desequilíbrio local e no clima em geral. A Igreja, seguidora de Jesus Cristo, se levanta contra essas agressões com voz profética, pelo cuidado com a vida, opondo-se à cultura do descarte, da exploração e da agressão. Os próprios indígenas clamam a todos para que cessem os maus tratos e o extermínio da Mãe Terra (IL, n. 17). Se existem as ameaças e também as agressões contra natureza e aos povos da Amazônia, existem muitas pessoas de Igreja e de toda a sociedade, que acreditam em Deus, pessoas de boa vontade que lutam pela vida humana, desde o seu inicio até o seu ocaso, pela vida da natureza, pelas florestas, pelos rios, pelos povos indígenas, pelo povo da Amazônia. Como seguidores de Jesus Cristo é preciso denunciar as formas de morte e anunciar o dom da vida em tudo o que interessa a glória de Deus Uno e Trino. O Sínodo da Amazônia será uma voz pela vida em relação ao ser humano, à natureza e com Deus.

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